No segundo dia do 23o ISOJ (Simpósio Internacional de Jornalismo Online), quatro jornalistas dedicados à abordagem de diversidade, equidade e inclusão (DEI) compartilharam suas impressões no painel “Diversity in newsrooms and in the news: Cultural change, content audits and other initiatives” (“Diversidade nas redações e nas notícias: mudança cultural, auditorias de conteúdo e outras iniciativas”).
Charo Henríquez, editora de desenvolvimento e apoio à redação do jornal The New York Times (EUA); Flavia Lima, editora de diversidade e secretária-assistente de redação para a diversidade na Folha de S.Paulo (Brasil); e Keith Woods, diretor de diversidade na rádio pública NPR (EUA), conversaram com mediação de Manny Garcia, editor executivo do jornal Austin American-Statesman (EUA).
Garcia iniciou a conversa questionando os panelistas sobre a mudança cultural dentro das redações e o estímulo ao desenvolvimento das carreiras dos jornalistas por parte das empresas de notícias.
“Gerenciar mudanças tem sido parte do que fazemos como uma geração de jornalistas que estão introduzindo mudanças digitais nas redações”, disse Henríquez. Ela acrescentou que a equipe de desenvolvimento e apoio à redação do NYT tem trabalhado “para garantir que temos os conjuntos de habilidades certas e não recompensar constantemente as mesmas coisas, não oferecer desenvolvimento e ajudar a elevar na hierarquia as pessoas que têm as mesmas habilidades, as mesmas origens e a mesma compreensão do jornalismo, mas sim construir novos caminhos para talentos que abordam o trabalho de maneira diferente, porque a indústria está mudando. Quem trazemos [para a redação], e não apenas quem trazemos, mas como encaminhamos a mudança a partir de dentro, também precisa mudar.”
Para Woods, um aspecto importante para tornar a cultura organizacional de empresas jornalísticas mais inclusiva é normalizar o debate sobre diversidade, “para que se torne algo além de um exercício anual de riscar um item de uma lista em algumas organizações ou um gerenciamento de crise”, disse ele.
“Instituímos conversas quinzenais sobre raça como algo regular na NPR agora no ano passado. Incorporamos as ideias de diversidade em todos os treinamentos, para que não seja algo que você faz depois de ter sido treinado em como escrever uma matéria e como usar um microfone e todas as outras coisas que podem fazer parte do seu trabalho. Para mudar a cultura, você tem que investir com força contra a desigualdade e a exclusão. Você não pode criar uma cultura em que você fala sobre algo e depois não faz nada a respeito”, disse Woods.
Lima comentou algumas mudanças introduzidas pela Folha no sentido de mudar a cultura da empresa em prol de tornar mais diversas a redação e o conteúdo produzido pelo jornal. Entre elas estão a realização de um censo demográfico da redação e uma pesquisa interna sobre a diversidade das fontes e da produção jornalística, “para nos ajudar a avaliar onde estamos e onde queremos chegar”, assim como a criação de um comitê formado por 16 jornalistas, coordenado por Lima, “cujo papel é apresentar as demandas de inclusão aos gestores e ampliar os canais de comunicação entre a redação e a liderança”.
“Também promovemos iniciativas de bem-estar, como ter um psicólogo disponível para os jornalistas de segunda a sexta-feira, principalmente durante a pandemia, e um banheiro de gênero neutro”, disse Lima.
Woods comentou que a NPR realiza uma pesquisa anual sobre a diversidade de suas fontes desde 2013. A primeira edição da pesquisa encontrou que, naquele ano, 80% das fontes da NPR eram pessoas brancas e 28% eram mulheres. A partir disso, a meta foi diversificar as fontes de modo a “parecer e soar como os Estados Unidos”, disse ele.
“Nos últimos dois anos, começamos a fazer um rastreamento muito mais em tempo real de nossas fontes e, de fato, criamos um software para nossa organização há um ano para nos permitir rastrear as fontes como parte do fluxo de trabalho regular em nosso sistema de gestão de conteúdo. Criamos essa ferramenta que permite que você coloque suas fontes no sistema quando estiver começando a escrever sua história digital ou em áudio, onde você precisa colocar essas informações [sobre as fontes]”, contou Woods. Ele também compartilhou os dados mais recentes sobre a diversidade de fontes da NPR, referentes a 2021: 69% foram pessoas brancas e 41% mulheres.
Henríquez observou que, para além dos números, “são os sistemas que precisam mudar”.
“Sempre que falamos sobre diversidade, é sobre ‘precisamos contratar mais pessoas de cor’, e isso é fantástico. Essa é uma parte. Mas essa não é a resposta para a pergunta. O que acontece quando os jornalistas estão na sua redação? Como você está desenvolvendo suas carreiras? Como você está oferecendo mobilidade? Como você os está treinando e elevando suas reportagens? O mesmo vale para a nossa cobertura. Estamos falando apenas com fontes não brancas quando estamos cobrindo comunidades não brancas? Estamos falando apenas com vítimas não brancas, mas com especialistas que não são de comunidades não brancas?”, questionou.
“Trata-se de entender como estamos fazendo nosso jornalismo, como estamos contratando e quem é nosso público. Então, quando falamos sobre diversidade, equidade e inclusão, é sobre os sistemas que temos em vigor. É sobre comunicação. É sobre todo o processo”, afirmou Henríquez.