Em audiência de conciliação entre a Folha de S.Paulo e os irmãos Lino e Mario Bocchini, criadores do Falha de S.Paulo, na última quinta-feira, 26 de maio, a advogada representante da publicação paulista fez uma proposta para que o site satírico voltasse ao ar. Para isso, qualquer conteúdo que caracterize o projeto gráfico do jornal não pode mais ser usado, informa o Desculpe a nossa falha, blog da dupla para explicar a ação judicial.
Para os Bocchini, as restrições da proposta inviabilizam a paródia. “É como alguém falar assim: 'olha, você pode parodiar o Lula, mas não pode usar barba postiça, voz rouca, terno, nem ser barrigudo. Ah... também não pode ser baixinho e nem falar com a língua presa. Tirando isso, fique à vontade!'”, criticaram.
Os autores do blog formularam contraproposta, em que o site voltaria com seu conteúdo satírico, mas com uma mensagem em destaque 'Isto não é um jornal' ou 'Isto não é a Folha'. "Seria um aviso do lado do logotipo para resolver a preocupação deles, de que o leitor possa se confundir", explicou Lino, citado pelo Consultor Jurídico. A audiência terminou sem um acordo sobre o caso.
A ação da Folha alega uso indevido da marca pelos blogueiros criadores do site. Do outro lado, os irmãos destacam que a ação é censura. Disputas à parte, desde que foi obrigada judicialmente a sair do ar, a sátira tem gerado discussões sobre liberdade de expressão e propriedade intelectual na internet.
O assunto teve repercussão internacional, com críticas ao jornal feitas por instituições de defesa da liberdade de expressão, como Global Voices, Repórteres Sem Fronteiras e Electronic Frontier Foundation. A ombudsman da Folha, Suzana Singer, também criticou a decisão do veículo de acionar o blog judicialmente, o que definiu como um “micaço”.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.