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Chargista é o primeiro comunicador no Equador chamado a prestar contas sob a polêmica Lei de Comunicação

Charge de Xavier Bonilla publicada em 28 de dezembro de 2013 no jornal equatoriano El Universo.

Charge de Xavier Bonilla publicada em 28 de dezembro de 2013 no jornal equatoriano El Universo.

 

 

Por Norma Garza

Uma charge humorística sobre a invasão à casa de um jornalista com o argumento de buscar supostas denúncias de corrupção levou o chargista Xavier Bonilla, que assina como Bonil, a se tornar o primeiro comunicador chamado a comparecer na Superintendência de Informação e Comunicação, após sete meses de existência da agência criada pela nova Lei de Comunicação no Equador.

O chamado para prestar contas se baseou em um informe da Superintendência que acusa Bonil de deturpar a verdade e promover agitação social com a charge publicada no El Universo no dia 28 de dezembro do ano passado, feita em alusão ao caso de Fernando Villavicencio, jornalista e assessor de um parlamentar da oposição.

A caricatura, junto à legenda “Polícia e Promotoria invadem domicílio de Fernando Villavicencio e levam documentação de denúncias de corrupção”, criticava o que ocorreu na noite de 26 e na madrugada de 27 de dezembro, segundo descreveram os afetados e vários meios de comunicação.

Bonil respondeu com sete páginas nas quais explica os fundamentos de seu trabalho e ressalta que “não se pode considerar ou exigir que uma charge como criação humorística esteja sob a forma de representação fiel e imparcial da realidade. Constitui uma forma de opinião humorística gráfica, por isso sujeita à perspectiva tanto de quem a realiza, como de quem a observa".

José Hernández, diretor adjunto do site de notícias Hoy, criticou a ação governamental contra Bonil em seu artigo “Temos que rir com um advogado do lado?", observando que “quando o poder quer tornar os humoristas politicamente corretos, irremediavelmente constrói peças risíveis de antologia”.

O presidente equatoriano Rafael Correa se referiu a Bonil como um “assassino de tinta e doente” e se gabou de ter “uma Lei de Comunicação que nos defende. Por mais que se disfarcem de chargistas jocosos para destilar seu ódio”.

Este não é o primeiro conflito entre o mandatário e o chargista, já que há um ano, durante a campanha que o levou à Presidência, Correa se queixou perante a Comissão Nacional Eleitoral pela publicação de uma charge que considerou danosa à sua imagem e exigiu do El Universo uma réplica e uma retratação. O jornal não se desculpou, mas publicou a queixa do então candidato, que um ano antes havia ganhado um ação por difamação contra o veículo, a qual condenou três diretores e um ex-editorialista a três anos de prisão e ao pagamento de 40 milhões de dólares. Depois, Correa pediu a anulação da sentença.

César Ricaurte, diretor da Fundação Andina para a Observação e Estudo de Meios (Fundamedios), ressaltou que o principal agressor da imprensa é Correa. “O Presidente mantém um constante e sistemático discurso estigmatizante contra jornalistas e meios de comunicação. Qualificou com os mais duros adjetivos jornalistas, em seu programa os identifica com seus nomes e sobrenomes e exibe suas fotografias. Faz isso quando não gosta de alguma crítica ou coluna de opinião”.

O próximo passo no caso Bonil é uma audiência em que as partes apresentarão suas provas, evidências e documentos pertinentes. Ao término de uma semana, a Superintendência deverá emitir a sanção ou arquivar a causa.

A Superintendência da Informação e Comunicação é um “organismo técnico de vigilância, auditoria, intervenção e controle” com capacidade sancionatória e a tarefa de investigar denúncias e supervisionar o cumprimento da Lei de Comunicação.​

A controversa lei foi aprovada no ano passado e amplamente criticada por organizações internacionais desde então. Human Rights Watch assegurou que a lei cerceia a liberdade de imprensa e, de acordo com um alerta da OEA, criou um efeito intimidatório ao instaurar a figura jurídica do “linchamento midiático”.

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