O capítulo venezuelano da organização internacional Chicas Poderosas lançou recentemente um workshop sobre análise de dados e programação, além de uma "hackathon" de dados públicos.
As jornalistas venezuelanas Yelitza Linares, Carmen Riera e Nathalie Alvaray, da empresa de consultoria Sinergia, Diseño e Innovación (SDI) são as representantes, ou "embaixadoras", da Chicas Poderosas na Venezuela.
Elas organizaram o workshop (nos dias 25 e 26 de novembro) e o "hackathon" (nos dias 28 e 29 de novembro) como o primeiro evento de jornalismo de dados da Chicas Poderosas no país. O Instituto de Imprensa e Sociedade (IPYS) da Venezuela também colaborou.
O movimento Chicas Poderosas começou em 2013 como um projeto voltado para as mulheres nos meios de comunicação digitais da América Latina. Hoje, é uma rede global com presença em 11 países da região, com planos para se expandir ainda mais.
O objetivo da fundadora, a designer interativa e animadora gráfica Mariana Santos, de Portugal, é capacitar as mulheres profissionais de comunicação, promovendo sua educação digital.
Riera disse ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas que, para o workshop anterior ao hackathon, 25 mulheres jornalistas que trabalham em meios de comunicação na capital e no interior do país foram selecionadas da base de dados do IPYS Venezuela. Essas mulheres tinham certa experiência ou treinamento em jornalismo de dados.
"Com o IPYS Venezuela, propusemos que (o hackathon) se traduzisse em histórias, por isso tivemos um workshop além do hackathon", acrescentou Riera.
O workshop foi conduzido pela jornalista brasileira Natalia Mazotte, coordenadora da Escola de Dados do Brasil e diretora de organização de jornalismo de dados Gênero e Número, que se concentra em questões de gênero.
Um dos grandes obstáculos com o jornalismo de dados na Venezuela que Mazotte notou durante o workshop foi a falta de acesso e desatualização da informação pública no país.
"O governo não registra os dados (públicos), portanto, não os organiza nem os libera para acesso público. Para mim, este é o grande desafio do jornalismo de dados na Venezuela", disse Mazotte ao Centro Knight.
Por isso, a jornalista brasileira explicou que durante o workshop foi difícil tentar aplicar e desenvolver na Venezuela exemplos de projetos de jornalismo de dados realizados no Brasil e em outras partes do mundo.
Neste sentido, comentou Riera, "na Venezuela não há lei de acesso à informação pública (...) as bases de dados que existem são feitas por jornalistas, e são feitas por meio de relatórios ou reportagens".
A presença da Chicas Poderosas no país, refletiu Riera, promoverá ainda mais o treinamento e a inovação entre jornalistas venezuelanos.
"É uma série de ferramentas que vão servir ao jornalismo, à democracia e aos cidadãos na Venezuela. Este é o objetivo fundamental de ter trazido a Chicas Poderosas e ter sido capaz de fazer este evento aqui", disse ela.
O hackathon, que, ao contrário do workshop de análise de dados estava aberto ao público (com limite de 50 vagas), visava a treinar jornalistas em ferramentas tecnológicas. O evento foi realizado com o objetivo de ajudá-las a desenvolver soluções tecnológicas que facilitam o acesso a dados públicos para cidadãos e jornalistas.
Assim, além das jornalistas, hackers e programadoras também foram convidadas, que contaram com o apoio de duas escolas de desenvolvedores e programadores, a 4Geeks e a Academic Hacks, durante o evento.
Em anos anteriores, a consultora SDI realizou três hackatons com jornalistas, designers e programadores, como eventos de inovação, a fim de alcançar e desenvolver soluções tecnológicas que servissem ao jornalismo e à democracia no país.
No entanto, devido à crise que na Venezuela, os eventos foram descontinuados, ela explicou.
Marianela Balbi, diretora executiva do IPYS Venezuela, também disse ao Centro Knight que, desde 2014, a instituição dirige várias sessões de treinamento para jornalistas no país, com o mesmo objetivo.
Eles trabalham para "treinar jornalistas em jornalismo de dados, jornalismo investigativo e narrativas digitais para apostar em jornalismo de qualidade e em um ofício inovador", acrescentou.
A respeito disso, Balbi disse: "Só nos faltava esse componente inovador que a Mariana Santos encontrou, ligando inovação e desafios tecnológicos com mulheres jornalistas, que muitas vezes têm barreiras culturais para abordar programação e design de informação".
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.