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Chumel Torres traz mistura de comédia e jornalismo à América Latina e reporta notícias com humor e inteligência

Chumel Torres não é um jornalista.

No entanto, sua comédia, baseada em comentários de notícias, cultura e política, é consumida por centenas de milhares de latino-americanos.

Seu canal no YouTube El Pulso de La República tem 1,84 milhão de inscritos e publica vídeos que regularmente acumulam centenas de milhares de visualizações. “Chumel con Chumel Torres,” o programa da HBO Latino que nasceu do canal na internet, começou recentemente sua segunda temporada. (E os vídeos de YouTube do programa têm números parecidos). O comediante também publicou um livro recentemente, “La Historia de la República”, sobre a história e a política do México.

O humor e o programa de Torres estão na mesma veia do The Daily Show ou do Last Week Tonight, programa de John Oliver que também é exibido na HBO.

Ainda assim, como um jornalista da Fusion explicou: “o estilo dele não é apenas uma homenagem à fórmula de sucesso do Comedy Central. Torres também incorporou sua marca de nerd e de irreverente, com uma dose inegável de 'mexicanidade'”.

Centro Knight encontrou Torres no dia 12 de março no festival de mídia interativa SXSW em Austin, Texas, onde ele falou sobre novas mídias online no México. Torres explicou sua ascensão à fama, as motivações por trás de sua comédia e porque ele não é um jornalista.

Torres, ex-engenheiro mecânico de Chihuahua, escreveu em 2012 um tweet que mudaria sua vida. O  tweet, uma piada sexualmente explícita sobre uma proposta de um candidato à presidência do México, se tornou viral graças a um retweet de outro político que depois desistiria da corrida à presidência. O tweet também levou a uma coluna regular no grupo editorial Expansión.

Eventualmente, Torres lançou El Pulso de la República no YouTube depois de ter o pitching do canal negado em outras mídias. O programa continua, com novos episódios postados todas as segundas e quintas.

Mas Torres disse que nem sempre teve interesse na política. Ele também não se identifica com nenhum partido. Para ele, o comentário vem do senso comum.

"Então eu comecei a escrever sobre política de um ponto de vista de um leigo e isso se tornou algo enorme, porque eu estava escrevendo sobre como eu me sentia", explicou Torres, acrescentando que as pessoas começaram a lê-lo porque ele falava com elas diretamente.

Ele concordou que parte de sua popularidade pode ter se originado na frustração com os políticos e o sistema político. No entanto, "você precisa de alguém para olhar as coisas à distância. Mas, ao mesmo tempo, tem muita responsabilidade e você não pode só dizer como se sente, mas você tem que dizer o que sente com números e estatísticas e notícias reais", disse Torres ao Centro Knight.

A independência criativa foi um fator na decisão de se juntar à HBO para "Chumel con Chumel Torres", que começou em julho de 2016.

"Eles estão mais dispostos a falar sobre as coisas e a me deixar provar que eu sei como lidar com o público", disse Torres.

Além de uma equipe de redatores, o programa de TV tem uma equipe de três jornalistas que realizam pesquisas. Uma vez que escolhem uma pauta, estes pesquisadores começam a trabalhar e a fornecer as peças, os "Legos", para o programa.

"Então você monta todos esses brinquedos que te dão, com uma perspectiva de comédia", explicou Torres.

Mais tarde, ele acrescentou: "Eles me impedem de ir para a prisão porque eles fazem a lição de casa muito bem e com muito equilíbrio."

No programa, as observações cômicas da sociedade e da política são salpicadas de dados e estatísticas de estudos científicos, organizações governamentais e artigos de notícias.

Quando Torres faz as piadas, ele é expressivo, incisivo e mordaz. Ele também faz esquetes absurdas como o colega John Oliver. Em um episódio do final de setembro de 2016 sobre ciência e crenças no sobrenatural, um coro com vestes de igreja ficava atrás do comediante enquanto ele "curava" pessoas em nome da ciência, mandando-as para hospitais e farmácias para remediar suas enfermidades.

Como Oliver rejeita a noção que seu programa faça jornalismo, Torres também afirma não ser jornalista.

"Eu leio o que os jornalistas escrevem, e eu coloco piadas sobre, no topo", disse Torres com uma risada. "E eu acho que somos tão parecidos porque as pessoas querem que você diga, eles querem que você diga, eu quero dizer, 'eu sei a verdade', e eles te dão essa medalha, 'você é o futuro do jornalismo'. Não,  não, não, não, não. Eu só estou fazendo piadas, as pessoas gostam de piadas, elas não gostam de notícias."

O comediante descreve seu programa como um "show de senso comum": sátira, humor negro, para pessoas com senso comum.

"Em um mundo que não faz sentido, somos lobos solitários", explicou.

Ele olha para comediantes como Andrés Bustamante como inspiração: "O que ele fez foi a peça mais importante na história da comédia, a entrevista dele com o Subcomandante Marcos do EZLN".

Para seu programa na HBO, Torres está conversando com toda a América Latina. Ele reconhece que há algumas críticas a esse respeito, mas disse que a recepção entre os latino-americanos tem sido "incrivelmente boa": "Começamos a apontar as questões em casa. E, se você fala sobre si mesmo primeiro, você dá o exemplo."

"É que não somos tão diferentes. Histórias de corrupção ou de crime organizado ou de políticos mentindo, isso acontece em todos os lugares. A questão é que nos concentramos nas coisas que temos em comum e depois estendemos o roteiro até esse ponto", disse Torres. "Se você fala de corrupção, não podemos dizer o mesmo nome, mas temos as mesmas situações e isso não muda, não só na América Latina, estou falando globalmente. E se isso importa para você porque isso afeta seus filhos, seu sistema de saúde ou sua educação ou sua aposentadoria, pelo menos você quer alguém para dizer alguma coisa, mesmo que seja um palhaço na televisão, você quer que ele diga, diga como realmente é."

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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