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Como casos de sucesso exploram a transformação digital para viabilizar novos produtos jornalísticos

Jornalistas, diretores e editores de diversos veículos da América Latina se reuniram no painel “Lições e casos inovadores”, do 15º Colóquio Ibero-americano de Jornalismo Digital, para apresentar casos de sucesso que ligam ferramentas tecnológicas a boas práticas da profissão. Em comum entre as estratégias estão os desejos de reconquistar um público cada vez mais cético em relação aos meios de comunicação e de viabilizar produtos que explorem a transformação digital.

Para o Pulzo, da Colômbia, a forma encontrada para se aproximar do público foi formar alianças com veículos regionais, influenciadores e blogueiros, que são pagos para ter seus conteúdos veiculados, após um processo de otimização de SEO, escolha de tags e segmentação da audiência.

“Há uma falta de confiança nos meios de comunicação, sobretudo entre os jovens. Eles não acreditam nas instituições, em quem tem dinheiro e em quem tem algum êxito, porque duvidam da forma como conseguiram chegar a esse lugar”, disse o CEO do Pulzo, Hernando Paniagua. “A audiência tem uma ânsia enorme por humanização. Por isso os influenciadores estão ganhando o espaço dos meios de comunicação. Por isso pessoas que provavelmente nem têm uma formação jornalística, mas colocam a cara, dizem seu nome e contam histórias muito interessantes, têm muito mais audiência.”

A colaboração entre profissionais de diferentes regiões, mas em um patamar continental, também é a marca do CONNECTAS, criador do #CONNECTASHub, que une jornalistas de 19 países latino-americanos para um processo de construção coletiva. De acordo com o fundador e diretor, Carlos Eduardo Huertas, a estrutura do trabalho se baseia em quatro linhas: fraternidade, solidariedade, identidade e cumplicidade jornalística.

“A ideia é inverter o modelo atual de clube de membros ou assinatura. Não devemos criar uma expectativa de ‘o que recebo [do público]?’, e sim criar um compromisso de ‘o que dou [ao público]?’. Isso cria uma dinâmica totalmente diferente”, afirmou Huertas.

Para gerar informação de qualidade e criar um produto rentável, é preciso juntar desenvolvimento e estratégia de tecnologia e de negócios e enfoques na audiência, no design e na experiência do usuário, sem deixar de lado a boa prática do jornalismo. É nisso que se baseia a News Product Alliance, segundo a diretora executiva do projeto, Felicitas Carrique.

“Uma solução para os produtos é pensar e tomar decisões estratégicas mais rápido e de forma metodológica e sistemática, limitando a possibilidade de erro e aprendendo rápido. É uma questão de trocar a forma com a qual encaramos os problemas e desafios enfrentados”, disse Carrique.

Outro produto inovador de destaque na região, o Visión Latina, do Grupo Octubre, da Argentina, parte da inteligência artificial para alçar a América Latina a um lugar de protagonismo. A ideia do projeto é criar uma base de conhecimento através de um sistema de reconhecimento facial que identifique figuras marcantes do setor político local.

“Por um lado, queremos colocar os ativos digitais do grupo à disposição, para que possam ser consumidos e vendidos com a tecnologia. Ao mesmo tempo, queremos disponibilizar uma tecnologia que permita ao resto dos meios da América Latina publicar conteúdo e ter uma detecção automática de personalidades”, explicou o diretor digital do Grupo Octubre, Mariano Blejman.

Antes de implementar uma transformação digital no meio de comunicação, porém, é preciso conceber um projeto concreto, seja ele uma reestruturação ou um trabalho de convergência específico, acrescentou Juan Simo, editor geral digital do Todo Noticias, da Argentina. Além disso, ele prega a necessidade de os grandes veículos recuperarem a clareza sobre o propósito do jornalismo, sem que a obrigação de serem “líderes de audiência” prejudique o trabalho.

“O vínculo que temos com a audiência é fundamental. Às vezes se fala da inscrição e da assinatura como modelos opostos, mas o que une ambas, com suas diferenças, é o vínculo emocional que as audiências têm com os produtos jornalísticos que desenvolvemos e o trabalho que fazemos de forma cotidiana”, analisou Simo.

Diversidade

Promover um maior espaço para diversidade, equidade e inclusão (DEI) também ocupa papel fundamental entre os objetivos de produtos jornalísticos inovadores. Jornalista e coordenadora do curso online do Centro Knight sobre o tema, Mariana Alvarado defende uma mudança cultural, a começar pelo domínio do conceito “diversidade”, que ainda confunde muitos jornalistas e chefes de redação espalhados pela América Latina.

“Quando falamos em diversidade, não nos referimos apenas à perspectiva de gênero. É impressionante o nível de desconhecimento que temos nesse assunto. Estamos tentando impulsionar essa ideia, de que também nos referimos a pessoas com deficiência, à agenda antirracista, a migarações e a todas as minorias que encontramos em nossos países. E essas minorias, se somadas, são a maioria”, explicou a jornalista.

Com base na desigualdade racial ainda marcante no continente, e mais especificamente no Brasil, o UOL desenvolveu o Projeto Origens, especial que utilizou exames de DNA para traçar a ancestralidade de 20 personalidades negras brasileiras. O projeto ganhou prêmios como o de melhor trabalho jornalístico de webjornalismo, pelo Conselho Nacional do Ministério Público, e o de excelência em design na categoria questões sociais, pela Society for News Design (SND).

“O enfoque não é a tecnologia, mas sim as histórias. Como as pessoas podem descobrir da onde vieram os parentes e como se reconectar com o passado, porque isso é muito importante no Brasil”, afirmou a gerente geral de Business Intelligence, Métricas e Estratégia do UOL, Lilian Ferreira.

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