Ela nasceu há 38 anos na Argentina e é mãe de gêmeos de 5 anos, Ignacio e Nahuel e de Lautaro, de 7 meses de idade. Ela mora na província de San Martín, Buenos Aires.
Verónica González Bonet é a única jornalista de televisão na Argentina e na América Latina cuja deficiência visual não tem sido um empecilho para seu desenvolvimento profissional.
No final de setembro, a jornalista foi convidada pelas Nações Unidas (ONU) para o Fórum Social sobre Deficiência e Direitos Humanos realizado em Genebra, na Suíça. Neste evento, Bonet falou sobre sua experiência profissional como jornalista.
"Meu discurso foi sobre a relação das pessoas com deficiência, com informação, seja como consumidoras, como parte das notícias ou, dado o meu trabalho, como produtoras", explicou González sobre o fórum, em conversa com o Centro Knight. Ela acrescentou que foi interessante contar o que acontece nos bastidores da mídia, os desafios de trabalhar na TV quando se tem uma deficiência e como abordar tópicos do ponto de vista jornalístico.
González Bonet recebeu vários prêmios nacionais reconhecendo seu trabalho jornalístico. Em 2012, a jornalista ganhou o Prêmio Lola Mora por passar "uma imagem de uma mulher que desafia estereótipos de gênero" na coluna, ou segmento especial, que apresenta na principal estação de televisão estatal.
Em 2013, González Bonet ganhou o prêmio Isalud na categoria Comunicação e Saúde Individual por suas reportagens sobre deficiência. Em 2015, recebeu também o Prêmio Mario Bonino da União de Trabalhadores da Imprensa de Buenos Aires (UTPBA na sigla em espanhol).
"Bonino foi um jornalista que foi morto por suas investigações, por isso foi uma honra receber um prêmio que leva o seu nome, que também me foi dado por colegas jornalistas. Foi muito forte, e estava na companhia de colegas militantes dos direitos humanos, da minha família. Além do orgulho dos meus filhos", disse uma González emocionada.
González trabalha desde 2009 como jornalista no Canal 7 da televisão pública argentina na capital, abordando gênero e deficiência.
Até fevereiro deste ano, González apresentava um segmento especial ao vivo no programa Televisión Pública Noticias, no canal estadual. No entanto, com a nova administração do canal, suas reportagens são transmitidas com o resto do noticiário, sem qualquer horário especial.
"Eu acho que isso é bom, porque eles tratam as minhas reportagens como qualquer outra notícia, mas ao não mostrá-las em um dia específico, em um hora específico, as pessoas com deficiência interessadas podem perdê-las", disse González.
A jornalista graduou-se em Ciência da Computação pela Universidade Argentina de la Empresa (UADE). Eventualmente, estudou Jornalismo em seu país de origem e depois se especializou em questões de gênero no Instituto Internacional José Martí em Havana, Cuba. Atualmente, ela está cursando Criminologia na Universidade Siglo XXI em Córdoba, Argentina, por correspondência.
Foi trabalhando na área de reclamações da empresa de telecomunicações Telefónica - na gestão de bases de dados e no desenvolvimento de quadros estatísticos para a gerência - que González descobriu sua vocação jornalística.
Em 2005, após participar de um programa de treinamento para jovens líderes latino-americanos com deficiência, ela liderou um projeto financiado pela Fundação Telefónica, a pedido de seus empregadores. González fez uma série de mini programas de rádio, que ela também produziu, com o objetivo de aumentar a conscientização pública sobre a forma como a mídia mostra as pessoas com deficiência.
"Descobri, quase sem saber, que o que eu gostava era de trabalhar na mídia e comecei a estudar o campo", admitiu González.
Quando chegou a hora de buscar estágios em jornalismo, González enfrentou muitos preconceitos por causa de sua deficiência visual.
"Eu tinha trabalhado em empresas de desenvolvimento de sistemas e não tinha encontrado tanta resistência quanto na mídia, que muitas vezes tem um discurso cheio de palavras como inclusão, direitos humanos, igualdade de oportunidades, etc.", disse.
Nesse sentido, encontrar emprego como jornalista foi um desafio para González, que apesar de sua cegueira nunca frequentou escolas especiais. Por isso, ela destaca que as possibilidades que uma pessoa com deficiência tem para se desenvolver têm muito a ver com ambiente a seu redor, a família, a renda e o incentivo recebido, entre outras coisas.
"No meu caso, acho que eu não seria como sou se não fosse pela minha família: tenho pais muito envolvidos na minha educação, uma mãe que é professora e duas irmãs e um irmão mais velhos que sempre me trataram como uma deles", disse González.
Antes de trabalhar na televisão estatal, a jornalista passou por uma agência de notícias sobre a infância, onde ganhou muita experiência no campo. Isso a fez se sentir mais segura de suas habilidades profissionais.
Para González, trabalhar na televisão significa "ser capaz de contrariar muitos preconceitos sobre pessoas com deficiência".
Uma das principais ferramentas utilizadas por González em seu dia a dia é o leitor de tela JAWS. Ela também usa o software de leitura de tela do iPhone. Para editar os vídeos de suas reportagens, ela usa o programa VLC.
A jornalista escreve em Braille com placa e caneta, e também trabalha em seu computador. A produtora do programa, Ambar Rusi, geralmente a ajuda e outros integrantes da equipe de pesquisa contribuem na localização de material visual.
"Nós também temos trabalhado com questões de deficiência nas notícias por quase sete anos e isso significa que temos um banco de imagens variadas para as reportagens", disse ela.
Bonet também gerencia o seu próprio blog, onde publica sobre questões sociais a partir de uma perspectiva mais pessoal.
Além disso, González é membro ativo da Rede pelos Direitos das Pessoas com Deficiência (Redi), desde 2011. Ela também pertence à Rede de Jornalistas com Visão de Gênero da Argentina e recentemente se juntou ao Fórum Global sobre Mídia e Deficiência.
A reconhecida jornalista argentina também dá palestras a colegas e ao público em geral sobre comunicação e deficiência, estereótipos de gênero, violência, inclusão social, busca de emprego, entre outros.
No final de outubro, a jornalista deu uma palestra em seu escritório sobre como abordar questões de deficiência na mídia, de forma a padronizar critérios e tratar o tema corretamente e com respeito.
Por exemplo, termos como "anão", "inválido", "aleijado" e "sofre de" não são apropriados para se referir a pessoas com deficiência, de acordo com as regras para jornalistas que González apresentou à Associação de Direitos Civis (ADC) e à Rede Regional para Educação Inclusiva (RREI).
A deficiência é algo dinâmico, explicou González, porque é sempre baseado em um ambiente que coloca ou remove barreiras para as pessoas. Da mesma forma, a jornalista acrescentou que não é correto dizer que uma pessoa é deficiente, mas sim que ela têm uma deficiência como característica.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.