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Consumo de notícias nas redes sociais cresce na Venezuela após restrições à mídia tradicional

Em virtude das diversas políticas do atual governo da Venezuela restringindo a livre circulação de informação nos meios de comunicação tradicionais, as redes sociais tornaram-se uma alternativa para o consumo de notícias entre os cidadãos venezuelanos. É o que mostra um estudo realizado para a organização de defesa dos direitos humanos Espacio Público.

Carlos Correa, diretor da organização, disse ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas que o uso de meios alternativos tornou-se uma tendência comum dada a confluência da crise econômica e política que o país enfrenta e do recente desenvolvimento de ferramentas tecnológicas que facilitam a comunicação.

“Algumas notícias já não têm mais espaço nas redes de informação convencionais [...]. As notícias de saques a estabelecimentos de venda de alimentos têm mais cobertura nas redes sociais [como Twitter e Facebook]; nos meios de comunicação tradicionais, tais notícias são impensáveis”, afirmou.

Na Venezuela, os meios de comunicação tradicionais que publicam notícias que poderiam ser interpretadas como uma crítica ao governo geralmente enfrentam censura e sofrem represálias.

O estudo, elaborado em meados de fevereiro pela consultoria Datanalisis para a Espacio Público, baseou-se em 600 entrevistas realizadas em cinco grandes cidades na Venezuela: Caracas, Valência, Miranda, Ciudad Bolívar e Maracaibo. A amostra de entrevistados foi composta por grupos de diferentes faixas etárias e igual número de homens e mulheres, todos de setores socioeconômicos desfavorecidos.

A análise do estudo indica que a Internet é o terceiro meio mais usado para procurar conteúdo de notícias, atrás da televisão por assinatura e da TV de sinal aberto.​

De acordo com Correa, no contexto da crise que assola a Venezuela, a liberdade de expressão “está sendo duramente atingida”, fazendo com que “o espaço de debate público na mídia tradicional diminua muito”.

Outras variáveis importantes que marcam a tendência crescente do uso de redes sociais como meio informativo alternativo na Venezuela são a atualização da informação, seu fácil acesso e interatividade. Nesse sentido, segundo o estudo, Facebook e Twitter ocupam a preferência dos usuários venezuelanos para se informar sobre todos os eventos nacionais. Cerca de 70 por cento dos entrevistados gastam em média entre 30 minutos e duas horas por dia para procurar notícias na Internet, Facebook e Twitter.

De acordo com Correa, as contas do Twitter de jornalistas venezuelanos têm muito mais seguidores do que a de outros da região. Como exemplo, o diretor da ONG citou o jornalista venezuelano Nelson Bocaranda, que tem mais de 2 milhões de seguidores nesta rede social.

“O alcance do uso de smartphones para o consumo de notícias nas redes sociais na Venezuela está acima de 60 por cento nos setores C, D e E [isto é, nos setores sociais economicamente desfavorecidos]”, explicou Correa ao Centro Knight.

O especialista também destacou que em recentes estudos de consumo digital realizados na região, os usuários venezuelanos são considerados consumidores “intensivos” nas redes sociais.

Além disso, Correa disse que isso também dá espaço à figura do “infocidadão”. Este termo é usado para descrever as pessoas que divulgam informações relevantes, fazendo “curadoria” da informação que publicam em suas contas pessoais nas redes sociais.

Para a Espacio Público, tanto os jornalistas quanto os ativistas dos direitos humanos e os infocidadãos que registram os fatos noticiosos com a ajuda de seus smartphones correm o risco de se tornar vítima de agressão pelos órgãos de segurança do Estado.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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