Por Isabela Fraga
Se há uma mensagem que pode sintetizar, ao menos em parte, a conversa do jornalista estadunidense David Carr, colunista de mídia do New York Times, com o também jornalista Rosental Calmon Alves, diretor e fundador do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, é: no jornalismo atual, se você quiser fazer algo, não fique só pensando, faça.
Na discussão que fechou o 7º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, realizada no sábado, 14 de julho, em São Paulo, Carr e Alves falaram sobre a crise dos jornais norte-americanos, a situação da mídia brasileira, o uso de novas tecnologias no jornalismo e, claro, sobre possíveis cenários para os dois países no futuro.
Autor da coluna Media Equation no New York Times, onde destila sua ironia e experiência em análises e previsões -- catastróficas, diriam alguns -- a respeito do jornalismo estadunidense, Carr é conhecido também por sua participação no documentário Page One, que mostra o cotidiano da redação do NYT e como seus funcionários têm lidado com a crise que gerou mais de 100 demissões em 2011.
Mas se engana quem pensa que Carr é um 'urubu' do jornalismo, anunciando seu fim absoluto. "Você prefere que alguém aponte o piano que vai cair na sua cabeça ou prefere ficar parado, com os ouvidos tampados? Não culpe o mensageiro!", provocou o jornalista, em uma de suas muitas tiradas bem-humoradas lançadas durante a discussão. Alves, que também ministra uma disciplina de jornalismo empreendedor na Universidade do Texas em Austin, concordou: "É uma espécie de negação (...). Não acho que os jornais estejam mortos, mas o modelo de jornal como existiu e ainda tenta existir", opinou.
Manual de sobrevivência
Para Carr e Alves, os jornais precisam se metamorfosear para sobreviver junto com a internet -- onde "todos são jornalistas e editores, segundo o jornalista estadunidense. Mas como? E como ficam os próprios jornalistas em meio a tantas mudanças?
Para os jornais, uma solução encontrada há pouco tempo tem sido a cobrança pelo acesso ao conteúdo digital, inciativa chamada de paywall. O NYT optou por esse caminho e, pelo que indicam as evidências, foi uma escolha acertada. "O paywall parece estar funcionando financeiramente, e isso ajuda a melhorar o clima na redação", disse Carr, reafirmando uma opinião que já expressou diversas vezes sobre como a cobrança por conteúdo digital pode salvar os jornais. No Brasil, inclusive, o jornal Folha de São Paulo recentemente optou pela mesma iniciativa.
Já no caso dos jornalistas, vale a recomendação feita por Carr de "fazer coisas: dizer o que está acontecendo à sua volta; usar o Twitter quando vir algo interessante; ter um blog sobre algo que não seu namorado; realizar projetos com pessoas da sua universidade, do seu convívio, ser empreendedor com eles". Para um auditório lotado ocupado em sua maioria por jovens universitários, ele concluiu: "as pessoas da sua geração são mais importantes do que qualquer coisa que um editor [mais velho] possa dizer".
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.