Com o objetivo de "otimizar recursos e gerenciar o estoque com mais eficiência", o jornal El Nacional, da Venezuela, deixará de circular "temporariamente" às segundas e sábados a partir de 20 de agosto, informou a publicação em 19 de agosto em uma mensagem intitulada “Cinco días por la libertad” (“Cinco dias para a liberdade”).
Em sua mensagem, o El Nacional lembrou outras medidas tomadas para manter sua circulação, como a diminuição do número de páginas e a suspensão temporária de alguns produtos. Mencionou também a “solidariedade de outros jornais do continente”, que forneceram bobinas de papel e outros materiais que permitiram ao El Nacional não interromper a circulação.
“Uma coisa é certa: El Nacional continuará a contornar os mecanismos de sufocamento, julgamentos, multas, sanções e censura através de bloqueios na internet”, concluiu a mensagem.
A crise do jornalismo impresso na Venezuela começou em 2012, quando o papel e outros insumos - que não são produzidos no país - entraram na lista de produtos não prioritários, o que obrigou os meios de comunicação a solicitar a aprovação de moeda estrangeira para sua importação. Em 2014, a crise já era uma realidade. Naquele ano, "pelo menos dez jornais regionais pararam de circular e outros 31 meios de comunicação tiveram que reduzir seu número de páginas", segundo um relatório da Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão da CIDH.
Uma das razões para esta crise tem a ver com a dificuldade de obter dólares necessários para importar o material. No entanto, uma das acusações mais sérias é feita contra a empresa estatal Complejo Editorial Alfredo Maneiro (Ceam), que é acusada pelos críticos de conceder papel de jornal a meios mais próximos do governo.
El Nacional não só enfrentou essa crise do jornal impresso, mas também foi alvo de julgamentos, multas e bloqueios digitais, como denunciou no domingo e já disse no passado.
Há alguns meses, o jornal vem reportando bloqueios à sua página dentro do território venezuelano. Seu perfil no Twitter tem uma mensagem pedindo aos usuários para relatar os locais onde a página do jornal está bloqueada, bem como seus provedores de internet, usando a hashtag #ElNacionalLuchaPorLaVerdad (“El Nacional luta pela verdade”).
Decisões e processos judiciais também agravam os problemas. Em 5 de junho, foi reportado que um juiz impôs uma multa de quase US$ 12.000 contra o El Nacional como resultado de uma ação de difamação movida contra o jornal três anos atrás por Diosdado Cabello, primeiro vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela e deputado da Assembléia Nacional Constituinte.
A ação movida por Cabello por difamação tem origem na reprodução de uma nota do jornal espanhol ABC que ligava Cabello ao narcotráfico. Esse processo é o motivo pelo qual Miguel Henrique Otero, presidente do El Nacional, está exilado desde 2015.
Além disso, em 22 de maio, a Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel) do país informou que abriu um procedimento de sanção contra o site do El Nacional pela suposta violação de um artigo da Lei de Responsabilidade Social na Rádio, Televisão e Mídia Eletrônica, e outro artigo da Lei Constitucional Contra o Ódio para a Coexistência Pacífica e Tolerância.
De acordo com o que Otero disse ao Centro Knight na época, essa decisão tem a ver com a cobertura de El Nacional da alta abstenção eleitoral nas eleições presidenciais realizadas em 20 de maio. “Esta é a primeira vez que eles ameaçam através da web, mas com o impresso tivemos ameaças como essa e assédio do governo muitas vezes”, disse Otero na ocasião.
Em 20 de agosto, quando o jornal iniciou sua nova programação de circulação cinco dias por semana, Otero enviou uma mensagem aos venezuelanos para continuar com sua luta após as últimas medidas econômicas tomadas pelo presidente Nicolás Maduro. Embora ele não se refira especificamente à decisão do jornal, ele relata sua luta à frente do El Nacional para mantê-lo operante.
"Lutei uma batalha de negócios sem trégua, contra um regime que tentou usar todos os seus recursos para nos sufocar economicamente e nos destruir com o desejo de nos calar", disse Otero.
“As condições estão aqui para superar as diferenças, para que a luta possa ser unânime. Chegou a hora da luta decisiva contra o regime de Maduro. Não é hora de recuar. Cada um de nós deve contribuir com seu grão de areia, a coleta de todos esses grãos de areia nos tornará invencíveis. Seremos uma montanha sólida ”, acrescentou Otero.