Por Giovana Sanchez
Uma nova pesquisa que começa a ser divulgada em 24 de maio oferece um panorama dos empreendimentos digitais em jornalismo no Brasil, e mostra que, entre outras características, essas iniciativas têm em comum a ausência de planejamento anterior ao lançamento e a receita ainda bastante ligada à publicidade e à venda de conteúdo.
Segundo o jornalista e consultor em mídias digitais Sérgio Lüdtke, realizador do estudo, é difícil traçar uma “linha comum” entre as iniciativas, mas há pontos de congruência que podem ser identificados. ”O que chama atenção é que não estamos falando aqui de algo novo. Talvez tenhamos uma incidência maior de novas iniciativas recentemente, mas está longe de ser novo”, disse Lüdtke, entrevista ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas. Há quatro iniciativas que existem há dez anos ou mais, por exemplo.
Segundo Lüdtke, dos pouco mais de 200 empreendimentos identificados no Brasil, apenas 64 responderam ao pedido de entrevista - sendo esse, portanto, o espectro abordado pela pesquisa. O estudo “Empreendimentos digitais do Jornalismo brasileiro” teve apoio do Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS) e estará disponível em posts semanais no site criado para a divulgação.
Lüdtke afirmou que a ideia de mapear iniciativas de jornalismo digital no Brasil lhe ocorreu quando coordenava o mestrado em jornalismo digital do IICS. “Abrimos duas bolsas [no mestrado] e oferecemos o curso para quem já estava empreendendo ou tinha ideia de empreendimento. Em cinco dias tivemos quase 100 candidatos. Fiquei com a ideia de fazer mais coisas para esse público na cabeça e resolvi fazer a pesquisa.”
Um ponto em comum entre os negócios analisados é a falta de planejamento da maioria dos empreendimentos. Segundo o estudo, 67% dos entrevistados não fizeram um plano de negócios antes de implementar a ideia e 68% não tiveram apoio de pessoas especializadas na montagem do empreendimento.
Sobre as fontes de financiamento, 42% dos entrevistados pretendiam tirar recursos da publicidade, enquanto 26% têm efetivamente essa fonte como recurso atual. O mesmo ocorre com a venda de conteúdo: 35% dos empreendedores pretendiam se financiar com assinaturas e venda de noticias, ao passo que atualmente apenas 16% deles usam essa fonte de recurso.
Apenas oito realizaram campanhas de financiamento coletivo e 13% não tem nenhuma fonte de financiamento. Os resultados coincidem com uma pesquisa feita neste ano pela organização sem fins lucrativos mexicana Factual, que em seu "Primeiro Estudo de Mídia Digital e Jornalismo da América Latina” mostrou que a questão do financiamento continua sendo a mais difícil para esses empreendedores.
Ao indagar as dificuldades dos empreendedores, Lüdtke conseguiu ter um panorama dos principais problemas enfrentados por esses empreendedores no país. “Aparece muito a dificuldade que eles têm em encontrar pessoas para ajudar a vender publicidade, por exemplo”, disse o jornalista. Outra lacuna é a “alta incidência de iniciativas que têm deficiência em redes sociais e uma despreocupação com medição de audiência e otimização de buscadores.” disse ele.
Após divulgar todas as análises de cada ponto da pesquisa, Lüdtke irá oferecer, no mesmo site que criou para divulgar o estudo, mentorias gratuitas com pessoas especializadas para ajudar empreendedores em jornalismo online. Ele também pretende expandir a pesquisa. “Creio que tenha elementos para fazer uma pesquisa mais abrangente e que possa ser feita anualmente, para assim monitorar iniciativas que abrem e que fecham. Isso é um dado que ficou fora do nosso radar, por exemplo.”
A Agência Pública também acompanha essa produção independente com um levantamento de projetos coletivos que produzem conteúdo jornalístico.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.