Depois de ter sido submetido à primeira cirurgia para salvar a visão de seu olho esquerdo, o fotógrafo peruano do jornal Perú.21 Marco "Atoq" Ramón recebeu dos médicos do Bascom Palmer Eye Institute de Miami um prognóstico esperançoso.
No entanto, o caso gerou controvérsia em Lima, onde a família de Ramón pede um maior apoio financeiro do Grupo El Comercio, onde o jovem jornalista trabalhava ou como estagiário, de acordo com sua irmã, ou como empregado, segundo um editor.
No dia 24 de janeiro, os colegas de Ramón organizaram uma marcha para o fotógrafo. Jornalistas e fotojornalistas de diversas mídias peruanas se reuniram às 19h na frente dos jornais El Comercio e Perú.21, com cartazes pedindo ajuda para Ramón. Eles também pediram ao Perú.21 e ao Grupo El Comercio para não virarem as costas ao fotógrafo.
Na manhã do dia 5 de janeiro, Ramón foi ferido pela polícia ao ser atingido por cinco balas de borracha; uma delas ficou alojada em seu olho esquerdo.
Ramón, que era estagiário de fotografia no jornal Perú.21 desde março de 2016, havia chegado com um capacete, equipamento fotográfico e uma credencial de imprensa para cobrir o confronto entre manifestantes e a polícia em Puente Piedra, Lima, segundo a irmã do fotógrafo, Roxabel Ramón, disse ao Centro Knight.
Ela afirmou que o processo de recuperação de seu irmão levará meses, durante os quais ele terá que ficar nos EUA.
Até o momento, a família de Ramón vive com a incerteza de saber se o empregador do fotógrafo, o Grupo El Comercio, assumirá as despesas médicas acumuladas no exterior. De acordo com a família, ele só recebeu US$ 10 mil da empresa, dinheiro com o qual eles têm coberto parcialmente as passagens de avião utilizadas para transportar o fotógrafo de Lima para o Bascom Palmer.
Ramón tem uma segunda cirurgia agendada para o mês de fevereiro, e uma outra ainda mais importante dentro de seis meses, na qual vão verificar se a retina do olho esquerdo - gravemente danificada pela bala - se recuperou da forma que os médicos esperam, explicou a irmã do fotógrafo.
"[O grupo] El Comercio não é capaz de dizer que vai cobrir as despesas médicas de Atoq no exterior. Seria melhor saber se eles vão cobrir ou não; assim nós saberíamos o que fazer", disse ela.
De acordo com Roxabel Ramón, no dia 19 de janeiro ela conversou com o gerente de recursos humanos do Grupo El Comercio, Vicente Crosby, sobre a situação econômica da família no exterior. Naquele momento, segundo ela, Crosby não deu uma resposta concreta sobre se a empresa cobriria os gastos médicos e de subsistência do fotógrafo nos EUA.
No entanto, a irmã do fotógrafo disse que, após a marcha de 24 de janeiro, Crosby chamou a família para pedir um balanço de todas as despesas acumuladas até agora em Miami. No entanto, Roxabel Ramón disse que o funcionário não lhes disse nada sobre o que o seguro pode cobrir.
Inicialmente, o Grupo El Comercio disse que assumiria todas as despesas acumuladas durante a recuperação de Ramón. De acordo com a empresa, por ser um empregado, Ramón possui o Seguro Complementar de Trabalho de Risco (SCTR), o qual deveria cobrir todas as despesas necessárias para assegurar a completa recuperação do fotógrafo.
O editor multiplataforma do Perú.21, Diego Salazar, disse ao Centro Knight que ele não entende a que se referem algumas das declarações da família.
"Desde o primeiro momento, tanto o diretor, quanto a administração [do Perú.21 e do Grupo El Comércio] e os membros da minha equipe estão esperando e estão em contato com Atoq e a família dele. A eles foi dado todo o apoio necessário, mesmo indo além das obrigações legais. (...) Eu mesmo tenho o acompanhado, tanto com um dos meus braços direitos na redação, quanto com a área de recursos humanos ", disse Salazar.
Além disso, Salazar disse que o Grupo El Comercio está preparando uma denúncia contra a Polícia Nacional e contra o Ministério Público, para investigar o que aconteceu com Ramón e punir os responsáveis.
Anteriormente, em sua coluna de opinião, a ombudsman do Perú.21, Claudia Izaguirre, escreveu sobre o que aconteceu com Ramón, que chamava a atenção o fato de que o jornal não havia informado mais sobre este incidente.
"Inclusive, eu tinha esperado uma invocação pública às autoridades e à Polícia Nacional para explicar a ação violenta contra alguém que estava com identificação de imprensa, o que se está sendo feito para descobrir os responsáveis e como vão responder pelos danos causados. Foi um fato noticioso e qualquer mídia no mundo destaca quando um dos seus é atacado", escreveu Izaguirre.
Aparentemente, de acordo com a irmã do fotógrafo, nos primeiros dias de janeiro de 2017 a situação de Ramón no Perú.21 não estava inteiramente clara. Roxabel Ramón explicou ao Centro Knight que o contrato do irmão como estagiário de fotografia expirou no final de dezembro de 2016, por isso sua situação de trabalho era incerta quando foi ferido pela polícia durante o protesto.
Ramón foi enviado a uma tarefa arriscada, fora de seu horário de trabalho e como estagiário de fotografia, disse a irmã do fotógrafo.
No entanto, Salazar disse que Ramón não era mais estagiário, mas sim um funcionário do jornal quando tudo aconteceu. "O contrato para renovação é um assunto administrativo, e a lei provê alguns dias para [formalizar] a renovação", disse ele.
O fotojornalista Raúl García, ex-chefe de fotografia do Perú.21, disse ao Centro Knight que durante seus anos no jornal, os estagiários de fotografia nunca foram enviados sozinhos para cobrir protestos, mas sim sempre acompanhados por outro fotógrafo com mais experiência.
Um grupo de fotógrafos, jornalistas e artistas peruanos, colegas e amigos de Ramón, arrecadou cerca de 22 mil soles (ou US$ 6,5 mil) para ajudar com as despesas. Eles fizeram a arrecadação através de um evento no Facebook, vendendo fotos que os próprios doaram.
O Centro Knight tentou, sem êxito, se comunicar com a área de recursos humanos do Grupo El Comercio, e com o gerente Vicente Crosby.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.