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Fotojornalista que é personagem de documentário da HBO comenta sobre equilíbrio entre pauta e segurança no México e no Brasil

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  • 5 novembro, 2012

Por Nathan Frandino*

O fotojornalista Eros Hoagland concordou em ter uma equipe de filmagem o acompanhando nas ruas do Rio de Janeiro para um documentário da HBO sobre fotógrafos que cobrem conflitos – mas seu motorista não. Ele alertou Hoagland: se o filme for lançado no Rio e ele for reconhecido, membros de quadrilhas iriam atrás dele para matá-lo.

Hoagland foi lembrado de que logo embarcaria em um avião iria embora, os membros das quadrilhas e outras pessoas que ele fotografou continuariam pela cidade para lidar com as consequências de suas fotos. Às vezes essas consequências são mortais.

“Uma parte do nosso trabalho é negociar a segurança das pessoas que contratamos e isso é algo com que me preocupo muito”, disse Hoagland em uma entrevista recente ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas. “Acho que há muitos jornalistas que não se importa com os moradores das regiões onde fotografam, e isso é vergonhoso.”

Equilibrar a pauta e a segurança de quem mora na região é apenas uma das questões com as quais Hoagland lida como fotógrafo de conflitos e é o fio condutor da nova série documental da HBO, "Witness" ("Testemunha"), que estreia na segunda-feira, 5 de novembro, e acompanha Hoagland por Juárez, no México, e Rio de Janeiro. A série também mostrará o trabalho dos fotojornalistas Michael Christopher Brown, na Líbia, e Veronique de Viguerie, no Sudão do Sul. Leia aqui uma resenha do Los Angeles Times.

A viagem ao Rio foi a primeira visita de Hoagland ao Brasil. Ele já foi ao México várias vezes desde 2008, dois anos na guerra do governo mexicano contra os grupos criminosos. Em ambos os lugares, ele tentou mostrar exatamente o que viu e as situações em que as pessoas que fotografou vivem.

Durante sua missão em Juárez -- cidade muitas vezes considerada "a capital do assassinato" do mundo --, Hoagland e a polícia encontraram um homem gritando "socorro" em espanhol. Ele estava sangrando após levar um tiro nas costas enquanto uma multidão o observava de uma colina próxima. Não havia nada além dos sons dos gritos de dor do homem e a câmera de Hoagland.

“Você nunca vê uma cena dessas no México como jornalista, você não costuma encontrar fato uma pessoa no seu último suspiro”, disse Hoagland.

Após fotografar vítimas de violências de gangues em Juárez e nas favelas cariocas, Hoagland aprendeu que "você não precisa ir a uma guerra para encontrar conflito, ele existe por toda parte”.

“O conflito e a violência são coisas inerentes à nossa espécie e qualquer um é capaz de cometê-los se estiverem no lugar errado", disse.

Hoagland é especialmente obcecado com a segurança dos seus assistentes e dos jornalistas locais que conhece -- afinal, ele está trabalhando em dois países onde os jornalistas são frequentemente alvos de violência pelo seu trabalho. Segundo a organização Repórteres sem Fronteiras, cinco jornalistas foram assassinados e três estão desaparecidos no México este ano, enqunato 10 foram mortos no Brasil.

Essa violência tem um impacto mais pessoal em Eros. Seu pai, o fotojornalista da revista Newsweek, John Hoagland, foi assassinado em El Salvador, em 1984. Os editores da Newsweek foram ao funeral e deram a Eros a câmera do seu pai. Foi quando ele decidiu que seria fotojornalista.

A carreira de Hoagland também o levou a El Salvador, Colômbia, Guatemala, Iraque e Afeganistão. Seu trabalho também passa pela construção de uma relação de confiança com a comunidade, conta ele, o que é fundamental quando você se envolve com policiais ou encontra membros de quadrilhas. Você tem que falar com todos sobre tudo, do clima ao futebol, conta ele.

“Como fotógrafo, a primeira coisa que faço é não sacar a câmera logo e começar a a fotografar, mas conversar com as pessoas e sentir como é o clima”, afirma Hoagland.

E, para Hoagland, construir confiança também significa não traí-la.

"Você tem que pensar duas vezes sobre se vale a pena ter uma imagem se você vai colocar a vida e bem estar de uma pessoa em risco”, disse ele.

Clique aqui para ouvir a entrevista da rádio Voice of Russia com Hoagland. Assista ao trailer da série documental da HBO abaixo:

*Nathan Frandino é jornalista freelancer em Washington D.C. Siga Frandino no Twitter @NathanFrandino

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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