Quando os equatorianos forem às urnas no dia 19 de fevereiro de 2017, terão que escolher entre oito candidatos para substituir o atual presidente, Rafael Correa, que deixará o cargo depois de 10 anos no cargo.
A equipe da revista digital GKillCity quer fornecer aos eleitores reportagens e dados suficientes para uma decisão fundamentada. Por isso, eles lançaram um mini-site dedicado especificamente às próximas eleições presidenciais.
"É provável que esta seja a campanha mais dura e sangrenta na nossa história republicana: embora os candidatos venham de um amplo espectro político, parece que as opções são reduzidas a duas - continuidade (continuação?) ou mudança (retrocesso?)", descreve uma nota à imprensa veiculada por e-mail, anunciando o lançamento do novo site no dia 18 de novembro, o prazo final para os candidatos presidenciais registrarem suas candidaturas. "Como você cobre uma eleição que promete crueldade e polarização? É a pergunta que nos temos feito nos últimos seis meses, para a qual estamos nos preparando em silêncio e com grande dedicação".
Isabela Ponce, editora fundadora da GKillCity, disse ao Centro Knight que as eleições de 2017 são “mais importantes do que nunca" por causa do fim da era Correa e da crise econômica que o país enfrenta.
"Não é uma eleição típica, acho que é mais do que isso", disse ela.
Sobre a eleição e os acontecimentos recentes no mundo, Ponce disse que era importante "fazer nosso trabalho como jornalista... É uma espécie de responsabilidade social nesse tipo de situação. Poderíamos simplesmente continuar nosso trabalho, nossa edição normal e nos concentrar em coisas diferentes. Mas, eu acho que é realmente importante para as pessoas começarem a acordar e terem mais consciência do que significa seu voto. Espero que a experiência dos Estados Unidos e do Brexit possam ser algo com que elas possam aprender".
Além das reportagens extensas, artigos de opinião e análises políticas que são normalmente oferecidos no site da GKillCity, o projeto das eleições apresenta várias seções especiais para motivar a participação dos eleitores.
Na primeira seção, os leitores podem escolher um dos sete candidatos e ver várias cartelas, cada um respondendo a uma pergunta específica sobre os antecedentes do candidato ou suas posições políticas. O texto contém vários links para facilitar pesquisas mais profundas. Ponce explicou que a seção foi inspirada no "Card Stacks" do site de notícias digitais Vox.
Em Cartas Abertas, cidadãos especialistas em temas específicos abordarão os candidatos individualmente sobre uma questões delicadas.
Na primeira carta desta seção, o advogado Juan Pablo Torres escreveu ao candidato Iván Espinel sobre uma declaração recente feita pelo candidato sobre a pena de morte. "Se necessário, amanhã no país (...) tanto estupradores quanto pessoas com antecedentes criminais de assassinato, receberão a pena de morte", disse Espinel, segundo o El Universo. Torres confronta vários pontos da candidatura de Espinal, e argumenta sobretudo que a declaração é contrária ao Sistema Internacional de Direitos Humanos e, portanto, não possui validade legal.
Ponce disse que o objetivo é criar uma relação mais equilibrada entre cidadão e candidato, e as cartas ganhem respostas. Nos últimos anos, Ponce disse que os candidatos fizeram exatamente isso.
A seção de verificação de fatos, El Verificador, fornece análises para determinar a veracidade das declarações dos candidatos.
"Durante as campanhas, os candidatos prometem o impossível", observou Ponce. Por isso, a GKillCity vai analisar as declarações, números e estatísticas que os candidatos fornecem para determinar se são falsos, verdadeiros ou se foram manipulados.
A verificação de fatos, ou fact-checking, tem crescido na América Latina e em grande parte do mundo nos últimos anos como uma ferramenta popular para questionar o discurso político. Outra equipe de jornalistas equatorianos lançou recentemente o Equador Chequea, um site dedicado exclusivamente à análise do discurso eleitoral.
A GKillCity também incluiu a seção ¿Qué, muy machito? para sensibilizar a opinião pública contra o machismo enquanto problema sistemático na política, especialmente no Equador. Como parte de um jogo, o leitor é apresentado a sete frases e deve escolher quem as disse. Após o palpite, o leitor recebe a resposta correta e o contexto em que a citação foi dita.
Finalmente, o Baúl Politico está cheio de fatos e figuras relacionadas ao panorama político no Equador.
Uma das entradas no Baúl é sobre as mulheres na política equatoriana. A reportagem apresenta porcentagens de mulheres e homens em vários departamentos, tanto a nível nacional como local. Há também uma análise das quatro reformas legais que têm facilitado a participação das mulheres na política e biografias breves de mulheres envolvidas na luta por reformas. As informações, curtas e fáceis de compartilhar, são acompanhadas por ilustrações especiais feitas pelos designers gráficos do site.
Outra seção vai mostrar o número de vezes em que cada candidato concorreu à presidência, mas não chegou a ocupar o cargo.
"Trata-se de mostrar a história política contemporânea para dar algum contexto para os jovens e também para as pessoas que não são equatorianas, para que eles possam entender por que estamos onde estamos", disse Ponce.
Outras seções ainda serão adicionadas.
A equipe vai produzir entrevistas em vídeo com cada um dos candidatos nas próximas semanas. Devido à falta de acesso à Internet nas áreas rurais, a GKillCity está formando uma aliança com rádios comunitárias da região para transmitir as entrevistas, e possivelmente, outros conteúdos da revista.
"Estamos falando de pequenos povoados nos Andes, onde o único meio de comunicação ao qual você tem acesso é o rádio", explicou Ponce. É uma oportunidade para expandir a audiência e para alcançar mais pessoas com a informação.
Os jornalistas também estão trabalhando em um projeto audiovisual especial sobre os candidatos com o grupo de humor político Avena Cómica.
Nas próximas 13 semanas, os jornalistas da GKillCity vão preencher cada uma das seções do site com mais informações.
"O principal objetivo do site é dar aos equatorianos o máximo de informações possível, para que eles possam votar de forma responsável", disse Ponce.
A equipe da GKillCity - composta de quatro jornalistas, dois designers, um community manager, um programador, um diretor executivo e vários estagiários - trabalhou no projeto por dois meses e meio. Eles receberam um prêmio da ONG tcheca People in Need pelo trabalho.
Ponce observou que o forte da equipe historicamente têm sido os artigos bem escritos, mas agora eles têm trabalhado com designers gráficos na equipe para melhorar os aspectos visuais.
Por exemplo, Ponce disse que o projeto das eleições vai contar com uma forte presença nas mídias sociais com conteúdo produzido especificamente para essas plataformas. Por exemplo, infográficos compartilháveis que vão se concentrar em assuntos como as posições dos candidatos sobre temas específicos.
A GKillCity foi fundada em junho de 2011 em Guayaquil, a maior cidade do Equador e inspiração para o nome do site. É "a primeira plataforma liberal, digital e alternativa do Equador", de acordo com o site da revista digital.
Ponce disse que os millenials que vivem nas maiores cidades equatorianas - Guayaquil, Quito e Cuenca - constituem a maior parte da audiência. Cerca de 70% do público total é de leitores do Equador e o resto é dividido entre Estados Unidos, Espanha e América Latina.
A partir de medições do uso do portal, eles puderam determinar que seus seguidores têm a possibilidade de acessar o site durante o horário de trabalho. Este pode ser um indicador de que eles podem estar em empregos bem remunerados.
Além da política, eles se concentram em cultura, música e gastronomia.
"Sabemos que as pessoas têm mais de uma camada: gostam de política, mas também querem comer bem, viajar, conhecer o mundo e estar em dia sobre os esportes", explicou Ponce.
Além da equipe permanente, mais de 400 pessoas em todo o mundo colaboram e contribuem para o site.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.