Por Teresa Mioli e Heloisa Aruth Sturm
Glenn Greenwald, o jornalista norte-americano conhecido por reportagens sobre a Agência de Segurança Nacional (NSA), lançou o The Intercept Brasil, uma versão específica para o país do site que ele co-fundou em 2014.
Em seu anúncio do site, Greenwald citou uma escassez de opções de mídia no Brasil e o sucesso das reportagens do Intercept naquele país como as razões para o lançamento.
“Nossos artigos sobre o Brasil (em inglês e português) têm aparecido entre as matérias mais lidas do The Intercept com frequência”, escreveu Greenwald, agora residindo no Rio de Janeiro. “Ficou claro para nós que há um enorme apetite por formas alternativas de jornalismo no país.”
O novo site Intercept Brasil contará com notícias, em português, sobre as "questões políticas, econômicas, sociais e culturais" brasileiras, escreveu Greenwald. O site também será preenchido com conteúdo do Intercept que será traduzido para o português.
O site já possui duas entrevistas bastante solicitadas, uma com a presidente Dilma Rousseff (de maio de 2016) e outra com o ex-presidente Luiz Inácio "Lula" da Silva (abril de 2016). Greenwald disse que o foco inicial do Intercept Brasil será no julgamento do impeachment de Dilma e nos Jogos Olímpicos que estão sendo sediados no Rio de Janeiro.
Além da equipe de jornalistas e editores brasileiros, o site também está recebendo material de jornalistas e meios de comunicação independentes. Greenwald também enfatizou a proteção de fontes.
A plataforma fornece um guia para que as fontes que quiserem contribuir para as reportagens possam enviar informações de forma confidencial e segura.
“O Intercept Brasil tem dois objetivos: alavancar o reconhecimento deste país imprescindível por todo o mundo e fornecer uma plataforma para que os excelentes jornalistas e escritores brasileiros compartilhem informações essenciais com seus compatriotas sobre as questões políticas, econômicas e sociais de seu país,” escreveu Greenwald.
O Intercept, e agora também o Intercept Brasil, é parte de um investimento massivo de US$ 250 milhões de dólares feito em 2013 pelo fundador do eBay, Pierre Omidyar, para criar a companhia de mídia digital First Look Media.
Pouco depois de ser criada, ex-jornalistas da First Look Media começaram a reclamar de má gestão e interferência editorial na empresa. Mas, em seguida, críticos de mídia como Benjamin Mullin, do Poynter, e Shan Wang, do Nieman Lab, notaram respectivamente um “silêncio produtivo” e uma “estabilidade”, com novos editores, revelações e novos projetos para tornar First Look Media uma "empresa e estúdio de mídia digital de pleno direito".
Greenwald se tornou internacionalmente conhecido em 2013 quando ele, Laura Poitras e outros repórteres divulgaram notícia exclusiva no The Guardian e no Washington Post sobre os programas de fiscalização global da NSA. As historias foram baseadas no vazamento de informações pelo ex-contratado do governo Edward Snowden. As histórias foram posteriormente reconhecidas com o Prêmio Pulitzer de 2014 por Serviço Público.
Ele é conhecido por ter opiniões fortes sobre a política tanto dos EUA quanto do seu lar adotivo, o Brasil.
Em outubro de 2013, o então colunista e editor-executivo do The New York Times, Bill Keller, conversou com Greenwald sobre imparcialidade, subjetividade e o papel do jornalismo.
Greenwald, que foi editor co-fundador do The Intercept juntamente com Laura Poitras e Jeremy Scahill, disse que "todo o jornalismo é uma forma de ativismo. Cada escolha jornalística abrange necessariamente premissas altamente subjetivas - cultural, política ou nacionalista - e serve aos interesses de uma ou outra facção."
O Intercept tem realizado uma extensa cobertura da atual crise política no Brasil. Greenwald, um ganhador do Prêmio Pulitzer, tem sido um ponto de contato para vários meios de comunicação norte-americanos sobre o que está acontecendo no país. Por exemplo, meios como a CNN, Fusion e Democracy Now! têm procurado Greenwald para comentar sobre o potencial impeachment de Dilma. Ele tem sido bastante incisivo ao falar sobre o papel da elite política e midiática do país.
Ao Democracy Now!, Greenwald descreveu o que estava ocorrendo no país como sendo “o desmantelamento total de uma democracia, que é exatamente o que está acontecendo, pelas pessoas mais ricas e poderosas na sociedade, que estão usando seus meios de comunicação que se mascaram como meios jornalísticos, mas que são de fato canais de propaganda para um pequeno número de famílias extremamente ricas.”
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.