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Governo argentino acusa Clarín e La Nación de violarem direitos humanos na compra de fábrica de papel

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  • 16 agosto, 2010

Por Maira Magro

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, receberá na semana que vem um amplo relatório sobre a transferência das ações da Papel Prensa (maior fabricante de papel-jornal do país) para os jornais Clarín e La Nación durante a ditadura militar (1976-1983), afirmou a agência de notícias estatal Télam.

A Papel Prensa funciona como uma conturbada sociedade entre o Estado argentino e os jornais Clarín e La Nación. Representantes do governo acusam os dois meios de comunicação de terem compactuado com os militares para não denunciar as violações de direitos humanos cometidas na época, recebendo em troca alguns benefícios, como a propriedade da Papel Prensa, adquirida em 1976, diz o jornal Perfil.

O chanceler Héctor Timerman afirmou mais uma vez que a compra da empresa envolveu “violação de direitos humanos.” As acusações estão baseadas em parte no testemunho recente de Lidia Papaleo, viúva do banqueiro David Graiver (antigo dono da Papel Prensa, morto no México em 1976 num acidente nunca esclarecido). Lidia afirma que, após a morte do seu marido, sofreu “extorsão, intimidação e ameaças” para transferir a propriedade da Papel Prensa.

Ela acusa o atual CEO do Clarín, Héctor Magnetto, de tê-la coagido e ameaçado na época: “Assine ou isso custará a vida de sua filha e a sua”, ele teria dito, durante uma reunião para a transferência das ações, no prédio do jornal La Nación, em 1976. No ano seguinte, Lidia foi presa e gravemente torturada pelos militares.

Na semana passada, o secretário de Comércio Interior da Argentina, Guillermo Moreno, levou capacetes e luvas de boxe para uma assembleia na Papel Prensa, na qual os sócios privados queriam retirar um dos representantes do Estado da comissão de fiscalização. Representantes do governo saíram em defesa de Moreno, enquanto La Nación denunciou o secretário na Justiça por "coação agravada e privação ilegal da liberdade", informou o jornal.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.