O conselho diretor do jornal El Nuevo Diario informou, por meio de comunicado, que decidiu interromper sua publicação digital e impressa devido a dificuldades econômicas, técnicas e logísticas que tornam "insustentável seu funcionamento", após quatro décadas de circulação.
El Nuevo Diario sale de circulación.https://t.co/gH1CbRbA7l pic.twitter.com/kwPUofD61a
— El Nuevo Diario (@elnuevodiario) September 27, 2019
"Estamos conscientes da importância do El Nuevo Diario como meio de comunicação chave na cobertura jornalística de várias etapas relevantes da história recente da Nicarágua, desde a sua fundação em maio de 1980 até hoje", afirmou o jornal em seu editorial deste 27 de setembro. Também agradeceu toda a sua equipe de profissionais, seus leitores e assinantes do jornal, aos quais anunciou o reembolso de assinaturas.
O grupo Editorial Nuevo Mundo também fechou as versões digital e impressa de seus outros dois jornais, Metro e Maje, segundo a EFE. Em dezembro de 2018, ele tinha sido obrigado a fechar seu diário popular Q'hubo, também por falta de materiais.
Segundo a agência espanhola, o governo de Daniel Ortega, por meio da Direção Geral de Alfândega (DGA), mantém retidos os suprimentos de impressão do El Nuevo Diario e do La Prensa, os principais jornais independentes do país, desde setembro de 2018.
Desde meados de janeiro, El Nuevo Diario, devido à falta de suprimentos, parou de circular nacionalmente nos fins de semana.
Em agosto deste ano, devido à escassez de matérias-primas, El Nuevo Diario reduziu sua publicação de 38 para 8 páginas, segundo a CNN en Español. E em julho de 2019 se viu obrigado a mudar seu formato de standard para tablóide.
No início de setembro, o Tribunal Aduaneiro e Tributário Administrativo da Nicarágua ordenou à DGA, por meio de duas resoluções, a entregar os suprimentos de impressão a El Nuevo Diario. A DGA liberou apenas 20% do papel e 37% da tinta, informou El Nuevo Diario.
O relator especial para a liberdade de expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), Edison Lanza, disse via Twitter sobre o encerramento de El Nuevo Diario: “Estamos em uma etapa mais sofisticada da repressão a meios na Nicarágua com o assédio de agência de impostos, inspeções trabalhistas, restrições à importação de suprimentos (papel e outros)”.
"A suspensão da publicação de El Nuevo Diario é consequência do bloqueio aduaneiro do Estado contra os jornais, que por mais de um ano os impediu de importar papel e suprimentos, em uma censura administrativa", disse via Twitter Carlos Fernando Chamorro, jornalista nicaraguense e diretor do site Confidencial que está exilado na Costa Rica. "Condenamos essa agressão contra a liberdade de expressão", publicou.
Durante as conversas em março deste ano entre o governo e a Aliança Cívica pela Justiça e pela Democracia para negociar uma solução pacífica para a crise social, política e econômica que o país vive desde abril de 2018, o governo Ortega se comprometeu a entregar os suprimentos de impressão retidos na alfândega, publicou a EFE.
No entanto, Ortega anunciou o fim das negociações com a oposição no início de agosto, acusando a oposição de estar ausente da mesa de negociações, relataram a EFE e a AFP.
Desde que os protestos populares contra as medidas de previdência social do atual governo nicaraguense começaram em abril de 2018, a imprensa independente e crítica tem sido severamente reprimida.
Os principais jornais críticos do governo foram afetados pela falta de suprimentos de impressão, como La Prensa e El Nuevo Diario, vendo-se obrigados a reduzir sua tiragem desde o fim do ano passado.
Comunicadores e jornalistas foram presos, entre eles o diretor de 100% Noticias, Miguel Mora, e a chefe de informações do canal, Lucía Pineda, que ficaram seis meses na prisão sem terem sido condenados. Muitos outros jornalistas, como Carlos Fernando Chamorro, de Confidencial, tiveram que deixar o país para continuar informado sobre o que está acontecendo na Nicarágua. Até o momento, as instalações de 100% Noticias e de Confidencial estão ocupadas pela polícia.