Com o fim de uma acirrada disputa presidencial, durante a qual grupos de mídia apoiaram um dos candidatos, qual é o papel do jornalismo após a vitória do nacionalista Ollanta Humala nas eleições no Peru? O segundo turno foi realizado no domingo 5 de junho de 2011. Para o renomado jornalista Augusto Álvarez Rodrich, o jornalismo decente e independente precisa, agora, "fiscalizar, com rigor, o novo governo, incluindo o cumprimento de suas promessas... Não há cheque em branco, presidente eleito Ollanta Humala", escreveu no La República.
Depois de assinar um Acordo Nacional para reafirmar seu compromisso com a democracia, o ex-militar Ollanta Humala declarou que não limitaria a liberdade de expressão caso fosse eleito. “Quero que a imprensa seja minha aliada, no sentido de que fiscalize as ações do governo”, disse Humala à RPP.
“Não queremos voltar aos anos 90, quando a imprensa era pisoteada em suas liberdades, quando se podia comprar os meios e canais ”, acrescentou, segundo o Terra.
O escritor, jornalista e vencedor do Prêmio Nobel Mario Vargas Llosa apoiou Humala e criticou a cobertura parcial do grupo El Comercio, cancelando, inclusive, sua coluna no jornal El Comercio.
Já o popular jornalista Jaime Bayly, apresentador de um programa de TV que atacou Humala durante a campanha, declarou após a vitória do ex-militar: "Meus programas no Canal 4 foram inúteis para impedir sua vitória (...) Continuo sendo um perdedor. Mais uma vez, estou no grupo dos perdedores".
Sobre a polarizada cobertura eleitoral, o jornalista César Hildebrandt concedeu uma entrevista ao La República pouco antes das eleições:
"A imprensa estrangeira se surpreende com a parcialidade dos meios e o desequilíbrio informativo. O que você pensa disso?"
"– Se alguém age como turista informativo e exige objetividade absoluta e neutralidade suíça, então estamos de acordo, mas é preciso perguntar a um correspondente do El País se ele seria neutro caso Blas Piñar ou algum personagem diretamente vinculado ao franquismo fosse candidato ou a um jornalista do Le Monde ou do Le Figaro se a neutralidade absoluta valeria diante de um movimento neonazista ou de um movimento de extrema direita com Jean-Marie Le Pen. Embora não se deva confundir informação com opinião, (...) os veículos têm todo o direito de assumir um ponto de vista, especialmente quando consideram que o país está em perigo e, neste caso, [o Peru] está em perigo".
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.