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Jornalismo transfronteiriço: Investigação revela o submundo criminoso da Amazônia

Para cobrir as dinâmicas criminais na Amazônia, é necessário que os jornalistas sejam tão astutos quanto os criminosos; essa é uma das premissas sob as quais o projeto Amazon Underworld foi realizado e publicado, uma investigação transfronteiriça sobre as redes criminosas que controlam a Amazônia.

O Amazon Underworld é um projeto liderado pelos veículos InfoAmazonia, Armando.info e La Liga Contra o Silêncio, em colaboração com a Rainforest Investigations Network do Pulitzer Center, financiado pela Fundação Open Society e pelo Escritório de Relações Exteriores e do Commonwealth do Reino Unido.

A equipe por trás do projeto é composta por mais de 37 jornalistas e profissionais que, entre maio de 2022 e julho de 2023, mapearam a presença de grupos armados através das fronteiras amazônicas e conduziram uma série de reportagens aprofundadas sobre as operações do crime organizado na região.

"Os criminosos que operam na Amazônia conseguiram atravessar fronteiras, apesar das barreiras linguísticas e culturais. Eles conseguiram estabelecer amizades com seus homólogos de outros países e operar como uma máquina sem dificuldades na Amazônia", disse Bram Ebus, jornalista investigativo e bolsista de 2022 da Rainforest Research Network, durante a apresentação da investigação.

"Em nossos esforços jornalísticos para cobrir a dinâmica do crime na Amazônia, tivemos que chegar tão longe quanto os criminosos. Portanto, a única maneira de compreender essas redes era trabalhar em equipe, com os melhores investigadores de diferentes países, com diferentes idiomas, origens culturais diferentes, etc.", acrescentou Ebus.

A investigação do Amazon Underworld foi publicada na primeira semana de agosto e continuará sendo atualizada com mais informações ao longo do mês. A publicação foi feita em português, inglês e espanhol, a fim de alcançar um público local e internacional.

"Há muito interesse por esse tipo de conteúdo por parte de políticos e também do público em geral. Também queremos que nosso jornalismo seja acessível para as pessoas da Amazônia. Embora tenhamos um bom site, às vezes pode ser um pouco pesado para carregar devido ao grande número de visualizações. Estamos considerando criar algum material impresso que possamos distribuir e trabalhar mais com estações de rádio comunitárias para sermos capazes de transmitir na Amazônia, onde não há internet ou outras plataformas de mídia", disse Ebus.

 

Metodologia e descobertas

 

De acordo com os líderes da investigação, cada jornalista que se aventurou em cantos pouco explorados da Amazônia utilizou diferentes metodologias jornalísticas de acordo com o país e o acesso disponível.

Para coletar informações sobre a presença de estruturas do crime organizado e grupos armados, eles conduziram entrevistas com fontes primárias no território, investigaram documentos de órgãos estatais e grupos da sociedade civil e fizeram solicitações de informações.

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Apresentação on-line do Amazon Underworld, um projeto liderado pela veículos InfoAmazonia, Armando.info e La Liga Contra el Silencio (Foto: Captura de tela).

Na série de relatos e mapas da investigação, são apresentadas as áreas de garimpo ilegal de ouro, cultivos ilícitos e processamento de drogas, bem como as rotas de tráfico que atravessam o coração da selva amazônica.

Especificamente, os pesquisadores identificaram a presença de organizações criminosas e grupos armados em 242 dos 348 municípios das regiões fronteiriças amazônicas da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela.

"O crime organizado aproveita as fronteiras porosas da região, os inúmeros rios e as múltiplas pistas de pouso clandestinas para transportar drogas e ouro que alimentam os insaciáveis mercados internacionais", explicam as reportagens.

Da mesma forma, a investigação mostra como, dos 242 municípios onde os grupos armados estão presentes, vários coexistem ou estão em disputa pelo território em 145. Além disso, a presença desses grupos criminosos levou à destruição de áreas protegidas e à invasão de territórios indígenas.

 

Como abordar o problema

 

Os crimes e outras atividades ilegais na Amazônia têm se tornado cada vez mais organizados e transfronteiriços. Portanto, é muito difícil para os governos locais e federais lidar com esse problema.

Durante a apresentação da investigação, discutiu-se o fato de que, apesar dos problemas, os países e as autoridades começaram a se reunir para ver como podem trabalhar juntos em prol da Amazônia. Um exemplo é a recente realização da Cúpula da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), em Belém,  nos dias 8 e 9 de agosto, após 14 anos sem se reunir.

Manaka Infante, responsável por programas na Fundação Open Society e uma das palestrantes na apresentação da investigação, indicou alguns pontos-chave para abordar o problema da Amazônia.

Infante falou sobre como a aplicação das leis nesses territórios é importante, mas não é suficiente. Para ela, conceder justiça econômica às pessoas que vivem na Amazônia é uma prioridade.

"Também precisamos falar sobre os mercados de terras. Garantir que os territórios indígenas façam parte da solução para o problema. Conceder direitos àqueles que não têm acesso suficiente ou não têm garantia de acesso às suas terras", disse Infante.

Por outro lado, para o palestrante, também é fundamental fortalecer as tradicionais autoridades civis amazônicas, responsáveis ​​pela segurança da região há séculos, e buscar soluções alternativas para enfrentar a violência.

“Devemos ter mecanismos de proteção e reparação para as vítimas desses crimes na Amazônia”, disse Infante. “Nos países amazônicos, temos visto diferentes tipos de crimes. Temos vítimas de violência sexual. Temos vítimas de tráfico humano, etc. Uma estratégia abrangente não deve se resumir a apenas processar os criminosos, porque o problema se repetirá continuamente”.

 

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