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Jornalista argentino é investigado por crimes durante a última ditadura militar

Por Samantha Badgen

Vicente Massot, diretor e dono do jornal conservador de Bahía Blanca "La Nueva Provincia", depôs em 18 de março na Justiça Federal de Buenos Aires sobre seu suposto envolvimento em crimes contra a humanidade durante a última ditadura militar na Argentina (1976 - 1983).

Massot é acusado de conspirar com os militares para erradicar um sindicato de trabalhadores de imprensa e está implicado no homicídio dos sindicalistas Enrique Heinrich e Miguel Angel Loyola. Massot supostamente instigou o crime, colaborou nele e encobriu a verdade sobre o sequestro, tortura e assassinato de outras 35 vítimas do regime militar.

Heinrich e Loyola eram delegados sindicais e haviam organizado várias greves, publicou El País. Junto com seu homicídio, a promotoria também acusa Massot de publicar em seu jornal que “supostos terroristas de esquerda haviam sido mortos em enfrentamentos” quando em realidade foram fuzilados por forças armadas. Massot negou as acusações e disse não ter responsabilidade pelos crimes.

“Há uma grande expectativa porque esta será a primeira vez que no âmbito dos meios de comunicação, o diretor de um jornal é chamado a prestar declaração para elucidar sua eventual responsabilidade na comissão de condutas vinculadas aos crimes contra a humanidade”, disse Walter Larrea, advogado da Associação Permanente pelos Direitos Humanos (APDH) de Bahía Blanca.  “Pela primeira vez em uma causa vinculada aos piores crimes cometidos na história argentina, um representante de um meio de comunicação, um civil, tem que se apresentar perante um juiz”, acrescentou.

"La Nueva Provincia" (LNP), junto com a maioria dos diários na Argentina, apoiaram a ditadura na época, mas diferente dos demais, LNP e Massot continuaram justificando as ações do regime militar depois da volta da democracia ao país. Massot qualificou alguns crimes como “excessos inevitáveis”, publicou El País.

Durante o governo do ex-presidente Carlos Menem (1989-1999), Massot também governou como vice-ministro de Defesa dp Governo, cargo ao qual teve de renunciar após defender publicamente a tortura, disse El País. Larrea, advogado da APDH, comentou que LNP “não mudou sua linha editorial de 1976, e continua se referindo da mesma maneira depreciativa ao governo nacional, sempre a beira da ilegalidade judicial no que diz respeito a informar à sociedade”.

Massot foi indiciado em 2013, mas o juiz federal No. 1 de Bahía Blanca, Santiago Martínez, rejeitou os pedidos de prisão e proibição de sair do país dos promotores federais. Segundo La Nación, depois disso Massot se colocou à disposição da Justiça para esclarecer o que fosse necessário.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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