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Jornalista argentino é julgado por suposta cumplicidade com a ditadura militar ao ocultar abusos aos direitos humanos

Por Travis Knoll

Agustín Juan Bottinelli, ex-editor de notícias da revista Para Ti, irá a julgamento pela suposta colaboração com a ditadura argentina para limpar sua imagem. Segundo o jornal El Tiempo Argentino, o caso poderia gerar um novo precedente para julgamentos de violações dos direitos humanos e cumplicidade com a junta militar.

O caso gira em torno de um artigo publicado em 1979 no qual Bottinelli entrevistou a ex-prisioneira da Escola Naval (ESMA) e vítima de tortura Thelma Doroty Jara de Cabezas, que acusa o jornalista de colaborar com as autoridades militares para ocultar as repressões e os desaparecimentos sistemáticos da junta. Segundo Jara de Cabezas, Para Ti sabia que ela era prisioneira da ESMA e publicou a entrevista sem mencionar isto.

Jara de Cabezas também disse que Ricardo Miguel Cavallo, um dos oficiais do centro de detenção, a pressionou para participar da entrevista, informou o site de notícias Perfil. Jara de Cabezas foi supostamente escoltada para fora do centro de detenção para se vestir e ir um salão de beleza antes de se reunir com Bottinelli na cafeteria onde deu sua entrevista.

"Como parte da barbárie ocorrida na ESMA, os grupos que atuavam lá em cumplicidade com jornalistas e empresas jornalísticas planejaram a simulação de reportagens jornalísticos para que os detidos, atuando sob ameaças, se declarassem a favor dos militares e contra seus próprios familiares", Jara de Cabezas disse ao site Télam.

Para Ti promoveu a entrevista como sendo o "testemunho nunca antes contado" de como as organizações internacionais e os grupos subversivos utilizaram os familiares das pessoas desaparecidas para impulsionar suas próprias agendas por trás de um discurso de direitos humanos. A entrevista foi publicada em meio a uma campanha para elevar a posição da junta argentina perante a comunidade internacional em meio a protestos de várias organizações internacionais de direitos humanos depois da Copa do Mundo de 1978, que ocorreu em Buenos Aires.

Um tribunal federal decidiu que Bottinelli pode ser julgado sob o novo Código Civil, pondo fim a uma batalha legal que começou em 1984 com uma ação judicial contra Aníbal Vigil, então diretor da empresa matriz de Para Ti, Atlántida. A ação foi retomada em maio de 2008.

Em 2011, Cavallo, junto com outras 11 pessoas, foram condenados a prisão perpétua por crimes contra a humanidade em um dos muitos “megacasos” contra os oficiais militares acusados de violações aos direitos humanos.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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