Na manhã da última terça-feira, 10 de novembro, um homem desconhecido atirou no jornalista de rádio Israel Gonçalves Silva dentro de uma loja em Lagoa de Itaenga, Pernambuco. O jornalista havia acabado de deixar seus filhos na escola. Segundo a imprensa local, um homem fugiu em uma motocicleta sem roubar nada.
Silva comandava o programa Microfone Aberto na rádio comunitária Itaenga FM, em que residentes ligavam e denunciavam irregularidades no município, de acordo com o Diario de Pernambuco.
Segundo uma nota divulgada pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) depois de conversar com um colega de Silva, os ouvintes falavam “sobre supostos casos de corrupção e improbidade de políticos e policiais” e Silva “entrevistava prefeitos, vereadores e deputados sobre questões controversas”.
Cerca de sete meses atrás, um ouvinte postou a seguinte avaliação na página da emissora de rádio: “Estou ouvindo neste momento o programa de Israel, e quero parabenizar o mesmo, quero deixar meus votos de felicitações e peço para que continue fazendo as denúncias dos descasos que andam acontecendo em nossa cidade tanto no âmbito político como na questão de segurança.”
Além do seu trabalho na emissora de rádio, Silva tambem era guarda municipal.
O governo designou um delegado especial para investigar o assassinato do comunicador e pediu que as diligências fossem feitas rapidamente, segundo o Diario de Pernambuco. Oficiais afirmaram que não descartam a hipótese do crime estar relacionado às denúncias que Silva fazia na rádio, segundo o Jornal do Commercio.
Quatro pessoas foram presas e são suspeitas de envolvimento no caso, mas a polícia ainda não confirmou a informação.
Colegas do jornalista afirmaram ao CPJ que ele já havia recebido ameaças de morte.
"Ele sempre bateu cabeça com as autoridades e as pessoas vinham até ele na rua e diziam que ele ia morrer ou que era melhor ter cuidado porque sua vida estava em perigo", Gomes dos Santos, que apresenta dois programas diários na Rádio Itaenga FM, disse ao CPJ. "Ele relatou todas as ameaças à polícia", disse ele.
O irmão de Silva, que mora ao lado dele, disse ao Jornal do Commercio que pessoas vinham rondando suas casas em motocicletas e que alguém havia feito uma cruz de tijolos em frente às casas no início desta semana. Segundo ele, Silva estava com medo.
CPJ instou as autoridades a investigarem o assassinato e determinarem se estaria ligado ao trabalho do jornalista.
"Estamos profundamente preocupados com o aumento alarmante da violência letal contra jornalistas no Brasil, que fez deste país um dos mais perigosos para a imprensa no mundo", disse em Nova York Carlos Lauría, coordenador sênior do programa do CPJ para as Américas.
Brasil ocupa o 11º lugar no Índice Global de Impunidade de 2015 do CPJ, que rankeia os países onde os assassinos de jornalistas permanecem impunes.
Silva é o quinto jornalista assassinado no Brasil este ano, sendo quatro deles de rádios locais.
Em 6 de agosto, dois homens mataram Gleydson Carvalho enquanto ele estava no ar na Rádio Liberdade FM na cidade de Camocim, Ceará. O jornalista de rádio paraguaio Gerardo Ceferino Servían Coronel foi morto em Ponta Porã, Brasil, em 5 de março. O blogueiro Evany José Metzker teve seu corpo decapitado achado em Padre Paraíso, Minas Gerais, no dia 18 de maio. O corpo torturado do jornalista de rádio comunitária Djalma Santos de Conceiçao foi encontrado no estado da Bahia no dia 23 de maio.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.