Carlos Fernando Chamorro, um dos jornalistas mais importantes da Nicarágua, fundador e diretor da revista Confidencial, decidiu se exilar na Costa Rica após o aumento da repressão contra a imprensa independente na Nicarágua, segundo o próprio anunciou no dia 20 de janeiro.
Por meio de sua coluna de opinião na Confidencial, Chamorro afirmou que "ante estas ameaças extremas [que apontam para a criminalização do meu trabalho profissional], me vi obrigado a adotar a dolorosa decisão de me exilar para resguardar minha integridade física e minha liberdade, e sobretudo para poder seguir exercendo o jornalismo independente da Costa Rica, onde me encontro neste momento”.
O anúncio chega na data em que se completam cinco semanas após a Polícia Nacional invadir as instalações onde funcionam as redações da revista Confidencial, de seu portal digital, e dos programas de televisão Esta Semana e Esta Noche.
Na época, a Confidencial denunciou que membros da polícia haviam entrado de maneira ilegal por volta da meia-noite de 13 de dezembro de 2018 e levaram computadores e documentos. Até hoje, a força pública continua a ocupar essas instalações.
Chamorro disse que eles usaram "todos os mecanismos legais para fazer valer nossa reivindicação à justiça". Esses recursos incluem o direito de petição e informação perante a polícia, que ele disse "nos respondeu com agressão física". Ele também apresentou uma queixa de roubo junto ao Ministério Público e um recurso de proteção perante a Corte Suprema de Justiça para que fosse ordenado que se encerrasse a ocupação das instalações e fossem devolvidos "os bens roubados".
"No entanto, não só não houve uma resposta corretiva por parte das autoridades, ou mesmo alguma tentativa de explicar ou justificar esta tomada de poder por parte dos militares, mas, pelo contrário, se agravaram as ameaças que apontam para a criminalização de meu trabalho profissional", escreveu Chamorro.
Ele afirmou que, da Costa Rica, seguirá exercendo seu trabalho como jornalista tanto na Confidencial, como em Esta Semana e Esta Noche. De fato, foi no programa Esta Semana do dia 20 de janeiro em que ele também anunciou seu exílio.
“Tenho a convicção de que vêm dias melhores para a Nicarágua, e é imperativo manter abertos todos os espaços de liberdade de expressão, para seguir construindo a esperança de uma nova República, como sonhou meu pai, Pedro Joaquín Chamorro”, escreveu em sua coluna. “Uma república com justiça social, baseada em profundas reformas institucionais, que esta vez garantam de forma irreversível que nunca mais se imponha uma ditadura. Uma democracia sem sobrenomes, para acabar na raíz com a semente da ditadura, do caudilhismo e do autoritarismo".
Tanto em sua coluna como em seu programa, Chamorro também fez um chamado à sociedade civil e aos empresários para que defendam a liberdade de imprensa. Também exigiu a liberartação de Miguel Mora e Lucía Pineda, respectivamente diretor e chefe de imprensa do canal 100% Noticias, que no dia 21 de janeiro completaram um mês detidos. Os dois comunicadores enfrentam acusações de "fomentar e incitar o ódio e a violência" e "provocação, proposição e conspiração para cometer atos terroristas". A primeira audiência está marcada para 25 de janeiro.
Pineda pôde receber pela primeira vez a visita de um familiar em 22 de janeiro, segundo informou Despacho 505. Seu irmão contou que a jornalista foi submetida a 30 interrogatórios durante os dias 21 e 22 de dezembro, e queriam obrigá-la a gravar um vídeo pedindo perdão a Daniel Ortega e à Polícia, adicionou o site. Diante da negativa da jornalista, "ela foi confinada a uma cela de isolamento por uma semana", disse o irmão ao Despacho 505.
Chamorro também pediu "o fim da perseguição à imprensa independente", incluindo os meios que estão no país bem como os "mais de 50 jornalistas que estão no exílio".
"Apelamos aos cidadãos para que continuem a rejeitar a censura e a autocensura através das redes sociais, e aos empresários, pequenos, médios e grandes, para apoiar a imprensa independente, que nos momentos mais cruéis da perseguição, continua a escrever as páginas mais bonitas do jornalismo nacional", escreveu Chamorro.
Carlos Fernando Chamorro faz parte de uma das famílias mais conhecidas da Nicarágua. Sua mãe, Violeta Barrios, foi presidente do país, e seu pai, Pedro Joaquín Chamorro, também jornalista, foi assassinado em 1978, "em um crime que provocou distúrbios nas ruas por causa de acusações de que havia sido ordenado pelo ditador Anastasio Somoza”, publicou David Adams na Univisión.
Em sua juventude, Carlos Fernando apoiou a Frente Sandinista de Liberação Nacional (FSLN), um grupo que 18 meses depois do assassinato de Pedro Joaquín derrotou a ditadura de Somoza. No entanto, é precisamente o governo de Daniel Ortega, um dos líderes da FSLN, que estaria por trás da repressão contra a imprensa.
Os ataques à imprensa na Nicarágua aumentaram com a continuação dos protestos contra o governo de Ortega. As manifestações que começaram em abril de 2018 contra a proposta de reforma previdenciária foram transformadas em protestos contra a administração de Ortega.
No último 14 de dezembro, os relatores para a liberdade de expressão da ONU e da CIDH condenaram “os reiterados ataques, invasões e formas de censura contra jornalistas e meios independentes na Nicarágua e pedem de maneira urgente ao Estado para parar toda forma de hostilidade e perseguição e para garantir o trabalho dos jornalistas".
"A situação da liberdade de expressão na Nicarágua é sombria, devido aos ataques, censura e perseguição policial e de elementos parapoliciais contra a imprensa", disseram Edison Lanza e David Kaye, em seu comunicado.
A CIDH também outorgou medidas cautelares a diferentes jornalistas e suas famílias. Chamorro, sua esposa, a redação da Confidencial, e outros repórteres, incluindo o diretor da 100% Noticias - Miguel Mora, também contam com estas medidas.