O jovem jornalista venezuelano Yonathan Guédez (22), preso no dia 10 de abril junto com outros 30 manifestantes em um dos protestos contra as medidas recentes adotadas pelo Tribunal Supremo de Justiça do país, continua na prisão, de acordo com vários meios locais e nacionais.
Desde o dia 28 de março, a Venezuela tem experimentado uma onda de manifestações, que começou quando o Tribunal Supremo anunciou sua decisão de deslegitmizar as funções legislativas da Assembleia Nacional, cujos membros são de maioria do partido de oposição.
Marco Ruiz, secretário-geral do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Imprensa (SNTP), disse em sua conta do Twitter que o julgamento de Guédez estava marcado para o dia 17 de abril.
Guédez seria julgado inicialmente no dia 14 de abril, sem saber de quais crimes estava sendo acusado. No entanto, foi divulgada extraoficialmente de que o jornalista e outros detidos seriam colocados ante uma corte militar por afrontas a um guarda e por danos a instalações militares, reportou o El Pitazo.
Depois disso, o El Pitazo informou que este julgamento não seria realizado, porque o caso de Guédez e de outros detidos no dia 10 de abril se encontrava na Corte de Apelações do Circuito Judicial, após o tribunal ter se declarado incompetente para prosseguir. Enquanto isso, Guédez e os outros detidos vão continuar sob o comando da Primeira Guarda Nacional.
O jovem jornalista, comunicador do município de Iribarren, estava cobrindo o protesto na cidade de Barquisimeto quando foi detido pela Guarda Nacional Bolivariana, que chegou para reprimir os manifestantes, segundo o El Pitazo.
O SNTP exigiu “a imediata soltura de Guédez, detido no exercício de sua profissão,” e instou as autoridades estatais a responderem a essa "evidente violação da liberdade de informação", de acordo com o Tal Cual.
Em relação a Guédez e aos outros manifestantes detidos, o advogado Pedro Tronconis, da organização sem fins lucrativos Foro Penal Venezolano, disse à TV Venezuela Noticias no dia 13 de abril que os crimes que o Ministério Público está denunciando são desconhecidos. “Apenas após entrarmos na sala de audiência será possível ler as atas policiais do caso", explicou Tronconi.
“Geralmente, os jornalistas e os manifestantes detidos são classificados como manifestantes violentos e podem ser julgados pelos crimes de intimidação e instigação pública. Até agora, não se sabe por quais crimes o jornalista e os outros detidos em Barquisimetro, Lara, serão julgados. Em outros casos, eles também foram acusados de dano a propriedade, se houver nas proximidades do local de detenção propriedades públicas ou privadas", explicou Tronconis.
“Quando ouvimos a versão dos jovens ou das pessoas detidas, geralmente o que acontece é que eles são detidos em lugares diferentes dos que constam no relatório da polícia,” disse o advogado.
A mãe de Guédez, Arelis Guzmán, disse em lágrimas que seu filho sempre se saiu bem nos estudos e no trabalho, e que mesmo assim ele tem sido tratado como um bandido, sendo apreendido arbitrariamente. Desde que o jornalista foi preso, a polícia não permitiu que a mãe visitasse ou falasse com o filho. Guzmán só pode trazer comida e roupas de baixo para Guédez, segundo ela disse ao El Pitazo.
Vários jornalistas, além de Guédez, foram detidos em outros estados enquanto cobriam os protestos na última semana.
Um deles é José Rangel, do estado de Sucre. No dia 13 de abril, o jornalista foi detido ilegalmente por quase cinco horas, depois de ter sido apreendido pela Guarda Nacional Bolivariana, de acordo com o site 2001.
O SNTP denunciou, através do Twitter, que Rangel foi brutalmente espancado e requisitado pela polícia durante sua detenção. Na segunda-feira, dia 17 de abril, o jornalista deveria se apresentar diante de uma mesa de negociação do Ministério Público de Cumaná, informou o sindicato.
Além disso, o jornalista Daniel Molina, do jornal El Pico, foi detido e liberado no estado de Mérida, de acordo com Marco Ruiz, secretário-geral do SNTP. No dia 11 de abril, Molina estava cobrindo o protesto no distrito de Tovar quando estranhos se aproximaram e o retiraram do local para remover seus pertences, o deixando abandonado na periferia da cidade, reportou o El Nacional.
No dia 11 de abril, os comunicadores Sebastián Pérez, do Uruguai, e Didier Barra, da França, também foram detidos na Venezuela. Ambos trabalham para a agência de notícias francesa Capa.
Pérez e Barra estavam no aeroporto para pegar o vôo de retorno à França quando foram detidos pelo Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin), de acordo com o El País do Uruguai.
Em relação aos protestos recentes, Carlos Lauría, coordenador sênior do programa das Américas do Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ) disse: "Os venezuelanos não podem ser totalmente informados sobre a crise política e econômica que abala o país se os jornalistas são espancados, detidos arbitrariamente, bloqueados e acossados pelas forças de segurança.”
O CPJ pediu às autoridades venezuelanas que assegurem que a imprensa possa informar e cobrir os protestos com segurança. Vários jornalistas foram detidos, assaltados ou viram seus equipamentos confiscados enquanto cobriam as recentes manifestações do país. Há também pelo menos três sites de notícias independentes que permanecem bloqueados após a transmissão de imagens das manifestações, disse a organização.
Carlos Correa, diretor do grupo venezuelano para promoção e defesa da liberdade de expressão Espacio Público, disse ao CPJ que sua organização documentou ao menos 29 casos de jornalistas feridos, assediados ou impedidos de cobrir os protestos em Caracas e outras cidades do país entre 30 de março e 8 de abril.
A Comissão Inter-Americana de Direitos Humanos (IACHR) também pediu que o Estado Venezuelano respeite e garanta as condições necessárias para o exercício de direitos políticos, direito à liberdade de expressão e direito à reunião pacífica de manifestantes no país.
"Especialmente preocupante é a informação recebida sobre supostos ataques e confisco de equipamentos e materiais de jornalistas e trabalhadores de mídia por agentes de segurança e grupos de civis armados durante as manifestações", disse a organização em seu site.
Roberto Rock, presidente da comissão de liberdade de imprensa e informação da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), disse ao Centro Knight que o que está acontecendo na Venezuela é uma tentativa do governo de um apagão de informações.
Com uma "estratégia muito sistemática", as autoridades estão bloqueando a participação não apenas de canais de televisão, estações de rádio ou sites de internet, mas também dos serviços que as empresas privadas fornecem aos meios de comunicação, como o uso de servidores e hospedagem. Sites estão sendo bloqueados por interferência do governo sem qualquer notificação, disse Rock.
"Vemos que a vida dos jornalistas está em perigo, que mortes já foram relatadas em protestos, (...) mulheres jornalistas estão sendo arrastadas pela rua, são ataques muito diretos que já não podem ser considerados danos colaterais da violência que pode ser gerada nas ruas. São 'alvos diretos', 'agressões diretas' aos jornalistas", disse Rock.“
Ele também observou que há evidências crescentes de grupos paramilitares durante as manifestações. Não é apenas "um jornalista que recebe um golpe dentro de uma multidão enfurecida, mas - esses grupos violentos - localizam diretamente os jornalistas e os atacam especificamente. São grupos vestidos às vezes com roupas civis, mas também ligados a forças policiais estaduais ou algum corpo militar", disse Rock.
Desde o dia 28 de março, quando começaram os protestos contra o Tribunal Supremo de Justiça, até o dia 10 de abril, o Instituto Imprensa e Sociedade (IPYS) da Venezuela contabilizou: 25 limitações à cobertura de assuntos de interesse público, 19 ataques físicos, 11 casos de intimidação, quatro ataques contra equipes jornalísticas, três detenções arbitrárias, três roubos e um ataque direto a uma sede de uma empresa jornalística, de acordo com o site Runrunes.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.