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Jornalistas iniciam petição online para pedir medidas de proteção diante da escalada de violência no México

Quando um grupo de homens entrou no escritório de El Heraldo de León em Sillao, em setembro passado, ameaçando e agredindo a repórter Karla Silva, o caso se tornou emblemático para a campanha de aprovação de uma lei de proteção para jornalistas no estado de Guanajuato.​

Pouco depois do ataque, jornalistas e membros da comunidade iniciaram uma petição para instar o Congresso do Estado de Guanajuato a aprovar uma Lei para a Proteção de Defensores de Direitos Humanos e Jornalistas em Guanajuato, que não avançou desde sua apresentação em junho passado.

“Os jornalistas não se sentem protegidos, dado que há um clima de impunidade e de corrupção associados à agressão, já que embora os autores materiais sejam presos, não fica claro se as autoridades foram os autores intelectuais dos fatos e qual é sua responsabilidade”, disse Raymundo Sandoval, ativista e criador da petição. “Tampouco há justiça integral ou garantias para o Heraldo e outros veículos".

A petição para a Lei de Proteção em Guanajuato é um exemplo de como jornalistas e defensores dos Direitos Humanos do país estão buscando ajuda dos governos estaduais e federal para combater o que alguns veem como deterioração da liberdade de expressão no México.​

A petição foi apresentada em meio a uma onda de violentos ataques a jornalistas em todo o país. Na segunda-feira passada, um líder comunitário foi assassinado enquanto apresentava um programa de rádio no estado de Sinaloa e na quinta-feira, a morte de uma jornalista cidadã em Tamaulipas foi anunciada pelos assassinos através de sua conta de Twitter.​

A organização defensora da liberdade de expressão Artigo 19 relevou que a violência contra a imprensa aumentou em 2013, com 330 ataques documentados a jornalistas, incluindo o assassinato de quatro jornalistas e a desaparição de outro. O relatório da organização diz que 59% dos ataques contra jornalistas foram perpetrados por servidores públicos.

Apesar disso, dos 32 estados mexicanos, Guerrero e Hidalgo são os únicos que estabeleceram mecanismos de proteção local para jornalistas, de acordo com um relatório do Instituto Mexicano de Direitos Humanos e Democracia (IMDHD).​

Mecanismos similares estão pendentes ou sendo discutidos em Nayarit, Quintana Roo, Chihuahua, Distrito Federal e Oaxaca.

Em termos de violência contra jornalistas, o Distrito Federal e Veracruz ocupam os primeiros postos, segundo relatório da Artigo 19.

Para o IMDHD, os mecanismos propostos pelo governo são deficientes, pois focam mais em melhorar a qualidade de vida através de iniciativas financeiras e de saúde, e não no “verdadeiro problema” de prover segurança.

Em junho de 2012, o Congresso Federal do México aprovou uma emenda constitucional para implementar a Lei Federal de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos e Jornalistas. Esta lei criou o Mecanismo de Proteção a Defensores de Direitos Humanos e Jornalistas.

Em junho passado, o escritório em Washington para Assuntos Latino-americanos expressou preocupação pelas “contínuas falhas no cumprimento das medidas de proteção do Mecanismo”.

A organização enviou uma carta à Secretaria de Governo pedindo apoio para o Mecanismo de Proteção em âmbitos federal e estadual e detalhando o que vê como obstáculos à implementação do mesmo, incluindo escassez de pessoal e atrasos no processamento dos pedidos de proteção.

O Centro Knight para o Jornalismo nas Américas reportou a frustração dos jornalistas com o Mecanismo. Em maio de 2013, um jornalista que corria o risco de perder a proteção armada prestada pelo Estado falou com o Centro Knight sobre os supostos atrasos no programa federal. No mesmo mês, o Centro reportou que um jornalista mexicano no exílio disse a Repórteres sem Fronteiras que duvidava da “efetividade” do Mecanismo.

A efetividade do escritório federal da Promotoria Especial para a Atenção a Crimes Contra a Liberdade de Expressão, a mesma que foi reestruturada em 2010, foi questionada por grupos ativistas como Artigo 19.

No final de setembro deste ano, o diretor-executivo do Comitê para a Proteção dos Jornalistas escreveu um artigo sobre a importância de garantir a liberdade de imprensa para promover um governo aberto.

Em seu relatório, IMDHD propôs que um sistema central de proteção de jornalistas e defensores de direitos humanos “deveria ser reforçado através de uma coordenação exclusiva entre o governo federal e os estados.”

Enquanto os governos federal e estaduais consideram a legislação e os mecanismos que vão abordar efetivamente os problemas de proteção a jornalistas e à liberdade de expressão, a comunidade espera por respostas de casos que estão na Justiça atualmente.

Em Silao, o promotor do estado no caso de Karla Silva encontrou resistência do prefeito, que não quis responder a chamados da promotoria na investigação, de acordo com am. As autoridades prenderam quatro homens, incluindo um sub-diretor da Polícia Municipal, em conexão com o ataque. O diretor da Polícia Municipal que, de acordo com o promotor, foi quem ordenou o ataque, está foragido.

Depois do ataque a Silva e a outros jornalistas mexicanos, o escritório de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas e a UNESCO publicaram um comunicado pedindo ao governo que “tome as medidas necessárias para que, a nível federal e estadual, se garantam os direitos à vida, à integridade e à liberdade de expressão dos jornalistas”.

O promotor estadual do caso de Silva recentemente se reuniu com representantes da ONU e reafirmou seu compromisso de proteger a liberdade de expressão.

Enquanto isso, a petição para apoiar a criação de uma nova lei em Guanajuato continua acumulando assinaturas. Até sexta pela manhã, mais de 8.700 pessoas haviam assinado mostrando seu apoio.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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