Por Isabela Fraga
O jornalista brasileiro é mulher, branco, tem ensino superior com formação específica em jornalismo e não é filiado a sindicatos, organizações não-governamentais ou partidos. Esse é, em linhas bem gerais, o perfil dos jornalistas do país, segundo uma pesquisa inédita divulgada nesta quinta-feira, 4 de abril, pela Federação Nacional dos Jornalistas junto ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Com respostas voluntárias de 2.731 jornalistas de todos os estados brasileiros e também do exterior, a pesquisa tem margem de erro inferior a 2% e será publicada na íntegra em um livro ainda em abril. "A ausência de pesquisas sobre o perfil do jornalista brasileiro foi identificada há muitos anos pela própria Fenaj", conta Jacques Mick, professor da UFSC coordenador do estudo. "Este é o primeiro estudo do tipo, e vai alavancar várias outras pesquisas sobre os jornalistas brasileiros, tanto quantitativas quanto qualitativas."
Dos jornalistas consultados, 64% são mulheres, 72% são brancos, 98% tem ensino superior (desses, 91,7% tem formação específica em jornalismo) e 40,4% cursaram algum tipo de pós-graduação. Para Mick, a feminização da profissão não foi uma surpresa, ao contrário da quantidade de jornalistas que continuaram os estudos após a universidade. "Ou seja, quatro em cada 10 jornalistas têm cursos de pós-graduação. Esses profissionais trabalham numa atividade de ponta na sociedade da informação, e por isso se sentem pressionados a estudar mais", avalia Mick.
Jornalistas na mídia e assessores de imprensa
O estudo também dividiu os jornalistas consultados em três categorias que revelam um panorama até então desconhecido da profissão: os que atuam na mídia (55%); os que trabalham fora da mídia mas em outras atividades como assessorias de imprensa (40%); e os docentes (5%).
A ideia de que jornalistas brasileiros recebem salários baixos também foi em parte confirmada: cerca de 60% dos entrevistados recebe mensalmente até cinco salários mínimos (cerca de R$ 3.390) e quase 50% trabalha mais de oito horas por dia. Cerca de 25% dos entrevistados, no entanto, têm renda mensal na faixa entre cinco e 10 salários mínimos.
Há também diferenças de salários entre as categorias da profissão. Segundo Mick, o percentual de jornalistas que atuam na mídia que ganha entre cinco e 10 salários mínimos (22,2%) é consideravelmente menor (5%) do que os que trabalham fora da mídia (27,7). No entanto, 16,5% dos jornalistas que atuam na mídia ganham de um a dois salários mínimos -- ou seja, entre 678 e 1356 --, enquanto apenas 11,9 dos jornalistas que trabalham fora da mídia têm renda mensal nessa faixa.
"Esse estudo vai ser útil tanto do ponto de vista acadêmico, pois vai dar um impulso para realização de outros estudos, quanto para políticas públicas e de sindicatos", avalia Mick, para quem associações de jornalistas também podem aproveitar os resultados da pesquisa -- já que cerca de 75% dos consultados não eram filiados a sindicatos. "O nível de sindicalização é muito baixo provavelmente porque muitos jornalistas trabalham em pequenas empresas e fora da mídia, e não se sentem representados nos sindicatos tradicionais", explica o coordenador do estudo.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.