As nuvens cobriam Antigua, bloqueando a vista do sempre vizinha da cidade, o vulcão conhecido como Fuego. Depois de dois dias de tremores e explosões na cidade colonial, matérias da imprensa falam que a atividade voltou a diminuir.
As erupções do Fuego foram constantes nos últimos anos.
“Sempre nos lembra que não está dormindo”, disse María Martin, a veterana jornalista de rádio homenageada no dia 19 de novembro na Universidade do Texas em Austin por seus 40 anos na rádio pública e pelos muitos anos de trabalho na América Latina capacitando jornalistas.
Durante a última década, Martin viveu na Guatemala, viajando por todo o país e pelo Uruguai, Nicarágua, México e Bolívia, para capacitar jornalistas e membros da comunidade na produção de rádio com sua ONG, o Centro GraciasVida para os Meios de Comunicação.
“Comecei como voluntária em um momento em que havia muito poucos meios de comunicação que falavam com a comunidade latina e por isso estava muito atraída por esta estação de rádio em particular. [Uma estação] que estava fazendo o que nenhum outro meio fazia e que refletia uma comunidade e o resto da sociedade, que estava tratando de construir pontes de entendimento intercultural”, disse Martin em uma entrevista com o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.
Esse trabalho de construir “pontes de entendimento intercultural” continuou quando ela finalmente criou LatinoUSA e GraciasVida.
Depois de KBBF, Martin criou a revista de rádio em espanhol California En Revista, editou o Latin American News Service em El Paso, Texas, e se uniu à Rádio Pública Nacional (NPR na sigla em inglês), onde trabalhou para visibilizar os temas dos latinos na cobertura de notícias.
Em 1992, deixou seu trabalho como editora para Assuntos Latinos na NPR e fundou LatinoUSA, um premiado programa de rádio transmitido em inglês e focado na comunidade latina nos Estados Unidos, assim como na América Latina.
Deixou a Universidade do Texas em Austin, onde foi gravado e criado o LatinoUSA, em 2003, em parte, para se mudar para a Guatemala e produzir a série de rádio-documentário bilíngüe de 26 partes Después de las Guerras: Central America After the Wars. Martin tinha experiência prévia cobrendo os conflitos da década de 1980 na Nicarágua.
Martin disse que o projeto “tratou de reintroduzir a realidade da América Central à audiência da rádio pública dos Estados Unidos em um momento em que as pessoas haviam se esquecido da América Central dez anos depois do final das guerras. Nesse momento em particular, a região de mais rápido crescimento da comunidade latina era a América Central. E as pessoas se perguntavam 'por que todos estes salvadorenhos e guatamaltecos aqui?' Então queria colocar isso em um contexto histórico”.
Uma equipe internacional de jornalistas e produtores trabalharam no projeto, que segue no ar nas estações de rádio públicas. Martin produziu uma atualização em 2011 “para revisitar a realidade da América Central” depois do golpe de Estado de 2009 em Honduras.
A série olhou as comunidades na Guatemala, em El Salvador, Nicarágua, México e Honduras, e explorou temas como a democracia e a paz, a violência, legados do controle militar e violência, imigração, pobreza, a política exterior dos Estados Unidos, temas de gênero, comunidades indígenas, a opressão política e a liberdade de expressão.
Além de produzir suas próprias reportagens, Martin viajou pela América Latina capacitando jornalistas profissionais e cidadãos na produção de rádio. Antes de se mudar para a Guatemala no início do ano 2000, Martin tinha uma presença importante na região, defendendo, guiando e educando sobre o jornalismo radiofônico.
“O meio da rádio foi particularmente importante em toda América Latina e nas comunidades latinas [nos Estados Unidos]”, disse Martin.
Para Martin, a rádio é acessível e “se relaciona com a realidade local, a realidad da comunidade, de uma maneira que a televisão e outros meios não podem”.
Em contraste com outros meios de comunicação, a rádio é menos cara de produzir e as comunidades podem começar estações mais facilmente. Os consumidores podem ter rádios portáteis no trabalho. Suas trasmissões conectam seus ouvintes a um mundo mais amplo, informam o público sobre serviços comunitários e servem como meio de validação da identidade e da experiência. A rádio é interativa: as pessoas podem chamar ou visitar as estações. E algo muito importante, a rádio fala aos ouvintes em seu próprio idioma.
Martin treinou jornalistas em cobertura eleitoral, em produção de rádio e multimídia e na formação de habilidades digitais. O Centro Knight, O Centro Internacional para Jornalistas e a Embaixada dos Estados Unidos ajudaram a jornalista em alguns desses treinamentos.
Recentemente, ela ofereceu um workshop para ver o uso de rádio-novelas para educar sobre a violência de gênero.
Durante sua carreira como jornalista e instrutora, Martín comunicou questões difíceis e complexas em um esforço para conectar as pessoas e aumentar a compreensão.
“Eu digo aos meus alunos que quando as pessoas lhes contam suas histórias, estão lhes dando um presente, estão abrindo seus corações e suas almas e é preciso sabê-los fazer que você aprecia isso, da maneira que for", disse Martin.
Durante a celebração em sua homenagem no dia 19 de novembro, estudantes, colegas e amigos falaram das lições que receberam e o caminho aberto por Martin aos jornalistas latinos mais jovens, especialmente os da rádio pública. Seu legado estará presente na Universidade, já que Martin doou suas reportagens e arquivos à LLILAS Benson Coleções e Estudos Latino-americanos.
Martin foi bolsista Fulbright e Knight. Também é membro da junta diretora de Youth Radio e uma homenageada da Associação Nacional de Jornalistas Hispanos Salão da Fama 2015. Martin continua com seu projeto de guiar e capacitar jornalistas nis Estados Unidos e em outros países.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.