Pelo menos três meios de comunicação foram retirados do ar e 14 jornalistas foram atingidos por balas de chumbinho, agredidos fisicamente ou sofreram outras agressões enquanto realizavam seu trabalho em um dia tenso na Venezuela, depois que líderes da oposição chamaram a acabar com o governo de Nicolás Maduro, presidente do país, em 30 de abril, no que chamaram de "Operación Libertad" (“Operação Liberdade”).
Os canais CNN e BBC foram retirados da operadora de cabo DirecTV no país, segundo afirmou a organização Espacio Público. Ambos os canais transmitiam ao vivo o que estava acontecendo em Caracas desde a manhã de terça-feira.
Da mesma forma, a Radio Caracas Radio relatou em seu perfil no Twitter que "após 89 anos de transmissão ininterrupta, a pioneira da radiodifusão venezuelana foi retirada do ar". A emissora continuou transmitindo por meio de seu perfil no Twitter.
#AlertaSNTP | Colectivos atacaron con tubos y piedras a los periodistas María Carolina Quintero, de @VPITV, y Gerard Torres de @TVVnoticias, mientras estaban dentro de su carro reguardándose.
Cubrían la protesta en la Av. Delicias con 5 de Julio de #Maracaibo. #30Abr pic.twitter.com/vcv9D1TiVO
— SNTP (@sntpvenezuela) April 30, 2019
Edison Lanza, Relator Especial para a Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), condenou a retirada da emissora do ar "em momentos críticos para a transição para a democracia", como escreveu no Twitter. Segundo ele, a ordem foi dada pela Comissão Nacional de Telecomunicações (Conatel), que ele disse ser "administrada pelo regime".
O Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Imprensa (SNTP, por suas iniciais em espanhol) publicou em seu perfil no Twitter o documento publicado pela Conatel no qual é ordenado o fechamento da emissora. Segundo a SNTP, a autoridade disse que o espaço não estava ocupado, apesar de a emissora estar no ar há 89 anos.
O dia de protestos começou com um vídeo publicado por Juan Guaidó, reconhecido por alguns países como presidente interino da Venezuela, do lado de fora da Base Aérea de La Carlota, acompanhado de alguns militares, convidando os cidadãos a remover o governo de Nicolás Maduro, informou a BBC Mundo. Também o acompanhava Leopoldo López, um líder da oposição condenado a 14 anos de prisão domiciliar por seu papel nas manifestações de 2014. Sua sentença foi rejeitada por algumas organizações por considerá-la política.
Em entrevista à CNN, Guaidó explicou que a libertação de López era parte de um processo decretado por ele mesmo para libertar os presos políticos.
O acesso a plataformas como Youtube, Twitter, Periscope e Facebook, entre outras, foi limitado pelo provedor de internet estatal ABA CANTV depois que Guaidó anunciou seus planos por meio dessas redes, segundo a Netblocks. O site também acrescentou que o serviço voltou ao normal apenas 20 minutos antes que Maduro fizesse seu discurso presidencial às 21h no horário local.
O SNTP também registrou de maneira contínua as agressões contra jornalistas e meios de comunicação que cobriam os protestos ao longo do dia. De acordo com seus registros, houve 16 ataques ao direito de acesso à informação e 14 jornalistas foram afetados na realização de seu trabalho.
Um dos casos mais graves foi o do fotojornalista Julio Colmenárez, do jornal El Informador, que foi atingido por tiros de chumbinho. Como resultado, ele sofreu uma fratura na mão esquerda e impactos de chumbinho em ambos os braços, de acordo com SNTP.
O jornalista do Efecto Cocuyo, Isaac González, foi agredido fisicamente e roubado por supostos grupos armados chamados de coletivos, disse o SNTP. Enquanto isso, no estado de Lara, pessoas não identificadas lançaram uma bomba de gás lacrimogêneo contra um correspondente da VPI TV enquanto ela cobria um protesto, acrescentou a organização.
Guaidó renovou os pedidos de protestos em 1º de maio. "Seguimos com mais força do que nunca, Venezuela", postou ele no Twitter. Maduro disse que manifestações pró-governo também foram planejadas para 1º de maio, segundo a BBC.