Algo que os meios de comunicação estão procurando é criar comunidade e estabelecer uma relação íntima com o leitor, e isto pode ser conseguido por meio de newsletters, que se tornaram a estratégia digital ideal.
As newsletters funcionam como uma forma de chegar diretamente ao usuário, aumentar a fidelidade, redirecionar o tráfego para o site, obter benefícios econômicos e até mesmo combater a censura. Meios e jornalistas na América Latina não perderam a oportunidade de aderir a essa onda e hoje é difícil encontrar uma iniciativa jornalística que não tenha newsletters regulares como parte de sua estratégia.
"A vantagem [de enviar uma newsletter] é que uma comunidade está sendo criada, posso controlar e saber quem é meu público, gerar uma conversa mais íntima e ter um banco de dados que pode ser usado para vender publicidade e trazer dinheiro extra para o meio", explicou Clavel Rangel, diretora editorial do meio venezuelano especializado em newsletters Arepita, à LatAm Journalism Review (LJR).
O recentemente lançado relatório "Journalism, media and technology trends and predictions 2023, ("Jornalismo, mídia e tecnologia: tendências e previsões para 2023"), assinado pelo jornalista e pesquisador Nic Newman e publicado pelo Reuters Institute for the Study of Journalism (RISJ), explica que 69% dos executivos de mídia entrevistados dizem que investirão mais recursos na criação e no crescimento das newsletters.
"A maioria dos meios vê o investimento em newsletters como uma forma de estabelecer uma conexão mais profunda com o público e incentivá-lo a voltar com mais frequência. E com uma superabundância de informações gerais, eles estão cada vez mais procurando conteúdos exclusivos ou especializados que possam ser adicionados às assinaturas existentes como um pacote ou cobrados separadamente", diz o relatório.
As newsletters geralmente têm uma frequência diária, semanal, quinzenal ou mensal. Alguns meios de comunicação enviam newsletters com um resumo de suas publicações mais importantes, enquanto outros experimentaram newsletters sobre temas especiais.
É o caso do meio argentino Cenital, que envia newsletters sobre política, entretenimento, dados, futebol, entre outros.
"Cenital é um meio digital que já tem três anos de existência. Propomo-nos a contar, de forma simples e acessível, uma realidade complexa e cada vez mais confusa. Por esta razão, nos distanciamos da concorrência para sermos os primeiros a chegar às notícias. Preferimos desenvolver as questões com profundidade, análise e contexto. É por isso que escolhemos as newsletters como base de nossa estratégia", disse Agustina Gewerc, gerente de produto da Cenital, à LJR.
"Começamos com três newsletters e hoje publicamos 14, que chegam a mais de 60 mil pessoas todos os dias. Temos duas edições diárias, uma de manhã e outra de tarde, nas quais priorizamos e resumimos as informações mais importantes do dia. Temos outras 12 edições semanais ou quinzenais que abrangem política nacional e internacional, economia, ciência, meio ambiente, planejamento urbano, cultura, tecnologia e esporte", acrescentou Gewerc.
Cenital também publica dossiês especiais e podcasts para complementar a oferta de notícias e desenvolver alguns temas fora da agenda. De acordo com Gewerc, isto permite que alcancem novos públicos com outros consumos informativos.
Outro meio de comunicação na América Latina que optou por enviar newsletters é Sopitas.com, um portal fundado em 2005 com a intenção de oferecer um canal alternativo e independente de informação e entretenimento no México. Há quatro anos enviam uma newsletter com as notícias mais importantes do dia e acumulam 38 mil assinantes.
"Nossa newsletter de coberturas especiais gera mais tráfego para o site e também vemos um crescimento na taxa de abertura. Estas coberturas especiais podem ser, por exemplo, a Copa do Mundo, Olimpíadas ou eventos especiais. A taxa média de abertura é de 30%, mas na cobertura especial subimos para 60% a 80%", disse Aaron Rubio, jornalista e chefe de estratégias digitais da Sopitas.com, à LJR.
"Também, através de nossa newsletter, enviamos atividades locais e tendemos a ir bem. Temos recomendado muitos museus ou empreendimentos locais e as pessoas comparecem. Portanto, há uma influência além do clique", disse Rubio.
Há casos especiais em que o envio de uma newsletter não é feito para gerar mais tráfego para um meio ou para gerar comunidade. Na Venezuela, o envio de newsletters tornou-se uma fórmula para combater a censura.
Um exemplo é o meio especializado em jornalismo investigativo Armando.info, que optou por enviar suas reportagens por email devido aos bloqueios por parte de provedores de Internet estatais e privados naquele país. Por outro lado, em 2017, Arepita também foi criado para contornar a censura.
"Na Venezuela, a principal vantagem de enviar uma newsletter é evitar a censura e os bloqueios. Além disso, não é necessário navegar por uma página, esperar que as imagens sejam carregadas. Em teoria, é mais leve e isso é uma vantagem quando há problemas de conexão. Na Venezuela, desenvolver uma conexão íntima com o leitor e criar uma comunidade não é a principal razão para enviar newsletters como em outros países", disse Clavel Rangel.
Por trás do envio de newsletters há também um interesse econômico. Os emails dos assinantes formam um banco de dados a partir do qual é possível enviar comunicações específicas para determinados públicos.
Os dados se tornaram uma moeda de troca no mundo digital. Uma boa base de dados torna possível lançar campanhas automáticas, vender produtos e fidelizar clientes.
"O bom de criar newsletters também é a construção de um banco de dados, o que custa dinheiro. Quando se tem o banco de dados, é possível fazer email marketing", disse Rangel. "E como modelo de negócios, ele ajuda você a saber qual é o seu alcance, a quantas pessoas você chega. Além disso, o email permite que você saiba onde essas pessoas estão localizadas, quantos anos elas têm, etc. Vamos ver muitos meios criando cada vez mais newsletters para ver seu banco de dados crescer".