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No Equador, jornal estatal acusa ex-parlamentar de querer lançar novo meio de comunicação para desestabilizar o governo

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  • 20 janeiro, 2014

Por Alejandro Martínez

Em julho do ano passado, a dirigente da oposição e ex-candidata presidencial Martha Roldós visitou Washington D.C. para falar com possíveis financiadores sobre uma nova agência de notícias que pensava em criar.

O meio seria encabeçado pelo jornalista equatoriano Juan Carlos Calderón e teria o propósito de publicar matérias de profundidade em um país onde o jornalismo investigativo se enfraqueceu após numerosas ações judiciais e desacreditações contra a imprensa pelo governo e a aprovação de uma polêmica lei de comunicação no ano passado.

Mas o jornal estatal El Telégrafo descreveu a iniciativa de outra maneira: como um elaborado plano para desestabilizar o governo. Em uma extensa reportagem de primeira página publicada em 6 de janeiro, El Telégrafo inclusive incluiu vários mensagens de e-mail de Roldós – que ela assegura terem sido obtidos após ter sua conta hackeada.

Calderón descreveu a matéria do El Telégrafo como “uma tempestade em um copo d'água”.

O novo meio "tem o objetivo de gerar jornalismo de investigação e cobrir temas que acreditamos que a cidadania deve saber, mas sobre isto armam uma teoria da conspiração internacional”, disse o jornalista em entrevista com o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.

Esta semana, Roldós disse que iniciará processos civis e penais contra o governo e os meios públicos que difundiram as acusações.

A matéria “A NED dos EUA financiará projeto midiático no Equador” citou várias mensagens do e-mail de Roldós que detalham conversas nas quais ela busca apoio para financiar uma nova ONG que se chamaria Fundación Mil Hojas e administraria uma agência de notícias com o nome tentativo de Tamia News. Roldós buscou fundos do escritório em Washington para América Latina (WOLA), das Open Society Foundations (que já deram fundos a meios independentes do continente e a organizações como o Centro Knight) e o National Endowment for Democracy, o NED.

A matéria critica o NED – uma organização americana sem fins de lucro criada em 1983 que se descreve como promotora da democracia – como um instrumento da CIA que gasta milhões de dólares ao ano para enfraquecer os governos que se opõem aos Estados Unidos.

O El Telégrafo assegurou que a iniciativa de Roldós “não tem nenhum propósito midiático ou jornalístico, mas sim de sustentar a oposição política” e “o objetivo seria fortalecer a oposição ao Governo equatoriano”. Além disso, afirma que Calderón receberia um salário de 24 mil dólares ao mês (Calderón disse que a quantia seria seu salário anual, não mensal).

Em cadeia nacional, o presidente Rafael Correa fez eco à nota do El Telégrafo para criticar a iniciativa como uma tentativa de conspirar contra seu governo.

"Perderam todo o sentido de bem e de mal, financiando-se com a extrema direita norte-americana para colocar por meio de uma fundação uma agência de notícias no Panamá para falar mal do governo equatoriano", disse.

Roldós e Calderón (a primeira é filha do ex-presidente Jaime Roldós e o segundo é um reconhecido jornalista que atualmente lidera o site de notícias Plan V, composto por ex-integrantes da agora extinta revista de investigação Vanguardia) confirmaram publicamente que estão buscando apoio para criar uma nova agência de notícias, mas  afirmam que a iniciativa seria um meio independente, não de oposição ou desestabilizador.

Roldós disse que em 2 de dezembro seu e-mail foi hackeado e suspeita que alguém de dentro do governo foi responsável pela ação para desprestigiá-la. A Associated Press descreveu o incidente como possivelmente o primeiro caso no Ecuador em que a privacidade digital de uma figura pública foi violada com fins políticos.

Roldós acrescentou que falou com todas as pessoas que receberam cópias dos mensagens publicadas pelo El Telégrafo e elas lhe asseguraram que não passaram informação ao governo equatoriano. Em declarações à AP, o editor do El Telégrafo, Orlando Pérez, não explicou como sua equipe de investigação obteve as mensagens, mas afirmou que “fez seu trabalho sem violar nenhuma norma ética".

Sobre as acusações de El Telégrafo, Roldós disse que o veículo buscaria estabelecer sua base no Panamá pelas dificuldades que atualmente enfrenta a imprensa independente no Equador.

“Buscamos empreender o projeto em outro país porque está demonstrado que no nosso não há garantias para fazer investigação independente”, criticou.

E apesar das origens da NED durante a Guerra Fria, o reconhecido jornalista colombiano Gonzalo Guillén – que é mencionado na nota do El Telégrafo como possível colaborador de Tamia News – defendeu o pedido da dirigente à organização americana citando a investigação que havia feito cinco anos atrás, financiada pela NED, sobre as forças paramilitares na Colômbia e os vínculos do ex-presidente Álvaro Uribe com o narcotráfico e os grupos criminais de extrema direita.

Apesar de tudo, Calderón disse que a visibilidade que o incidente lhes trouxe poderia ser boa para o projeto.

"Ele teve o melhor batismo que poderia ter, que é uma grande discussão internacional. Sou grato a este governo ", disse ele.

Equador se tornou um dos países no continente americano com mais atritos entre o governo e a imprensa. Um recente relatório da organização Fundamedios documentou 174 agressões contra a liberdade de expressão no Equador durante 2013 – a quantidade mais alta registrada nos últimos cinco anos – entre as quais se distinguem as novas imposições legais criadas pela nova Lei de Comunicação e as constantes desqualificações do presidente Correa contra jornalistas críticos a seu governo.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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