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Novo e-book do site peruano Ojo Público registra e explica a origem da desinformação em escala global durante uma pandemia

“Máscaras: roupa de emergência para sobreviver ou sufocar de acordo com a posição política do usuário” é uma das definições satíricas do recente livro 'Infodemia' do site peruano de jornalismo investigativo Ojo Público.

O e-book explica, como um dicionário, e com rigoroso humor negro, as notícias falsas e enganosas mais divulgadas na América Latina e no mundo durante a pandemia COVID-19. 

Libro electrónico "Infodemia" de Ojo Público

Capa do livro eletrônico "Infodemia", do site peruano Ojo Público. (Divulgação)

Em entrevista à LatAm Journalism Review, o diretor jornalístico do Ojo Público, David Hidalgo, explicou que deram ao livro uma estrutura de dicionário para "combater o caos desta época". Mas não é apenas uma classificação, disse ele, mas uma explicação e uma tentativa de fazer sentido, "algo que é útil e surpreendente para o leitor". 

No tom satírico, Hidalgo comentou que o livro foi inspirado no 'The Devil's Dictionary' de Ambrose Bierce, um jornalista satírico americano do século 19 que usou a ironia para explicar a natureza humana. 

A ideia do livro surgiu no início de junho como uma resposta jornalística à crise de desinformação que está circulando em todo o mundo. O projeto também nasceu como parte de duas iniciativas internacionais das quais o site peruano participa: a Latam Chequea Network, formada por mais de 20 equipes de verificação de dados na América Latina, e a International Factchecking Network, que conta com verificadores de mais de 70 países, contou Hidalgo.

A jornalista Carla Díaz, da Unidade de Verificação do Olho Biônico do site peruano, disse à LJR que "detectar e desarmar" informações falsas ou manipuladas ganhou especial relevância em todo o mundo durante a pandemia. 

"Queríamos que o livro fosse próximo aos leitores, então nas histórias coletadas há exemplos didáticos de como uma fraude surge e como eventos reais são descontextualizados, alterados ou manipulados politicamente para criar mentiras virais." Segundo Díaz, a desinformação reproduz rapidamente os preconceitos, medos e incertezas das pessoas, “por isso, às vezes, essas versões são difíceis de questionar”. 

Segundo Hidalgo, para fazer a seleção final do livro das notícias falsas ou enganosas mais divulgadas nas redes sociais em todo o mundo durante a pandemia, foram revisados ​​6 mil checagens em diferentes idiomas. Foram escolhidos 31 tópicos recorrentes cujos temas vão da ciência à religião, da política ao sexo ou esportes a histórias de terror. 

“Lembra-se da histeria desencadeada pela sopa de morcego? Ou o uso de dióxido de cloro como uma cura contra a COVID-19? Todas essas mentiras e como foram verificadas são narradas em detalhes no livro”, disse Gianella Tapullima, verificadora pública da LJR.

Outras informações falsas e massivamente disseminadas incluídas no livro são notícias sobre a vacina, como a suposta morte da italiana Elisa Granato após se voluntariar para a fase experimental da vacina COVID-19 da Universidade de Oxford, e que mais tarde negou sua morte no Twitter. Da mesma forma, as notícias falsas relacionadas à discriminação, como a que circulou na Colômbia em abril deste ano, sobre supostos imigrantes venezuelanos que jogaram doações de alimentos no chão exigindo dinheiro em troca, promovendo a xenofobia contra os deslocados venezuelanos na região.

Libro electrónico "Infodemia" de Ojo Público

"Infodemia" de Ojo Público. (Divulgação)

Pelo menos 11 dos 31 tópicos do livro tiveram maior impacto na América Latina, segundo os autores do livro. Do suposto efeito de contágio devido ao 5G, à suposta conspiração da vacina que seria liderada por Bill Gates, disse Hidalgo. Por trás das notícias falsas e desinformação estariam grupos religiosos ou ideológicos e suas agendas políticas, acrescentou. 

“O livro explica que infodemia é a profusão de versões falsas ou enganosas de forma viral, em diferentes países e em pouco tempo. Muitas versões passaram de um país para outro e até mesmo de uma língua para outra. É importante saber que a desinformação não respeita limites geográficos, mais cedo ou mais tarde se espalha”, disse Hidalgo. 

“Tanto a pandemia quanto a infodemia nos mostraram a interconexão em que vivemos”, disse Díaz.

O livro faz parte de uma coleção especial de autores da Penguin Random House que explicam o 'novo normal'.

“Estamos num momento chave da curta mas intensa existência do Ojo Público. A pandemia tem sido um desafio que nos fez crescer, exigir mais de nós mesmos, produzir mais. Esses são os primeiros resultados”, finalizou Hidalgo.

Esse artigo foi originalmente escrito em espanhol e traduzido por Júlio Lubianco.

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