Por Dylan Baddour
O principal jornal de oposição venezuelano, recentemente vendido a investidores anônimos, parece estar mudando de posição editorial semanas após prometer que não o faria. O editor-executivo do El Universal, Elides Rojas, disse ao Instituto Internacional de Imprensa (IPI) que o novo presidente do jornal tinha "ordenado uma revisão completa na seção de opinião" e suspenso ou demitido a equipe editorial.
El Universal tem sido uma voz crítica ao governo venezuelano, especialmente em seus editoriais.
Semanas atrás, o porta-voz do grupo de anônimos que adquiriram o jornal de 105 anos no último mês, Jose Luis Basanta, descartou os temores de mudanças na agenda política do veículo, em uma entrevista para a Bloomberg News.
“A linha editorial não será mexida, mas só os dias, semanas e meses adiante poderão demonstrar isso”, afirmou à Bloomberg.
Contudo, IPI reportou que ao menos 18 escritores haviam sido suspensos do El Universal e outros 11 foram demitidos ou saíram do jornal após terem sido notificados que suas colunas seriam "temporariamente suspensas" em razão de uma "reestruturação editorial". Elsalvador.com também informou sobre “demissões massivas” na publicação.
El Universal é o terceiro grande veículo de mídia vendido a investidores sob a pressão da presidência de Nicolas Maduro, e abalos no departamento editorial era exatamente o que muitos jornalistas temiam após a venda em julho. Muitos alegam que as aquisições têm sido um meio de silenciar as vozes da oposição.
Uma longa batalha tem sido travada entre meios de comunicação privados da Venezuela e os governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro. Depois de chefes da mídia supostamente terem participado no planejamento de um golpe em 2002 que derrubou Chávez por dois dias, o ex-presidente fechou ou silenciou sistematicamente quase todas as grandes redes de televisão independentes. Os jornais também foram fechados sob pressão econômica, e vários foram comprados.
Daniel Lansberg-Rodriguez, um ex-colunista do El Universal com base em Chicago, relatou ter recebido um e-mail avisando sobre a reestruturação editorial.
"Lamentamos informá-lo que, devido a uma reestruturação editorial, tem havido uma série de ajustes e nós não publicaremos mais o seu trabalho", disse o e-mail, de acordo com um artigo de opinião escrito por Rodriguez no The New York Times.
Em um editorial explicando a demissão da equipe editorial, El Universal escreveu que "todos os jornais do mundo estabelecem que se reservam o direito de publicar artigos de opinião dos funcionários que escrevem suas páginas. Se o conteúdo violar o código de ética, o jornal se abstém de publicar o texto", informou a rádio venezuelana Caracol.
No mês passado, o novo presidente do El Universal, Jesús Abreu Anselmi, negou que os compradores anônimos do jornal tinham ligações com o governo ou a intenção de mudar a linha editorial.
"Eu disse a toda a equipe que a linha editorial mantida no jornal há 105 anos, marcada pela imparcialidade, com certeza vai prevalecer", afirmou Anselmi em entrevista ao El Universal.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.