O Postdata.club é um site de jornalismo de dados lançado recentemente em Cuba por uma equipe interdisciplinar de cinco membros, cujo objetivo é tornar mais amigável a compreensão de informações de interesse público baseadas em dados.
Em seu lançamento, em 23 de setembro, publicaram uma reportagem sobre temas de identidade e direito a privacidade, sobre os riscos para os cubanos do atual vazamento de informações da base de dados do monopólio estatal de telecomunicações na ilha, a Empresa de Telecomunicaciones de Cuba S.A. (Etecsa).
Atualmente, “Postdata.club é o primeiro projeto em Cuba direcionado fundamentalmente para o jornalismo de dados”, disse a jornalista fundadora Saimi Reyes ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.
O projeto nasceu no início do ano, como uma iniciativa de Reyes e Yudivián Almeida, doutor em ciências matemáticas.
Ambos decidiram unir esforços e disciplinas para criar um site de jornalismo de dados onde pudessem contar histórias por meio da interpretação de dados de interesse social em Cuba.
Reyes fez a sua tese de licenciatura sobre mídias sociais, e Almeida, graduado em Ciências da Computação e professor da Universidade de Havana, coordena um grupo de pesquisa sobre análise da informação, entre outros temas.
Os jornalistas Ernesto Guerra, Jessica Domínguez e Aymara Vigil se uniram ao projeto.
Seis meses antes do lançamento do site, a equipe trabalhou na concepção, desenho, nome e programação do projeto.
“Como é um projeto novo e entramos em uma temática com a qual não temos muita experiência, estamos aprendendo dia após dia a fazer o jornalismo de dados”, disse Reyes.
A sua principal necessidade neste momento, explicou, é obter mais conhecimentos e habilidades para realizar este tipo de trabalho. Assim, planeja otimizar e ajustar o desenho do seu site nos próximos meses.
“Como trabalhamos de forma voluntária e colaborativa, não temos na equipe uma pessoa encarregada profissionalmente desta área [técnica]”, disse Almeida ao Centro Knight, em nome de toda a equipe do Postdata.club.
É um objetivo da equipe organizar e processar informação que encontrem nas bases de dados públicas disponíveis, já que costumam encontrar esses números sem atualização, ordem ou estrutura nas instituições estatais que permitem esse acesso.
Atualmente, não existe em Cuba nenhuma lei ou projeto de lei de acesso à informação pública. Os meios de comunicação da ilha também não podem ser de propriedade privada.
Ainda que surjam muitas iniciativas de jornalistas independentes e ativistas blogueiros na ilha, eles só podem almejar, no melhor dos casos, serem tolerados pelo governo - muitos são bloqueados para usuários de internet dentro de Cuba.
Por outro lado, o Postdata.club planeja publicar em breve assuntos relacionados ao beisebol, à medicina, ao comércio varejista, cinema, entre outros.
“Além disso, de acordo com o ambiente de informação e o volume de dados disponíveis, criaremos projetos mais curtos, em forma de suplemento”, disse Almeida.
Sobre a audiência do Postdata.club, é graças aos emails, comentários nas redes sociais e estatísticas do Google Analytics que os criadores podem constatar a boa recepção que o projeto teve entre os usuários da internet até agora.
No entanto, ainda que o governo cubano tenha traçado como meta garantir internet para 50% das casas cubanas, e chegar a 60% de acesso móvel até 2020, Cuba continua sendo o país com a menor conectividade de internet no hemisfério, publicou o Miami Herald.
Atualmente, somente 25% dos cubanos usa internet e apenas 5% pode se conectar desde casa. O acesso à rede ainda não está ao alcance do bolso da maioria dos cubanos, segundo um relatório da ONG Anistia Internacional sobre a censura em Cuba.
Apesar do governo ter aberto novos pontos de acesso gratuito à internet em algumas praças e estabelecimentos pela ilha, e ter reduzido pela metade a tarifa por hora de conexão, o acesso à informação não aumentou entre os cubanos, que seguem usando a internet para entretenimento e para interagir com familiares e amigos nas mídias sociais, publicou Diario de Cuba.
O surgimento de blogueiros independentes e de sites de notícias em Cuba, segundo a Anistia Internacional, continua sendo obstaculizado pelas autoridades que exercem pressão contra o jornalismo crítico ao governo.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.