Por Travis Knoll
O Fórum de Jornalismo Argentino (FOPEA, na sigla em espanhol) condenou na semana passada uma série de demissões em massa em meios de comunicação que vem ocorrendo desde dezembro. Os veículos argumentaram que as demissões fazem parte de reorganizações internas, mas FOPEA acredita que as decisões podem ter sido uma retaliação política.
A organização mencionou dispensas em publicações regionais e destacou os casos de duas agências de notícias, Indalo Media e Editorial Perfil.
Indalo Media supostamente demitiu 25 funcionários porque seu trabalho investigativo teria afetado a relação da empresa com o governo. Por sua vez, Perfíl mandou embora jornalistas que participaram de um sindicato local de trabalho e, posteriormente, outros 12 jornalistas que protestaram contra cortes salariais. Membros de sindicatos profissionais acusaram Editorial Perfíl de ameaçar seus funcionários de demissão. Um dos sete jornalistas dispensados em Outubro passado foi parte do Conselho Eleitoral responsável pela organização das eleições sindicais internas da Perfil, segundo o portal de notícias Terra.
Entre os dispensados da Indalo Media estão os jornalistas Antonio Laje, do canal de TV a cabo C5N e da Radio 10, e Gustavo Mura, que também trabalhava pra Radio 10. Este último havia realizado uma entrevista crítica com o secretário de Segurança da Argentina, Sergio Berni. Laje diz que foi demitido por criticar o governo durante os episódios de interrupções de energia em dezembro na Argentina. Cristóbal López, dono da Idalo mídia, é um apoiador da presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, mas nega que a política tenha desempenhado qualquer papel nas demissões, afirmando que as medidas foram "estritamente por reestruturação empresarial", para "otimizar recursos humanos [da Indalo mídia]."
FOPEA criticou as demissões da Perfil afirmando serem uma violação dos direitos dos jornalistas em geral. “Embora sejamos uma associação profissional de jornalismo e não costumemos nos envolver em assuntos internos de trabalho, sentimos que a situação enfrentada por esses profissionais reduz a qualidade da informação e é um ataque aos direitos dos seus colegas.”
Alguns dos colegas dos jornalistas demitidos protestaram pelas mudanças feitas por Lopez. De acordo com o jornal argentino La Gaceta, Oscar González Oro, um âncora da emissora de TV C5N disse: "É impossível trabalhar nessas condições". O jornal argentino La Nación publicou que Fabián Doman, também jornalista na C5N, denunciou as demissões e ameaçou deixar a emissora se ele não pudesse mais criticar o governo.
FOPEA terminou dizendo que preocupações empresariais e políticas não justificam demitir jornalistas e incentivar a auto-censura.
"FOPEA deseja expressar a mais sólida rejeição de uma mentalidade de negócios que trata os trabalhadores e os seus direitos como suas variáveis dispensáveis", disse a organização, acrescentando que a sua condenação se aplica "ainda mais se, por trás de tudo isso, existir algum tipo de perseguição ideológica, política ou trabalhista. No contexto de grande instabilidade laboral, estas situações não fazem nada senão limitar o exercício da profissão e agem como uma espécie de silenciamento da pluralidade de vozes da mídia necessárias para se manter informada uma sociedade democrática.
FOPEA já havia criticado anteriormente as tentativas de empresários de interferir no conteúdo jornalístico, como em janeiro do ano passado.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.