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Pedro X. Molina usa seus cartuns para comentar sobre as realidades políticas e sociais da Nicarágua

A dupla formada por marido e esposa que ocupa o cargo de presidente e vice-presidente da Nicarágua, Daniel Ortega e Rosario Murillo, é um assunto frequente do cartunista Pedro X. Molina.

O cartunista Pedro X. Molina fala durante um evento sobre mídia e democracia na UT Austin em 1/11. (Teresa Mioli/Centro Knight)

O cartunista Pedro X. Molina fala durante um evento sobre mídia e democracia na UT Austin em 1/11. (Teresa Mioli/Centro Knight).

Suas ilustrações contêm referências às semelhanças dos dois com ditadores do passado, seus gastos extravagantes, seus ataques a meios de comunicação independentes e, é claro, o papel deles na morte de quase 400 pessoas no contexto dos protestos que começaram em abril de 2018.

Com a ajuda desses cartuns, Molina falou a estudantes, professores e membros do público reunidos na Universidade do Texas em Austin em 1º de novembro sobre a atual crise política na Nicarágua e como a mídia crítica se tornou alvo no processo. Sua fala foi parte do evento “Mídia e democracia em tempos de cólera e polarização digital na América Latina”, organizado pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas e LLILAS Benson Latin American Studies and Collections.

A posição em que o país está agora não começou em abril de 2018, explica Molina.

“Por mais de uma década, experimentamos uma erosão contínua de todos os nossos direitos civis e humanos fundamentais na Nicarágua, incluindo fraudes eleitorais, um sistema de Justiça corrupto, um Congresso criminoso e um Poder Executivo cuja única função é permanecer no poder”, disse Molina. “Fraude eleitoral, repressão, corrupção, abusos e assassinatos aumentam constantemente há uma década. Não é algo que explodiu no ano passado."

No entanto, manifestações tomaram o país há mais de um ano após uma proposta de reforma da previdência social.

Um dos mortos durante os protestos foi Angel Gahona, um jornalista morto ao ser baleado na cabeça enquanto transmitia no Facebook Live.

Assim como as coisas pioraram para o público em geral, o mesmo aconteceu para os jornalistas independentes.

"Jornalistas foram assediados, espancados e roubados nas ruas pelas forças do regime", disse Molina. "Estações de rádio foram queimadas e jornais começaram a ter problemas para imprimir suas edições diárias, porque o governo não permitia que eles importassem o papel e a tinta necessários. Os jornalistas mais visíveis receberam ameaças de prisão e morte por meio de redes sociais.”

Em dezembro de 2018, forças policiais invadiram a redação do site Confidencial, que publica o trabalho de Molina, e levaram computadores, câmeras, etc.

"No dia seguinte, os jornalistas tiveram que pegar emprestado computadores para que pudessem denunciar a agressão", disse Molina. "Como ainda produzíamos conteúdo para o povo, Ortega e Murillo não ficaram felizes. De alguma forma eles estavam pensando que, tirando nosso equipamento, pararíamos de relatar o que estava acontecendo. Mas nós não paramos, é claro. As coisas não funcionam mais como nos anos 1970.”

A polícia voltou no dia seguinte, ocupou o prédio e está lá até hoje.

Uma semana depois, forças policiais invadiram a estação de TV independente 100% Noticias e prenderam o proprietário da estação e a diretora de notícias, acusando-os de promover o terrorismo, como Molina explicou.

“Àquela altura, era bastante óbvio que o governo estava caçando jornalistas independentes. O nível das ameaças que muitos de nós estávamos recebendo aumentou. Agora eles não estavam apenas nos ameaçando com prisão ou morte, mas também estavam começando a mencionar detalhes sobre nossas vidas particulares e nossas famílias.”

Cerca de 60 jornalistas independentes tiveram que deixar a Nicarágua, muitos deles continuando a trabalhar fora do país.

Para realizar o trabalho crítico que realiza, Molina encontrou uma casa no site Confidencial. Isso aconteceu antes dos protestos de abril de 2018.

“Sou capaz de continuar fazendo isso porque encontrei meu lugar em um grupo forte e determinado de pessoas com quem posso fazer esse tipo de coisa. É muito importante nos reunirmos e tentarmos nos encontrar com outras pessoas que pensam da mesma forma e realmente tentam fazer a diferença. ”

Como Molina explicou, ele se juntou ao site depois de deixar o jornal El Nuevo Diario, após a venda do jornal para pessoas que não queriam atrair a ira do governo e, portanto, pediram que ele não desenhasse sobre isso.

O cartunista Pedro X. Molina e a produtora de rádio Joy Díaz conversam sobre a mídia na Nicarágua. (Teresa Mioli/Centro Knight)

O cartunista Pedro X. Molina e a produtora de rádio Joy Díaz conversam sobre a mídia na Nicarágua. (Teresa Mioli/Centro Knight)

"As pessoas me perguntam se as coisas estão esfriando na Nicarágua agora", disse Molina. "Minha resposta é que as coisas estão ainda piores agora."

Os manifestantes não podem sair às ruas, assassinatos ainda estão acontecendo e prisioneiros políticos são perseguidos. No que diz respeito à imprensa independente, o El Nuevo Diario teve que fechar por falta de materiais de impressão. O jornal impresso La Prensa foi forçado a mudar seu formato e reduzir o número de páginas. Além disso, jornalistas independentes ainda estão sendo fisicamente atacados.

"Todos os dias as coisas pioram na Nicarágua, enquanto o mundo parece esquecer um pouco mais", disse ele.

Joy Díaz, produtora do programa de rádio Texas Standard e moderadora de uma conversa com Molina, apontou semelhanças entre a Nicarágua e os EUA e perguntou como o último país poderia aprender com o primeiro.

“Tentando se preocupar com o que está acontecendo lá. Pessoas daqui, tenho a sensação de que elas apenas se importam com 'isso fará com que mais pessoas entrem nos Estados Unidos' e é isso”, disse Molina.

"Elas não se importam com mais nada. Não se importam com o motivo pelo qual essas pessoas estão deixando seus países e tentando vir para cá. E estão focadas apenas em tentar parar essas pessoas. ”

Díaz também perguntou a Molina como ele gostaria de ser lembrado.

"Eu não ligo para as pessoas se lembrarem de mim. O que quero que as pessoas se lembrem é talvez do meu trabalho ou a razão pela qual faço o meu trabalho”, disse Molina. "Essa ideia de ser livre, de poder dizer o que você quiser sobre a sociedade em que vive e não tomar nada como garantido. Sermos muito céticos e críticos em relação a tudo o que vemos e nos importarmos uns com os outros e com a política.”

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