Jornalistas e editores latino-americanos reuniram-se em Buenos Aires, na Argentina, para compartilhar experiências e métodos bem-sucedidos envolvendo um trabalho de jornalismo investigativo que vem ganhando espaço na região: a checagem de informação.
Durante o encontro regional Latam Chequea, realizado entre os dias 7 e 8 de junho pela organização argentina Chequeado, profissionais de imprensa participaram de discussões e trocaram ideias sobre uso de ferramentas, checagem de dados em contextos eleitorais, estratégias para envolver a audiência e formas de medir o impacto desse trabalho.
Participantes vieram de diversas partes da América Latina, e alguns também dos Estados Unidos, África e Europa. Entre os participantes latino-americanos estavam representantes do Animal Político, do México; Ojo Público, do Peru; Plaza Pública e Nómada, da Guatemala; La Silla Vacía, da Colômbia; e Aos Fatos e Agência Lupa, do Brasil.
Nos dois dias seguintes ao evento, profissionais de 41 países deram continuidade ao encontro em Buenos Aires, durante a terceira Cúpula Global de Checagem de Dados. Na ocasião, participantes deram início à elaboração de uma carta de princípios para fortalecer e expandir a atividade, enfatizando o compromisso com o apartidarismo e com a transparência em relação à metodogia utilizada, fontes consultadas e financiamento dos trabalhos, de acordo com Poynter.
O primeiro Latam Chequea ocorreu em 2014, uma conferência de pioneiros em checagem de dados trabalhando em projetos em diferentes estágios de desenvolvimento, como lembrou Cecilia Derpich, coordenadora da unidade de pesquisa do El Mercurio, do Chile, em um post publicado recentemente para o evento. Para alguns, o encontro de 2014 deu à luz a novos projetos de verificação de informação, como no caso da Agência Lupa.
Dois anos depois, essas organizações reuniram-se novamente em Buenos Aires, maiores em número e em profissionalismo, como notou Derpich.
Para Laura Zommer, diretora executiva e jornalista do Chequeado, o trabalho de checagem de informação é essencial para que os cidadãos sejam bem-informados e possam participar do debate público de forma efetiva.
"É fundamental que a informação circulada seja verídica e esteja acompanhada do contexto necessário para sua compreensão. É indispensável que qualquer pessoa possa facilmente ter acesso à melhor informação possível para que possa participar ativamente das discussões de interesse público, e para isso a checagem de dados é uma ferramenta essencial”, disse Zommer ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.
Um estudo divulgado no evento, “Chequeado as a referee: Analysis of the impact of fact-checking in Argentina during an election year” (“Chequeado como árbitro: Análise do impacto da checgem de dados na Argentina durante um ano eleitoral”), mostrou que a checagem de dados se tornou referência não só para jornalistas mas também para o cidadão.
Eleitores afirmaram aos pesquisadores que a informação disponibilizada por organizações como o Chequeado pode ajudar na hora de avaliar políticos e seus discursos. Entrevistados também afirmaram ter mais confiança em organizações especializadas em checagem de dados do que na mídia tradicional.
Mas apesar do sucesso dessa prática de verificação de informação, e da disseminação de novos projetos, os jornalistas que trabalham com checagem de dados ainda enfrentam desafios, como lembrou a coordenadora de projetos especiais do Chequeado, Olivia Sohr.
“Um dos maiores problemas é o acesso à informação. E também a apresentação de dados de boa qualidade por parte do Estado”, disse Sohr ao Centro Knight. “Quando esta informação não é acessível ou não ocorre, é muito difícil realizar o trabalho, uma vez que se depende exclusivamente de fontes alternativas, como universidades, think tanks, ONGs, consultores privados, que geralmente têm uma menor capacidade para coletar dados.”
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.