Os vencedores do Prêmio Maria Moors Cabot deste ano dedicaram suas carreiras a cobrir e explicar a América Latina e o Caribe, incluindo países politicamente complexos da região como Brasil, Colômbia, Venezuela e México.
A Escola de Jornalismo de Columbia anunciou em 20 de julho que os medalhistas de ouro do Prêmio Cabot 2023 são June Carolyn Erlick, ReVista- Harvard Review of Latin America, Estados Unidos; Joshua Goodman, Associated Press, Estados Unidos; Carlos Eduardo Huertas, Connectas, Colômbia; e Alejandra Xanic, Quinto Elemento Lab, México.
Além disso, o júri do Cabot selecionou dois ganhadores da Menção Especial 2023: Miguel Mendoza, jornalista independente da Nicarágua, e Nayeli Roldán, do site Animal Político, do México. A menção "homenageia os jornalistas da Nicarágua e do México, países onde o jornalismo independente está ameaçado, por seu compromisso de informar a verdade diante de ataques".
O Maria Moors Cabot é o prêmio de jornalismo internacional mais antigo do mundo, criado em 1938 pela Universidade de Columbia para reconhecer jornalistas "pela excelência de sua carreira e pela cobertura do Hemisfério Ocidental na promoção do entendimento interamericano".
Os vencedores do Prêmio Cabot, como todos os anos, receberão individualmente uma medalha de ouro e um honorário de US$ 5 mil. Os vencedores do Prêmio Cabot 2023 e os ganhadores da Menção Especial serão homenageados na Low Library da Universidade de Columbia na quarta-feira, 18 de outubro, de acordo com o comunicado oficial.
"Esses ganhadores representam o melhor do jornalismo nas Américas, por suas conquistas ao longo da vida, por suas reportagens diárias, por seu trabalho investigativo e por seu jornalismo inovador. Suas realizações inspiram a todos nós", disse o presidente da Junta Diretiva do Prêmio Cabot, Rosental Alves.
Para June Carolyn Erlick, esse reconhecimento representa o ponto culminante de uma carreira de 50 anos como repórter, autora e editora "desde meus dias cobrindo a imigração cubana em Nova Jersey, passando pelos campos de batalha da América Central, até meu papel como editora de uma revista que analisa a América Latina e o Caribe a partir de múltiplas perspectivas", disse ela à LatAm Journalism Review (LJR).
"Estou muito animada com o anúncio e honrada por estar em tão boa e distinta companhia", acrescentou Erlick.
Por sua vez, o jornalista colombiano Carlos Eduardo Huertas fez contribuições importantes para o jornalismo investigativo de qualidade na região, desde seus primeiros dias na revista Semana até seu cargo atual na Connectas, a plataforma que ele fundou e dirige.
O prêmio "é um grande reconhecimento ao trabalho de uma equipe diária e de colegas em 19 países que, como uma grande redação espalhada pelo continente, encontrou na mística da colaboração dimensões diferentes de uma profissão construída durante anos com base na competição", disse Huertas à LJR.
"Coincide com uma nova etapa no trabalho que, por mais de uma década, nos permitiu apresentar as complexidades desse grande território. Na verdade, o reconhecimento econômico que faz parte desse prêmio será a semente para um novo fundo que terá o objetivo de continuar a promover o bom jornalismo nas Américas", explicou.
O júri do prêmio destacou a coragem e a tenacidade da jornalista mexicana Alejandra Xanic como parte das razões para sua Medalha de Ouro. Além disso, eles também mencionaram seus mais de 30 anos de carreira, nos quais ela se dedicou a descobrir a verdade e a responsabilizar os poderosos com reportagens de grande alcance.
"Como a primeira mexicana ganhadora do Prêmio Pulitzer, ela se tornou líder de uma nova geração que realiza reportagens investigativas em um dos países mais perigosos do mundo para jornalistas", disse o júri no comunicado à imprensa.
Xanic, como cofundadora do meio mexicano especializado em jornalismo investigativo Quinto Elemento, tem sido uma defensora ativa do direito de acesso à informação em seu país. "O talento jornalístico de Xanic é igualado apenas por sua generosidade em compartilhar seu conhecimento sobre a Lei de Transparência do México", acrescentou o júri.
No caso de Joshua Goodman, o júri destacou sua "determinação obstinada, atenção irrestrita aos detalhes, narrativa com nuances e ampla gama de conhecimentos jornalísticos" como razões para a decisão.
Por mais de duas décadas, Goodman explicou as complexidades políticas e sociais da América Latina para um público estadunidense. Embora tenha trabalhado em países como Colômbia e Brasil, há muitos anos seu foco tem sido a Venezuela.
Este ano, o Prêmio Cabot quis homenagear dois países que foram particularmente afetados pela violência contra jornalistas: México e Nicarágua.
No México, somente no primeiro semestre de 2023, sete jornalistas foram assassinados, e os ataques e o assédio são constantes para aqueles que ousam desafiar o poder.
Nayeli Roldán, vencedora da Menção Especial do Prêmio Cabot deste ano, enfrentou ataques públicos do presidente Andrés Manuel López Obrador por causa de seu trabalho em Animal Político.
"Em condições tão adversas, Roldán conduziu investigações sobre corrupção, desvio de verbas, violência contra mulheres e espionagem que lhe renderam respeito e a levaram a sofrer duras consequências", disse o júri sobre Roldán.
O trabalho de Roldán, portanto, lhe rendeu a Menção por ser "um exemplo de jornalismo sólido diante da adversidade".
"Sinto-me muito honrada. Considero que esse não é um reconhecimento a mim, mas o meio de destacar a complicada situação de jornalistas no México, especialmente para aqueles que vivem nos estados, os assassinatos de jornalistas, a precariedade do trabalho e o assédio permanente dos que estão no poder", disse Roldán à LJR.
Miguel Mendoza, da Nicarágua, também recebeu uma Menção Especial, depois que o regime nicaraguense lhe tirou a nacionalidade e o mandou para o exílio.
"Receber o María Moors Cabot é uma das maiores honras que um jornalista pode receber, devido ao grande significado e prestígio que ele tem em todo o mundo. Quando recebi a notícia, fiquei tão surpreso quanto emocionado. Há pouco menos de seis meses, fui preso na Nicarágua pela ditadura de Daniel Ortega, condenado a nove anos de prisão por informar, por ser jornalista e por defender meu direito à liberdade de expressão", disse Mendoza à LJR.
Mendoza é o quarto nicaraguense a ser homenageado na história do Prêmio Cabot e diz que recebe o reconhecimento em nome dos meios de comunicação independentes e de centenas de jornalistas que continuam a reportar sobre a Nicarágua a partir do exílio.
"Passei 597 dias preso, sem ler, sem me informar, sabendo poucas coisas sobre o mundo exterior, e agora estarei na Universidade de Columbia, recebendo este prêmio, junto com grandes nomes do jornalismo. Não é surreal?", disse ele.
*Nota editorial: Rosental Alves, presidente da Junta Diretiva do Prêmio Cabot, é fundador e diretor do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, que publica a LatAm Journalism Review.