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Press Forward, movimento que busca expandir o financiamento para o jornalismo local, é o tema do primeiro painel do 25º ISOJ

“Em uma frase, o Press Forward é um movimento para conseguir mais pessoas para pagarem por jornalismo local”, afirmou o presidente da Fundação MacArthur, John Palfrey, no início do primeiro painel da 25ª edição do Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ).

“Já podemos sair do palco. É esse o esforço: fazer com que mais pessoas pensem nisso como algo para apoiar. Se você quer a manchete: o Press Forward trata de buscar mais pessoas para pagarem mais pelo jornalismo, especialmente em nível local. Caso contrário, não teremos uma democracia nos Estados Unidos. Mais pessoas precisam pagar mais pelas notícias locais, para que possamos ter uma democracia. É isso".

Apesar da menção a deixarem o palco, o sumário lapidar de Palfrey foi só uma introdução, e ele e seus colegas painelistas esmiuçaram ao longo de quase 1h30 a razão de existir, o modo de funcionamento, as aspirações e as perspectivas futuras do Press Forward, durante o painel “Press Forward: Uma iniciativa filantrópica de meio bilhão de dólares para revitalizar as notícias locais dos EUA”, na manhã da sexta-feira (12 de abril) no campus da Universidade do Texas em Austin.

Four people on stage

Panelists at 25th ISOJ on April 12 discuss Press Forward’s efforts to fund journalism in the United States. (Patricia Lim/Knight Center)

Outras pessoas envolvidas na iniciativa participaram do painel: a diretora do Press Forward, Dale R. Anglin; o vice-presidente de jornalismo da Fundação Knight, Jim Brady; e a chefe de estratégia da Fundação Wichita, Courtney Bengston, além da moderadora, Rachel Davis Mersey, que é dean no Moody College of Communication, UT Austin. Em conjunto, trataram desde a concepção da iniciativa, até sua operacionalização na prática.

Palfrey foi o primeiro a falar, abordando as origens do movimento, anunciado em setembro do ano passado com o objetivo de distribuir US$ 500 milhões em doações para o jornalismo ao longo dos próximos cinco anos.

A Fundação MacCarthur tem, segundo disse, um “um compromisso permanente” que acontece há décadas para apoiar o jornalismo, em veículos tradicionais como PBS e NPR. Ao fazerem uma revisão estratégica, no entanto, decidiram mais do que dobrar iniciativas de apoio ao jornalismo local, destinando ao ramo, segundo Palfrey, outros US$ 150 milhões, em cima de US$ 150 milhões anteriores dedicados ao jornalismo, além de US$ 25 milhões em investimento de impacto.

Isso, todavia, ainda não era o bastante para financiar o jornalismo local. Por conta disso, segundo afirmou, Palfrey passou 18 meses “em aviões, indo de lugar para lugar”, até conseguir os atuais 57 doadores na coalizão Press Forward.

Uma iniciativa até aqui de sucesso, mas que, para lograr êxito a longo prazo, precisa ramificar e ser financiada a nível local, disse o presidente da MacArthur.

“Precisa haver financiamento local”, afirmou Palfrey. “Em última instância, o sucesso acontecerá quando pessoas nas comunidades, indivíduos, famílias e fundações familiares assumirem a responsabilidade para si e disserem ‘nós precisamos financiar o jornalismo local’. Se isso não acontecer, não vai dar certo.

O contexto em que a iniciativa surge é preocupante: de acordo com um estudo da Universidade Northwestern, 2,5 veículos locais americanos fecharam as portas por semana em 2023, e, no atual ritmo, até o fim do ano que vem, 3 mil veículos, um terço do total de redações locais americanas, irá ter fechado desde 2005.

Jim Brady, vice-presidente de jornalismo da Fundação Knight, que em setembro do ano passado anunciou uma doação de US$ 150 milhões ao longo de cinco anos para o Press Forward, foi o próximo a falar. Ele exaltou o fato de haver cada vez mais doadores para o jornalismo local, e enfatizou que é necessário que isso se torne um hábito para o negócio se tornar sustentável.

“Não há dinheiro suficiente para a filantropia nacional dar dinheiro para todas as organizações de notícias locais do país, simplesmente não há escala suficiente. Mas se conseguirmos que os financiadores locais comecem a assumir essa responsabilidade localmente, e se conseguirmos que os financiadores nacionais tenham uma visão mais ampla, então será uma parceria interessante”, disse Brady. “É uma oportunidade única de resolver este problema que nos assola nos últimos 25 anos.”

A diretora da Press Forward, Dale R. Anglin, falou sobre como o projeto funciona em seus ramos locais. Segundo afirmou, o Press Forward não busca chegar e doutrinar meios locais sobre como proceder, mas sim potencializar iniciativas locais, prestando atenção às condições de trabalho de contexto.

“São 20 ramos locais, e 20 histórias de origem”, disse Anglin, destacando que cada situação varia entre si. “Realmente não cabe à [direção] nacional vir e depois dizer aos locais como o fazer, mas sim galvanizar e educar e fazer com que as pessoas compreendam que todos nós temos este problema em todas as comunidades”.

Anglin deu alguns exemplos. Na Flórida, por exemplo, dois doadores individuais trabalharam com uma fundação comunitária para decidir onde alocar recursos. Em outras, os jornalistas tomaram a liderança.

Um exemplo de como o Press Forward está operando na prática foi dado em seguida, na fala de Courtney Bengtson, chefe de estratégia da Wichita Foundation. Bengtson iniciou sua fala descrevendo como, ao realizarem um estudo preditivo há cinco anos, a sua fundação detectou que a comunidade de cerca de 600 mil habitantes rodeada por áreas rurais no Kansas não estava informada sobre quais desafios enfrentava.

People on stage

Panelists at 25th ISOJ on April 12 discuss Press Forward’s efforts to fund journalism in the United States. (Patricia Lim/Knight Center)

“A empresa de análise preditiva disse: ‘você pode dizer todas essas coisas, mas sua comunidade nem sabe que esses desafios existem, porque não estão informadas sobre eles’”, disse Bengtson. “Na filantropia em geral, às vezes pensamos ‘podemos fazer X, Y e Z’ e como podemos afetar todas essas peças. E demos um passo atrás como organização e dissemos: ‘as pessoas precisam saber o que está acontecendo. Se eles não sabem o que está acontecendo, não podem afetar essa mudança.”

Isso fez com que a fundação onde trabalha desse um passo para trás, e que a sua própria fundação se foque em “notícias e informação”. Bengtson disse que, ao longo de cinco anos focando em apoiar o jornalismo, agora sua organização está organizada em rede com outras.

“Eu sinto que vivemos em uma ilha solitária por um tempo, e não me sinto mais assim. Sinto que agora temos uma espécie de rede de comunidades que está se unindo para realmente dizer 'ei, notícias locais e a informação são importantes na sua comunidade, tanto quanto todos os outros serviços sociais culturais que você tem. Queremos que as pessoas sejam capazes de tomar decisões informadas e engajadas sobre as coisas que afetam suas vidas cotidianas”.

Abertura de chamado nacional

Além das trocas de ideias, o debate incluiu um anúncio: segundo a diretora da Press Forward, no dia 30 de abril a iniciativa publica seu primeiro chamado nacional para apoiar projetos de jornalismo local nos Estados Unidos.

O resto do painel incluiu, entre outros assuntos, discussões sobre como mobilizar doadores locais (sugeriu-se usar mensagens que digam respeito diretamente ao interesse daqueles doadores, e mostrar como isso se relaciona à informação), e também quais são as aspirações da iniciativa a médio prazo.

Neste assunto, os palestrantes concordaram que, daqui a cinco anos, gostariam de ver um sistema econômico mais estável para o jornalismo, e que as doações para o jornalismo se tornem um hábito:

“[O sucesso é] tornar o financiamento do jornalismo local um hábito local. Torná-lo simplesmente algo que as pessoas financiam e não algo que as pessoas fazem como um esforço especial a cada um ou dois anos. Na verdade, elas dizem ‘isso é algo que me preocupa, e me preocupo com isso a longo prazo’. Se conseguirmos fazer com que muitas dessas fundações comunitárias que estão aderindo à imprensa se mantenham firmes no longo prazo, será um enorme sucesso”, disse Jim Brady, da Fundação Knight.

ISOJ é uma conferência global de jornalismo online organizada pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas da Universidade do Texas em Austin.  Em 2024, o evento celebra 25 anos reunindo jornalistas, executivos de mídia e acadêmicos para discutir o impacto da revolução digital no jornalismo.