Por Alejandro Martínez
A Procuradoria Geral da República da Colômbia abriu uma investigação contra o canal público de Bogotá, Canal Capital, relacionada à cobertura das mobilizações convocadas pelo prefeito da cidade, Gustavo Petro Urrego, anunciou a emissora.
A investigação ocorre depois que o procurador-geral do país, Alejandro Ordóñez, ordenou em dezembro a destituição de Petro Urrego – e a suspensão dos seus direitos políticos por 15 anos – por supostas falhas administrativas sérias ao fazer mudanças no sistema de coleta de lixo em Bogotá no ano passado. Petro Urrego acusou Ordóñez de emitir a ordem com motivações políticas e convocou mobilizações públicas para protestar contra sua destituição.
Em uma notificação enviada em meados de fevereiro e republicada pelo Canal Capital, a Procuradoria notificou o veículo por “supostas irregularidades por parte de Canal Capital ao realizar transmissões parciais ‘contra a procuradoria’ e motivar a realização de mobilizações utilizando indevidamente os recursos públicos para tal fim”.
A Procuradoria pediu ao canal registros da programação que estava originalmente agendada para o horário e os dias que Petro Urrego comunicou a sanção contra ele e quando ocorreram as mobilizações, bem como cópias das transmissões que foram realizadas.
Em outra notificação dirigida ao diretor do canal, Hollman Morris, a Secretaria Comum de Assuntos Disciplinares de de Bogotá também solicitou cópias dos vídeos realizados pelo Canal Capital sobre as mobilizações para avaliar medidas disciplinares contra o veículo.
Ordóñez ordenou a destituição de Petro Urrego em dezembro do ano passado. Em janeiro, uma corte de segunda instância ratificou a ordem; contudo, ela se encontra temporariamente suspensa. Petro Urrego processou o Estado colombiano na Corte Interamericana de Direitos Humanos pelo que chamou de uma perseguição política contra ele.
Canal Capital é dirigido por Morris desde 2012, ano em que Petro Urrego o convidou para o cargo. Morris, um reconhecido jornalista que recebeu a Bolsa Nieman da Universidade de Harvard em 2010, voltou à Colômbia para dirigir o canal depois de ter deixado o país por quase um ano após receber ameaças do governo do ex-presidente Álvaro Uribe e grupos paramilitares.
Em seu comunicado, Canal Capital disse que notificou organizações internacionais como a Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão da Organização dos Estados Americanos, o Relator Especial para a Liberdade de Expressão das Nações Unidas e Repórteres Sem Fronteiras sobre a investigação.
Canal Capital também citou a Fundação para a Liberdade de Imprensa (FLIP) na Colômbia, que criticou a ação contra o canal e disse que não é competência da Procuradoria investigar conteúdos jornalísticos.
“Se o motivo da ação é a suposta parcialidade, dirimir este conflito cabe à corte Constitucional. De igual forma, no caso da Procuradoria, deve-se recordar que ao adiantar investigações sobre conteúdos relativos a ela própria, estaria atuando como juiz e parte”, disse a FLIP ao Canal Capital.
O canal pediu que qualquer investigação respeite a liberdade de expressão e o direito à informação, e assegurou que continuará com sua cobertura das mobilizações.
“Canal Capital seguirá cobrindo jornalísticamente o que diz respeito às mobilizações, pronunciamentos que tenham a ver com a pretensa destituição do prefeito de Bogotá, como o que mais acontecer na cidade, sabendo que nosso dever é informar, e por isso empregaremos todos os recursos que estejam a nosso alcance para manter uma sociedade bem informada”, afirmou.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog Jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.