Por Giovana Sanchez
O número de projetos jornalísticos de checagem de informação pelo mundo quase dobrou entre 2015 e 2016, segundo uma contagem anual do Duke Reporters’ Lab. De acordo com o estudo, há hoje 96 projetos ativos de checagem em 37 países. Em 2015, eram 64 iniciativas ativas - e 44 no ano anterior.
Na América Latina, ainda de acordo com o estudo, foram sete novos empreendimentos no último ano. O Duke Reporter’s Lab fez um mapa com todas as iniciativas registradas pela pesquisa.
No Brasil, uma desses projetos acaba de ser lançado. A Agência Lupa começou a operar oficialmente em fevereiro, investigando as obras e promessas para as Olimpíadas.
No Peru, o Ojo Bionico também foi um desses novos projetos.
Segundo o diretor de jornalismo David Hidalgo, em entrevista ao Centro Knight de Jornalismo para as Américas, a iniciativa surgiu dentro do OjoPúblico “para promover o rigor jornalístico, a transparência, os dados abertos e os padrões democráticos no Peru.”
Hidalgo conta que a primeira experiência do grupo com checagem de informação ocorreu em um evento organizado pelo Chequeado, outra iniciativa de fact-checking, em Buenos Aires.
“Vimos que combinava perfeitamente com nossos objetivos e a característica do OjoPúblico, que é praticar jornalismo investigativo profundo sobre temas relevantes de interesse cidadão que não são feitos nos meios tradicionais”, disse Hidalgo.
Essa troca de ideias e de experiências entre grupos de diferentes países é uma das características dos projetos de checagem, segundo o chefe da Rede Internacional de Fact-Checking, Alexios Mantzarlis, em entrevista ao Centro Knight.
“O fact-checking é único porque transita muito bem entre contextos. Quando olhamos para iniciativas na Nova Zelandia, na Espanha e no Irã, por exemplo, elas são muito similares, são todas dedicadas a comparar afirmações com uma fonte confiável”, disse Mantzarlis.
Outra característica comum aos projetos de checagem de informação é o uso de contextos eleitorais como ganchos para o lançamento - ou mesmo teste - das iniciativas. De acordo com o estudo do Duke Reporter’s Lab, nove países terão eleições analisadas por sites de checagem de informações em 2016.
Isso acontece, segundo Mantzarlis, por uma combinação de fatores.
“Um é o fato de que em períodos eleitorais há muitos leitores interessados [na confirmação de afirmações]. Há também mais eventos para se checar: debates, discursos etc. Há uma maior audiência de pessoas querendo saber a verdade, uma grande demanda. As eleições são úteis também como pilotos, para que os projetos se tornem conhecidos, assegurar a credibilidade. Mas veja bem, não acho que seja certo que eles abandonem as iniciativas depois das eleições”, disse Mantzarlis.
O OjoBiónico está sendo reforçado nesta etapa presidencial no Peru, segundo Hidalgo.
Dificuldades
Segundo Hidalgo, a maior dificuldade do projeto é acessar certos dados que “nem sempre estão disponíveis.”
“No Peru existe uma Lei de Acesso à Informação que deveria garantir o exercício desse direito, mas se choca com restrições interpretativas por parte de organismos públicos”, disse Hidalgo
O estudo do Duke Reporter’s Lab também monitora os projetos inativos de fact-checking. No momento, segundo o relatório, 47 iniciativas estão paradas.
Daniel Moreno, diretor do portal mexicano Animal Político, explica que desde 2013 o grupo queria lançar sua iniciativa de fact-checking El Sabueso, mas que por dificuldades de recursos o projeto só saiu do papel em 2015.
“A principal dificuldade é o acesso à informação, que nos permite saber se a declaração está correta ou não. Adiciono outro elemento: nem todos os jornalistas têm os conhecimentos necessários para investigar bases de dados que permitam fazer uma verificação rigorosa”, disse Moreno.
Como forma de se manter financeiramente, a maioria dos projetos de checagem nos EUA (64%) registrados pelo estudo do Duke Reporter’s Lab “são diretamente afiliados a uma organização de comunicação”.
Mas fora dos EUA, a realidade é outra — apenas 44% dos projetos têm essa ligação.
“Os outros projetos de checagem são geralmente associados com organizações não-governamentais, sem fins lucrativos e grupos ativistas focados em engajamento civil, transparência governamental e prestação de contas”, diz o texto da pesquisa.
Além da metodologia comum de checagem — que inclui definer a frase a ser analisada, checar a fonte official, a fonte original, fontes alternativas, contextualizar e decider pela confirmação ou refutação da sentença — o Sabueso também garante à fonte entrevistada uma segunda chance para se explicar.
“A pessoa rastreada é a primeira a saber que estamos fazendo a verificação de seu discurso e tem, obviamente, a oportunidade de mostrar a fonte de sua fala. Quando acabamos o texto, voltamos a contatar a pessoa para dar-lhe uma nova oportunidade de se explicar”, disse Moreno.
Para quem está pensando em começar um projeto de checagem de informações, Mantzarlis recomenda, antes de tudo, que se tenha uma equipe de confiança.
Em um texto de fevereiro, o especialista reuniu outras sete coisas para se pensar antes de começar um projeto de checagem de informações - que são: “Perceber que correções são mais efetivas, determinar o que e quem você quer checar, estabelecer uma metodologia e divulgá-la, checar tudo - mas estar pronto para admitir a ignorância, avaliar que formatos ajudarão a ter mais impacto, dissociar o orçamento do ciclo eleitoral e formar uma boa equipe.”
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.