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Rede de investigação Connectas lança audacioso plano para sustentar o jornalismo independente na América Latina

Muitos veículos de comunicação na América Latina estão conseguindo superar desafios como censura, exílio e ameaças típicas de países autoritários ou em crise.

No entanto, persiste uma questão central: a sustentabilidade. Os veículos na América Latina, assim como a indústria jornalística global, enfrentam pressões econômicas e o desafio de encontrar novas formas de gerar receita.

Por isso, a organização sem fins lucrativos sediada na Flórida ARCCO, em conjunto com a rede transnacional de investigação Connectas e sua iniciativa Periodismo de Valor (Jornalismo de Valor), deu um passo adiante ao conectar doadores dos Estados Unidos com veículos de comunicação independentes da América Latina.

Segundo Carlos Eduardo Huertas, diretor da Connectas e CEO da ARCCO, isso será realizado por meio do lançamento de campanhas de arrecadação de fundos para apoiar organizações jornalísticas independentes da região.

"Acreditamos que esse mecanismo é inédito e inovador e que permitirá encontrar uma alternativa para atender uma das principais necessidades da região: a sustentabilidade", afirmou. "O desafio está em estabelecer uma conexão com os públicos, para que entendam que o produto jornalístico que recebem tem valor".

A iniciativa Periodismo de Valor da Connectas surgiu a partir do fundo concedido a Huertas quando ele foi um dos medalhistas de ouro do Prêmio Maria Moors Cabot em 2023, o mais antigo prêmio internacional de jornalismo do mundo, outorgado pela Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia.

O apoio também vem de pessoas como Janine Warner, diretora executiva da incubadora de mídia Sembramedia, e Martin Baron, ex-editor-chefe do The Washington Post, além de organizações como a Knight Foundation, a Carnegie Corporation e o Center for News, Technology and Innovation, segundo Huertas.

"Essa iniciativa não tem precedentes", disse Huertas à LJR. "Já houve muitas campanhas individuais. Mas ativar a colaboração jornalística para a gestão e administração de fundos é uma dimensão que não existia na região".

A ARCCO será responsável pela arrecadação e administração dos fundos. O site da ARCCO descreve a organização como "um grande articulador" e menciona entre suas atividades a gestão de campanhas de arrecadação, o apoio educacional, o fortalecimento editorial e a produção de conteúdo.

Programa piloto 

A campanha piloto de  arrecadação está sendo realizada com o El Deber, um veículo boliviano multiplataforma com mais de 70 anos de história. O jornal enfrenta um momento desafiador, assim como é o caso do jornalismo boliviano como um todo, devido à crise política no país, a agressões contínuas contra profissionais da imprensa e às eleições gerais previstas para meados de 2025.

"O El Deber está comprometido em estar à altura deste momento", disse à LJR Mónica Salvaterra, jornalista e chefe de redação do El Deber. "Como jornalistas, nosso desejo é ter a possibilidade de investigar e trabalhar em um jornalismo aprofundado e de qualidade. Essa será a finalidade do uso do dinheiro arrecadado por meio das doações. Esse é o compromisso assumido com os doadores".

O El Deber possui uma página digital com mais de dois milhões de visitas mensais, mais de 326 mil seguidores no Instagram e é o jornal impresso com maior circulação no país.

Não há valor mínimo ou máximo obrigatório para as doações, e os doadores estariam, segundo Salvaterra, apoiando a realização de reportagens investigativas, análises e encontros para discutir informações sobre realidades locais. Além disso, os doadores podem acompanhar como os recursos arrecadados estão sendo utilizados.

A campanha estará aberta até 10 de dezembro, coincidindo com uma época em que as pessoas estão mais propensas a fazer doações nos EUA: o Dia de Ação de Graças, o Giving Tuesday e o Natal. Segundo os organizadores, a ideia é conectar o público dos Estados Unidos, onde há maior cultura de doação, com a América Latina.

"Nos países da América Latina, é muito difícil que as pessoas doem por meio de sites", disse à LJR Arlén Pérez, coordenadora de operações da campanha. "Por isso, essa iniciativa permite que pessoas que estão fora, por exemplo, bolivianos nos Estados Unidos, possam contribuir".

A campanha conta com uma estrutura jurídica, tributária e técnica que possibilita que residentes fiscais nos Estados Unidos obtenham um certificado de isenção de impostos por suas doações. Pessoas físicas, empresas privadas e organizações podem doar.

O valor da Jornalismo de Valor 

A iniciativa Periodismo de Valor da Connectas também apoiou outros projetos, como Nicaragua No Calla, uma série de investigações sobre a repressão na Nicarágua, finalista do Prêmio Gabo de 2021 na categoria Cobertura.

Outros exemplos incluem o Fotopodcast, uma experiência audiovisual que destacou a situação em El Salvador, Nicarágua, Guatemala e Honduras, com a participação de mais de 43 repórteres; e La Hora de Venezuela, uma aliança de veículos criada para enfrentar a censura, perseguição e crescente repressão que assola a Venezuela desde as eleições de 28 de julho.

"Chamamos de Jornalista de Valor não apenas pela qualidade do jornalismo nesses países", disse Huertas, "mas também pela coragem demonstrada pelos jornalistas que desempenham seu trabalho em condições excepcionais diante da adversidade".

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