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SIP concede prêmio Grande Amigo da Imprensa 2024 ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas

Reconhecendo sua “contribuição significativa para o crescimento e o avanço do jornalismo e da indústria da mídia nas Américas”, a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) homenageou o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas na quinta-feira, 17 de outubro, concedendo o prêmio Grande Amigo da Imprensa 2024. A cerimônia ocorreu durante a 80ª Assembleia Geral da SIP, em Córdoba, Argentina.

Ao receber o prêmio em nome do Centro Knight, o seu diretor e fundador, Rosental Calmon Alves, descreveu a instituição que fundou em 2002 como “um sonho realizado”. 

Rosental Alves accepts the 2024 Great Friend of the Press award from the Inter American Press Association. (Photo courtesy of IAPA)

Rosental Alves recebe o prêmio Grande Amigo da Imprensa 2024 da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). (Foto cortesia da SIP)

Alves relembrou que, ao deixar o Brasil em 1996 para assumir a Cátedra Knight em Jornalismo, e posteriormente a Cátedra Unesco em Comunicação, na Escola de Jornalismo do Moody College of Communication and Media da Universidade do Texas, em Austin, sentia-se inspirado a fortalecer o jornalismo em toda a região

“Eu pensava que uma das minhas missões era ajudar meus colegas e companheiros jornalistas na América Latina. E logo que comecei a fazer isso, a primeira coisa que comecei a fazer foi vir À SIP”, afirmou Alves em seu discurso de agradecimento, dizendo-se “emocionado".

Alves afirmou que o Centro Knight, “com o apoio extremamente generoso da Fundação Knight”, tenta apoiar o jornalismo principalmente na América Latina e no Caribe por meio de diversos programas, como, por exemplo, o seu programa de cursos online. Ele relembrou que, há várias décadas, ao perceber o potencial das tecnologias digitais, vislumbrou uma oportunidade:

 “Entendemos que podíamos utilizar a tecnologia digital para ensinar os jornalistas sobre como usá-la”, disse Alves. “Foi assim que nasceu nosso programa de cursos online em 2003, e de 2003 até 2012, conseguimos alcançar cerca de 9 mil jornalistas na América Latina e no Caribe”, disse.

Em 2012, com a popularização dos MOOCs (cursos online massivos e abertos), o Centro Knight ampliou significativamente seu alcance, e nos últimos 12 anos, alcançou mais de 325 mil estudantes – em sua maioria, jornalistas, embora os cursos estejam abertos a todos.

Alves mencionou que, na próxima semana, o programa iniciará um novo curso, disponível em inglês, português e espanhol, focado no fenômeno dos influenciadores digitais: “Vamos discutir o que os influenciadores podem aprender com os jornalistas e vice-versa. Esse curso será realizado em parceria com a Unesco”, disse.

Alves também destacou a colaboração contínua com a Unesco em outros projetos: 

“Desenvolvemos um curso específico para juízes, que já foi realizado por mais de 12 mil juízes e funcionários de tribunais ao longo de sete anos”, afirmou.

Outro pilar do trabalho do Centro Knight é a LatAm Journalism Review (LJR), a única publicação na América Latina a cobrir a indústria jornalística em três idiomas (inglês, espanhol e português). “É uma publicação gratuita, e recomendo que todos a leiam”, disse Alves.

Alves também falou sobre a importância das conferências organizadas pelo Centro Knight, como o Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ, na sigla em inglês), que nesse ano celebrou seu 25º aniversário: “Em 1999, ainda precisávamos explicar às pessoas o que era a internet. Hoje, temos um acervo de todos os anos disponível online no site isoj.org”, disse.

Moody party celebrating the 25th anniversary of ISOJ at the AT&T Conference session on April 12, 2024. Patricia Lim/Knight Center

A equipe do Centro Knight celebrou 25 anos do ISOJ em abril de 2024 (Patricia Lim/Centro Knight)

Alves anunciou que a próxima conferência será realizada em março, com tradução simultânea para o espanhol, seguida pelo Colóquio Ibero-Americano  de Jornalismo Digital, evento que acontece em espanhol e “portunhol”, “um idioma importante”, brincou.

Alves também ressaltou o papel do Centro Knight na criação de organizações de jornalistas na América Latina, como a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), o Fórum de Jornalismo Argentino (Fopea), o Consejo de Redacción, na Colômbia, e o Fórum de Jornalistas Paraguaios (Fopep), entre outras.

Em entrevista à LJR, a diretora associada do Centro Knight, Summer Harlow, destacou o impacto global e a missão da organização. 

"Este reconhecimento não é apenas uma honra incrível para o Centro Knight, mas é um testemunho dos esforços de tantas pessoas que contribuíram para a nossa missão, afirmou.

Harlow destacou que a premiação reconhece as transformações concretas propiciadas pelo Centro Knight.

"Este prêmio reconhece o impacto concreto do nosso trabalho. Ele homenageia todos os jornalistas que investigam a corrupção, navegam por transformações digitais profundas e combatem a desinformação — muitas vezes enfrentando ameaças e perseguições", disse.

Harlow ressaltou que o compromisso do Centro Knight permanece firme:

"Desde 2002, o Centro Knight tem estado na vanguarda de todas as mudanças, desafios e oportunidades trazidas pelo surgimento das tecnologias digitais, e continuaremos a liderar o caminho, fornecendo o treinamento, os recursos e o apoio que jornalistas e comunicadores precisam para prosperar nesse cenário midiático em constante evolução", afirmou.

‘Padrão mundial de enorme qualidade’

O prêmio foi entregue a Alves pelo atual presidente da SIP, Roberto Rock, que afirmou que, com seus diversos programas, o Centro Knight “beneficiou milhares de jornalistas ao redor do mundo”. Rock deu especial atenção aos atuais programas de treinamento do centro.

"Do meu ponto de vista, eles têm um padrão mundial de enorme qualidade", disse Rock ao apresentar Alves. "Estão atentos às tendências globais e conseguem trazer especialistas para compartilhar seu conhecimento e experiência em seminários dinâmicos, alegres, instrutivos e generosos. Além disso, são os seminários mais economicamente acessíveis no mercado".

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A SIP reconheceu o trabalho do Centro Knight para o jornalismo e a mídia (Foto cortesia de Rosental Alves)

Rock detalhou a extensa trajetória profissional de Alves, que começou sua carreira jornalística muito cedo, aos 16 anos, cobrindo temas de segurança pública e acontecimentos no Rio de Janeiro, sua cidade natal. 

Com uma carreira que se estendeu por 27 anos no Brasil, Alves foi um dos pioneiros no jornalismo digital no país, lançando em 1995 a primeira edição de um jornal brasileiro na internet, o JBOnline, um marco que se adiantou às transformações tecnológicas que viriam a seguir.

Rock relembrou 1987 foi o primeiro brasileiro a ser agraciado com uma bolsa da Fundação Nieman para Jornalismo da Universidade Harvard, em Cambridge (Estado de Massachusetts), nos EUA.  Segundo Rock, lá houve um marco importante: 

"Ele ouviu pela primeira vez as palavras ‘revolução digital’ e teve uma epifania: soube que esse seria o caminho do futuro", disse Rock. "Essa visão foi compartilhada com legiões de jornalistas nas Américas e em outras partes do mundo. 

Rock afirmou que, por décadas, Alves promove a transformação digital dos veículos, advertindo aos líderes da indústria sobre suas mudanças estruturais.

"Na base dessa tarefa evangelizadora, há uma trajetória política muito importante", disse Rock.

Ao finalizar, Rock mencionou a contribuição de Alves em projetos investigativos importantes, como a pesquisa sobre jornalistas assassinados no Brasil, que analisou caso a caso as vítimas de violência contra a imprensa.

Por fim, Rock agradeceu à família de Rosental, em especial à sua esposa, Claudia, e aos seus quatro filhos, que o apoiaram ao longo de sua trajetória profissional. 

“Ele é um viciado em trabalho, e eu acredito que, mesmo quando descansa, trabalha. Uma salva de palmas para Rosental, um grande amigo da imprensa”, disse Rock.

Futuro otimista, mas angustiado

Após a premiação, houve uma conversa entre Rosental, Rock e José Roberto Dutriz. Alves destacou a importância de abraçar a inovação para que a profissão continue relevante.

"Eu sou otimista em relação ao futuro, apesar de todos os problemas e das mudanças radicais que estamos vendo. O jornalismo sempre existiu em qualquer formação de sociedade humana, desde a época das cavernas", afirmou Alves.

Alves acrescentou que, embora o jornalismo como o conhecemos hoje tenha cerca de 150 a 200 anos, não há garantias de que essa forma se mantenha por outros 200 anos.  "Por isso, devemos abraçar a inovação e o empreendedorismo. Não rejeitar as inovações", disse.

Two men on stage

Rosental Alves criou o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas em 2002. (Foto cortesia de Gabriela Vivanco)

Alves admitiu sentir angústia frente às mudanças rápidas, especialmente por conta das incertezas em torno do impacto da inteligência artificial no campo jornalístico. 

"Eu me sinto um pouco angustiado em relação a essa mudança porque não tenho o conforto que tinha quando tive aquela epifania em 1987-88, sabendo o que estava por vir. A inteligência artificial apresenta oportunidades e desafios enormes, e vai mudar tudo", disse. “A lição que devemos aprender em relação à inteligência artificial é não repetir o mesmo erro de não compreender a magnitude desta revolução".

Outro ponto abordado por Alves foi a desinformação. Ele ressaltou que o jornalismo precisa enfrentar esse desafio com novas estratégias de transparência e engajamento do público.

 "Vemos um movimento mundial de destruição da democracia que começa por desmoralizar a imprensa como o primeiro elo”, disse Alves, enfatizando que a recuperação da credibilidade é fundamental para a sobrevivência da imprensa.

Alves recomendou a adoção de novas técnicas de transparência para explicar ao público como o jornalismo funciona, uma vez que o monopólio da informação não existe mais.

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