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Site cubano 14ymedio busca maior independência e engajamento com novo modelo de associação para leitores

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  • 20 dezembro, 2017

Por Chelsea Moreno

O site nativo digital cubano 14ymedio está apostando em um novo programa de associação para leitores para garantir independência e aumentar o engajamento.

“Queríamos usar a associação como oportunidade para termos mais diálogo como nossos associados, e queríamos fazer de uma forma que nos permitisse preservar nossa independência como veículo de mídia", Alejandro González, que lidera os esforços de desenvolvimento e inovação no site, disse ao Centro Knight. O veículo apresentou o programa em novembro.

Independência está na essência dos objetivos do 14ymedio. O site foi fundado em 2014 por Yoani Sánchez e Reinaldo Escobar com a esperança de redefinir o significado do jornalismo independente em  Cuba, país onde a comunicação é fortemente controlada pelo governo – tanto que o website do 14ymedio é bloqueado no país.

A ideia de desenvolver o modelo de associação veio da necessidade de desenvolver uma fonte de renda adicional.

As associações de leitores, lançadas em novembro, incluem escolhas entre o plano "amigo" por US$ 5,99 por mês, ou US$ 60 por ano, e um plano "família" por US$10,99 por mês ou US$115 por ano.

Como o preço de associar-se pode ser alto para cubanos, cuja maioria vive de modestos salários mensais, o programa é voltado para pessoas que vivem fora da ilha.

“A associação é uma oportunidade para a diáspora cubana e para outros apoiadores participarem diretamente na transformação do jornalismo independente em Cuba", explicou Gónzalez, que confirmou que todo o conteúdo do site continua livre para todos. A associação apenas libera vantagens adicionais.

Ambos os planos de associação incluem convites para conferências em vídeo e conversas online com os repórteres do site, além de uma newsletter trimestral sobre as atividades do 14ymedio.

O plano família inclui também um extra: uma fotografia de um fotógrafo cubano como presente por se associar.

“Nossa esperança é que o modelo de associação seja uma das principais, se não a principal, fonte de renda para o 14ymedio para que tenhamos completa liberdade em nosso trabalho editorial para…sermos o mais abertos e transparentes em tudo que fazemos”, disse González em uma entrevista por telefone. “São histórias cubanas contadas por vozes cubanas – não histórias cubanas contadas por vozes de veículos internacionais”.

González disse que essa abordagem se encaixa perfeitamente com a nova oportunidade de associação desenvolvida recentemente pelo site.

“Não aceitamos nenhum tipo de financiamento do governo, de partidos políticos, ou de organizações de ajuda”, disse.

González também disse que os jornalistas do site já foram presos e tiveram o trabalho confiscado anteriormente, mas este é um risco que a equipe aceita correr.

Os cubanos podem acessar o site usando um proxy, o que significa que os leitores registram um endereço de IP de fora do país para entrar no 14ymedio. O site também distribui seu conteúdo nas mídias sociais e em newsletters por e-mail, onde os jornalistas publicam o texto inteiro, ao invés de links. Além disso, eles criaram uma versão em PDF das principais notícias da semana, distribuídas na ilha por meio de pen drives.

González afirmou que, anteriormente, o dinheiro que financiava o site vinha de doações, parcerias com universidades, ajudas individuais, publicidade e parcerias com outros veículos de mídia. Ele explicou que encontrar formas inovadoras de financiar o site é o foco dele desde que entrou para o 14ymedio, em setembro de 2014, e é isso que levou a organização tão longe.

Entre os parceiros já estiveram: University of Miami, Georgetown University, International Center for Journalists (ICFJ), Pulitzer Center on Crisis Reporting, International Women’s Media Foundation (IWMF), El Nuevo Herald e Miami Herald.

“O objetivo é dizer que queremos fazer parte de um diálogo sobre mídia independente e o papel que ela tem ao redor do mundo", disse González.

A mais recente parceria foi com o Reynolds Journalism Institute da faculdade de Jornalismo da University of Missouri, na qual González ajudou a criar o modelo de associação do 14ymedio como fellow RJI.

González contou que passou um ano trabalhando com uma equipe de estudantes, aprendendo como os veículos de jornalismo de todo o mundo estruturam suas associações. Eles analisaram veículos de mídia como Voice of San Diego, Main Post, The Guardian e Eldiario.es. A equipe do 14ymedio também estudou a forma como o Nómada, site de jornalismo da Guatemala, faz crowdfunding.

“Nós realmente nos baseamos muito na expertise dos professores e da equipe”, disse González. “Encontramos elementos que achamos que funcionariam para nós e outros que não funcionariam”.

Após isso, eles voltaram o foco para dentro, perguntando a leitores diretamente o que eles prefeririam por meio de formulários, de um em um. Os consumidores pediram por mais presentes de souvenir de Cuba, algo que González disse ser mais difícil de executar do que parece.

“Simplesmente não temos a mão de obra”, disse, explicando que a equipe toda tem 15 integrantes, alguns deles não são pagos. “Bolamos um modelo que acreditamos ser viável, e pode não ser o modelo que usaremos para sempre, mas é um produto viável mínimo”.

Uma das principais responsabilidades de González é desenvolver recursos para melhor o trabalho da equipe do 14ymedio, o que inclui participar do Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ, na silga em inglês) do Centro Knight para Jornalismo nas Américas, na University of Texas at Austin. Em termos de melhorias, a equipe tem trabalhado em contar histórias – incluindo vídeo, dados e jornalismo investigativo – que tenham maior impacto no público, disse González.

Mas não é sempre apenas sobre o jornalismo. González disse que os jornalistas do 14ymedio enfrentam vários desafios ao fazer seu trabalho, incluindo censura do governo.

Além de o 14ymedio ser bloqueado em Cuba, o acesso à internet é limitado e caro.

“Estamos competindo com o fato de que notícias não são prioridade para todo mundo, especialmente em um país onde as notícias não são vistas com objetividade e independência", disse González.

Outro desafio é que os jornalistas do site são jovens e não têm muita experiência. Mas, ao final, o 14ymedio vai investir parte do dinheiro gerado pelo programa de associação em desenvolver oportunidades profissionais para a equipe, adicionou González.

O esforço constante para melhorar o trabalho dos jornalistas é visível. Os integrantes da equipe do 14ymedio estão trabalhando em um app para celular para permitir que os consumidores em Cuba possam compartilhar informação por meio de Bluetooth, de um celular para outro. Ainda não há previsão de lançamento, no entanto. De qualquer forma, González afirma que o site preenche uma necessidade importante.

“Existe um interesse legítimo em empoderar o trabalho que você faz", disse, acrescentando que é isso que os inspira a continuar. "Você realmente se abre a um novo leque de leitores que vão te apoiar por causa do seu trabalho".

Ele também afirmou que a equipe do 14ymedio aceita sempre o apoio de seu público e encoraja a todos a participarem dos esforços em melhorar o site.

*Chelsea Moreno é estudante de jornalismo na Faculdade de Comunicação Moody da Universidade do Texas em Austin. Este post foi produzido na classe Reportando a América Latina.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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