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Site investigativo de Porto Rico que revelou mensagens que levaram à renúncia do governador "nunca" previu impacto de reportagem

“Estamos super impactados, digamos assim, pasmos com o modo como tudo estava evoluindo. Nós ficamos, tipo, 'uau'. Muito forte, muito forte”, disse Carla Minet, diretora executiva do Centro de Jornalismo Investigativo (CPI, por sua sigla em espanhol) de Porto Rico, ao Centro Knight.

Na madrugada de 13 de julho, o CPI publicou uma reportagem sobre mensagens vazadas de um chat privado entre o governador de Porto Rico, Ricardo Rosselló, e seu círculo íntimo. As mensagens, muitas vezes grosseiras, relacionadas com as recentes detenções de ex-altos funcionários acusados ​​de corrupção, levaram a grandes protestos populares. Onze dias depois, Rosselló anunciou que renunciaria ao cargo.

“Tudo foi muito inesperado. A verdade é que nunca previmos que as coisas iriam se desenvolver dessa maneira, ou que um cenário como o que aconteceu era possível”, disse Minet.

A equipe no Centro para Jornalismo Investigativo em Porto Rico (Arquivo pessoal)

A equipe no Centro para Jornalismo Investigativo em Porto Rico (Arquivo pessoal).

Na reportagem “Las 889 páginas de Telegram entre Rosselló Nevares y sus allegados” (“As 889 páginas do Telegram entre Rosselló Nevares e seu círculo”, em tradução livre), o site publicou a íntegra de um chat do Telegram vazado contendo mensagens entre o governador e seus funcionários e colaboradores do fim de 2018 até o início de 2019. As conversas desse chat revelariam uma suposta rede de tráfico de influência e conflitos de interesse dentro do governo, de acordo com o CPI.

“O Centro vinha realizando há várias semanas uma investigação que envolveu vários participantes do chat, muito antes de sabermos da existência de um chat. Soubemos que uma das fontes com as quais estávamos trabalhando na investigação tinha acesso ao chat e lhe dissemos que tínhamos interesse nele”, disse Minet.

Três dias depois de publicar a reportagem com o chat completo, o CPI publicou a investigação “El saqueo a los fondos públicos detrás del chat” (“O saque aos fundos públicos por trás do chat”, em tradução livre), que deu mais profundidade à revelação das mensagens, disse a jornalista, porque explicou com mais profundidade o suposto padrão de corrupção no círculo próximo ao governador.

“Na verdade, quando estávamos investigando e quando conseguimos o acesso ao chat, aquilo em que obviamente estávamos pensando era a reportagem, era fiscalizar e buscar a prestação de contas dessas autoridades que estavam cometendo violações à lei. Esse era o nosso interesse”, disse Minet.

A jornalista explicou que a indignação pública gerada pelo escândalo do chat se deve a um mal-estar social acumulado. Há uma década, a ilha vem passando por uma importante crise fiscal, econômica, uma falência, além de ter sido atingida por furacões como o Maria em 2017, o que vem “precarizando a vida das pessoas aqui em Porto Rico, e isto [a revelação das mensagens] foi a gota d’água”, disse Minet.

Após a reportagem colaborativa sobre o furacão María, “Los muertos de María”, o CPI ganhou em 2018 o Prêmio Latino-Americano de Jornalismo Investigativo Javier Valdez, organizado pelo Instituto de Imprensa e Sociedade do Peru (IPYS), Transparência Internacional e Open Society Institute.

Juntamente com a Associated Press (AP) e o site norte-americano Quartz, o CPI trabalhou por meses em toda a ilha coletando testemunhos dos sobreviventes do furacão categoria 5 que castigou a ilha em setembro de 2017. Durante as semanas após a tempestade, o governo não informou em tempo hábil o número real de vítimas deixadas pelo furacão.

No momento, enquanto se espera a saída do governador de sua residência oficial, conhecida como La Fortaleza, os jornalistas do CPI continuam suas investigações e reportagens.

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