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Terceira Conferência Latino-Americana sobre Diversidade no Jornalismo discute como visões interseccionais beneficiam cobertura da mídia

"O que aconteceu nestes dois dias foi realmente inspirador. Nós nos inspiramos no bom jornalismo, nas comunidades e na forma como podemos contar histórias quando unimos diferentes realidades, exploramos territórios e nos unimos respeitando as diferenças", disse Edilma Prada, editora do veículo Agenda Propria, da Colômbia, durante o encerramento da Terceira Conferência Latino-Americana sobre Diversidade no Jornalismo.

A Rede para a Diversidade no Jornalismo Latino-Americano (Redipe) realizou a sua terceira conferência online gratuita nos dias 20 e 21 de outubro de 2023, com o apoio do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas.

A conferência reuniu palestrantes de oito países da região que se concentraram nos seguintes temas: jornalismo como forma de resistência às ameaças aos direitos humanos, cobertura da infância, defesa de território e comunidades indígenas e suas culturas, importância das novas narrativas e colaboração em redes; e liberdades individuais e direitos reprodutivos sexuais.

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Edilma Prada, editora do Agenda Propria, da Colômbia (Foto: Captura de tela)

"Estou convencida de que não é hora de separar os indígenas, os negros, as feministas, etc. Dessa forma, estamos nos dividindo e, sem perceber, estamos contando histórias usando essas divisões. O jornalismo deve unir todas essas perspectivas e leituras, afinal, o que buscamos é nos enxergar mutuamente", disse Prada.

Durante a conferência, foi enfatizada a importância de incluir uma visão interseccional nas questões de diversidade.

No primeiro painel da conferência, intitulado "Desafios para uma cobertura livre de estereótipos, discriminação e discursos de ódio", a jornalista e ativista pelos direitos das pessoas com deficiência Bárbara Anderson concordou que a interseccionalidade nesses assuntos é importante.

"Devemos começar a ver as pessoas de maneira mais integral. Não podemos dizer: 'esta é uma pessoa da comunidade da diversidade sexual e vou colocá-la nesta categoria; e esta é uma pessoa migrante e vou colocá-la em outra categoria'. Todos nós somos integrais e temos várias condições que nos definem", disse Anderson.

Para ela, uma pessoa pode se identificar com várias categorias, por exemplo, é possível contar histórias de mulheres indígenas que também tenham deficiência, sejam imigrantes e façam parte da comunidade LGBTQ+.

"Seria fantástico começar a conectar e aproveitar toda a variedade de experiências e aprendizados que outras comunidades tiveram. Existem muitos pontos de conexão e interesses comuns que nos permitiriam, sem dúvida, ampliar nossas perspectivas", acrescentou Anderson.

Diversidade e serviço no jornalismo

Vários meios de comunicação independentes presentes na conferência concordaram sobre a importância de os jornalistas se capacitarem para abordar pessoas que passaram por situações traumáticas. Em muitos casos, os palestrantes jornalistas sentiram que, ao cobrir temas de diversidade, acabam realizando um jornalismo voltado para soluções ou serviço.

No caso do veículo La Verdad Juárez, do México, seus jornalistas se tornaram pontos de referência para que migrantes e seus familiares exerçam seus direitos.

"Houve um caso de um jovem trans que saiu de sua cidade, no Equador, se identificando como mulher e chegou à fronteira se identificando como homem e foi assassinado. A família não sabia a quem recorrer, não sabia como lidar com essa diversidade, não sabia como obter o apoio de sua embaixada, não tinha certeza se ele tinha desaparecido, atravessado a fronteira ou onde estava", contou Rocío Gallegos, jornalista e diretora do La Verdad.

Gallegos disse que a equipe do La Verdad conseguiu ajudar a família e finalmente dar visibilidade ao incidente. Assim como nesse caso, a equipe do La Verdad é contatada por centenas de migrantes e familiares que não sabem para onde recorrer em relação a desaparecimentos ou crimes na fronteira. Eles acabam fazendo um trabalho que vai além de sua tarefa jornalística.

Os palestrantes enfatizaram que, para que o público se sinta seguro ao entrar em contato com o veículo, a informação deve ser cuidadosamente verificada.

"Se o jornalismo não ouvir seu público, se continuar o vendo como alguém que  apenas recebe informações, acho que é impossível estabelecer essa conexão. O jornalismo deve servir alguém, pois, do contrário, acredito que é apenas um exercício de ego", destacou a jornalista colombiana afrofeminista Beatriz Valdés.

Território e infância

Durante a sessão de abertura da conferência, a comunicadora afroperuana Ana Lúcia Mosquera falou sobre a necessidade de entender o jornalismo a partir e para as diversidades, como uma maneira de construir novas narrativas que devolvam a humanidade a comunidades historicamente marginalizadas.

Entre essas comunidades estão povos indígenas e afrodescendentes. Durante a conferência, foi discutida a necessidade de as próprias comunidades contarem suas histórias.

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A conferência reuniu oito representantes de veículos da região (Foto: Captura de tela)

A jornalista venezuelana Madelen Simó apresentou sua experiência na criação da série jornalística intitulada “Dibujando mi realidad”, composta por reportagens e vídeos animados realizados em um processo de cocriação com crianças de 13 territórios de povos e nações originárias. Simó aproveitou para compartilhar o manual editorial criado pelo meio independente Agenda Propria com instruções para reportar e produzir histórias sobre a infância indígena.

Também foram apresentados outros projetos que buscam dar visibilidade a comunidades negligenciadas. A jornalista mexicana Aranzazú Ayala Martínez apresentou o projeto “Periodismo de lo posible”, que consiste em 12 podcasts realizados por jornalistas de rádios comunitárias e jornalistas comprometidos com as lutas sociais, narrando histórias em que as comunidades defendem seus territórios e identidades contra o despojo e a destruição.

O objetivo desta conferência, segundo seus organizadores, era reconhecer a diversidade e as diferentes redes que estão se formando enquanto se promove uma maior participação no jornalismo.

"Eu faça um chamado para que, após todas essas conversas e experiências, nós também promovamos um espaço à esperança", disse Prada. "Convido a dar espaço a mais vozes de esperança em momentos em que há muita dor".

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