Depois de pouco mais de oito meses de preparação e de chegar a acordos entre as organizações que apoiam a nova iniciativa de verificação de dados na região, o Uruguai se uniu à luta contra a desinformação com o lançamento do site de fact-checking Verificado.uy no dia 22 de julho.
A iniciativa é uma coalizão entre meios de comunicação, academia e organizações da sociedade civil que a torna “histórica em nível mundial”, segundo disse Analía Matyszczyk, coordenadora de Verificado, ao Centro Knight.
“Para combater a desinformação, não basta o jornalismo. Claro que é necessário, é importante que a imprensa esteja nessa coalizão, é a grande força! Mas não é o suficiente”, disse Matyszczyk.
A coalizão começou com a inquietude de um grupo de jornalistas que entendeu que, assim como em outros países do mundo ou na região, como nos casos do Brasil e da Colômbia, as eleições presidenciais são um cenário perfeito para a disseminação de desinformação. Mas eles também entenderam que combater essa desinformação não seria possível sem o jornalismo colaborativo, explicou Matyszczyk.
“Um meio de comunicação isolado não pode alcançar todos os tipos de público que existem para divulgar uma checagem. Por isso é importante ter entre todos uma rede de amplificação”, disse ela.
De fato, experiências anteriores em nível internacional, como o Comprova no Brasil e o Verificado no México, lhes mostraram que o jornalismo colaborativo era necessário.
Com essa idéia, diferentes meios começaram a se reunir para formar uma coalizão jornalística que reúne mais de 70 empresas de rádio, televisão, sites, jornais impressos, agências internacionais de notícias e jornalistas independentes. Seu objetivo será "defender a qualidade informativa da campanha eleitoral", segundo um comunicado de Verificado.
"Ficou um grupo bastante interessante", disse Matyszczyk. "Há meios de comunicação que têm leituras da realidade com linhas editoriais bastante distintas, e isso é muito louvável em nível nacional porque é uma coalizão sem precedentes na história do país".
Fazem parte deste grupo quatro universidades, públicas e privadas, bem como organizações da sociedade civil.
A iniciativa conta com financiamento de organizações internacionais como First Draft, Facebook, Google News Initiative e Fundación Avina, que permitiu a criação de uma redação de jornalistas que estão sendo treinados por especialistas locais e internacionais em “rastreamento e verificação de boatos a nível de plataformas digitais e na análise dos discursos políticos”, informou o comunicado de lançamento do projeto.
Essa equipe, que tem sido treinada desde dezembro de 2018, é composta por cerca de 20 pessoas, incluindo jornalistas adultos, jovens e muito jovens, como são os estudantes de jornalismo de universidades que fazem parte da coalizão. A equipe de fact-checking que compõe o Verificado vai trabalhar no Media Lab do jornal la diaria, que faz parte da coalizão.
“É importante destacar que Verificado não é propriedade de nenhuma empresa informativa, trabalha independente como resultado da união formada pela coalizão, mas nenhum meio tem hierarquia sobre o outro”, disse Matyszczyk.
Como a iniciativa foi criada exclusivamente para a campanha eleitoral - cujo primeiro turno será no último domingo de outubro e o segundo será no último domingo de novembro - seu trabalho estará concentrado em verificar dois tipos de conteúdo: boatos que se tornem virais nas redes sociais e os discursos públicos, que incluem declarações de políticos, candidatos a cargos governamentais e governantes em exercício, de acordo com o site do projeto.
Matyszczyk explicou que uma vez que a equipe verifique a informação, ela criará textos e vídeos que serão compartilhados com todos os meios que fazem parte da coalizão e que serão responsáveis por disseminá-los em suas plataformas. Como parte de sua estratégia, a equipe não compartilhará os vídeos ou links para o boato para evitar que se espalhe ainda mais, mas usarão capturas de tela.
O objetivo é fazer um número determinado de checagens semanais, embora, como Matyszczyk explicou, esse número ainda não esteja claro, porque dependerá do “fluxo de desinformação que surgir. Provavelmente em outubro os fluxos de trabalho vão se intensificar muito mais porque estaremos mais próximos da celebração eleitoral.”
Até o momento, Verificado.uy planeja operar até novembro, quando termina o período eleitoral.
"Gostaríamos muito de ter orçamento e sustentabilidade para chegar às eleições municipais de 2020, mas este é um desafio posterior", disse Matyszczyk. "Agora, todos os recursos estão dedicados a essa atividade, que é desenvolver a cobertura da campanha eleitoral de 2019."
“O importante é pensar isso desde o impacto que Verificado deixa ao redor do mundo, que é um projeto cívico-jornalístico diferente de todas as experiências de jornalismo colaborativo que já aconteceram nos últimos anos”, disse ela. “Acho que é muito valioso porque a desinformação é um problema que não é patrimônio do jornalismo, mas deve incluir todos os membros de uma sociedade e essa abordagem é muito importante para conseguir melhores resultados”.