Por Trisha Dasgupta
Jornalista vencedora do Prêmio Pulitzer, Mar Cabra abordou problemas generalizados de saúde mental enfrentados por jornalistas no 24º Simpósio Internacional de Jornalismo Online (ISOJ). Em seu workshop de almoço, ela falou sobre as taxas crescentes de ansiedade e depressão encontradas entre os profissionais da mídia após a pandemia.
“O Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ) fez uma pesquisa sobre o efeito da pandemia nos jornalistas e uma das principais questões, citada como um dos principais desafios que os jornalistas enfrentavam, eram os problemas de saúde mental”, disse Cabra. “Vimos dados vindos de diversos países mostrando a mesma realidade, que é como nossa saúde mental está sendo desafiada em nível recorde.”
Cabra é fundadora da The Self-Investigation, uma fundação destinada a fornecer serviços e recursos de saúde mental para jornalistas em todo o mundo. O seu workshop de almoço foi chamado “Como operacionalizar a saúde mental e o bem-estar na redação”.
“A boa notícia sobre tudo isso é que finalmente estamos começando a quebrar o estigma em torno da saúde mental no jornalismo”, disse ela. “Mas os dados estão mostrando uma realidade muito sombria.”
A questão ultrapassa a América do Norte – jornalistas em lugares onde a liberdade de imprensa e informação não é garantida enfrentam taxas ainda maiores de ansiedade.
“Se olharmos para dados vindos de países tão variados como Canadá, Equador ou Espanha, com acesso à informação, liberdade de informação, liberdade de imprensa e situações domésticas muito diferentes, os dados mostram que pelo menos 60% dos trabalhadores da mídia nesses países relataram altos níveis de ansiedade”, disse Cabra.
À medida que as preocupações com a saúde mental na redação ganham destaque, Cabra não é a única jornalista a falar sobre essas questões. Em setembro de 2022, Ed Young, que ganhou o Prêmio Pulitzer por sua cobertura aprofundada da pandemia de Covid-19, falou sobre suas lutas com a saúde mental e sua decisão de tirar um ano sabático. A experiência de Young ecoa a de Cabra e muitos outros jornalistas, disse ela.
“Esses últimos três anos foram os mais significativos profissionalmente da minha vida, mas também me quebraram profundamente”, disse Yong em um tuíte. “A pandemia ainda não acabou, mas depois de muito tempo olhando para o sol, preciso piscar.”
Cabra, que liderou a equipe de jornalistas na divulgação e investigação dos Panama Papers, disse que ela mesma enfrentou o esgotamento depois de anos trabalhando em histórias geradoras de alto estresse.
“Era para ser o melhor momento da minha carreira, eu estava no nível mais alto da minha carreira. Mas foi um dos momentos mais baixos também”, disse Cabra. “Eu estava trabalhando sem parar 16 horas por dia, às vezes por muitos, muitos anos. Eu estava acumulando estresse, muito estresse por muito tempo.”
O programa do The Self-Investigation visa fornecer recursos preventivos que abordam a causa raiz dos problemas de saúde mental dos jornalistas, em vez de métodos paliativos. Dessa forma, repórteres e profissionais de mídia podem ajudar antes que cheguem ao ponto de esgotamento total.
“Quando parei para perceber que tinha todos os sinais de esgotamento, já havia esgotado”, disse Cabra. “Quais eram aqueles sinais que eu havia perdido e aos quais não respondi, e provavelmente por eles tive que acabar dando uma pausa na minha carreira. Bem, eu estava fisicamente e mentalmente exausta por muito tempo.”
No entanto, apesar dos índices crescentes de ansiedade e depressão, existem muitas maneiras de implementar programas e sistemas nas redações que podem combater o esgotamento e o alto estresse, de acordo com Cabra.
“Precisamos ter programas de treinamento de suporte organizacional em várias camadas e, claro, transparência e comunicação”, disse ela. “A verdadeira revolução para as apostas em saúde mental começando agora no jornalismo para mim tem a ver com a forma como integramos bem-estar e saúde mental nos nossos valores fundamentais e na forma como atuamos”.
