A Comissão Nacional de Telecomunicações da Venezuela (Conatel) tirou duas redes colombianas do ar.
A Caracol Televisión foi removida à meia-noite em 23 de agosto. A RCN Televisión foi inicialmente retirada da maioria das operadoras de TV a cabo, e posteriormente excluída da DirecTV às 17h32, em 24 de agosto, de acordo com a News RCN. A NTN24, que faz parte da RCN Televisión, foi tirada do ar na Venezuela em 2014.
A Conatel explicou a decisão de remover as estações comunicando que as empresas "colaboraram com a divulgação de uma mensagem que incitou o assassinato do presidente da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro Moros", de acordo com a BBC Mundo. A reguladora de telecomunicações disse que remover as redes era uma "medida de precaução" em resposta à abertura de um processo administrativo. O comunicado de imprensa citou o ex-presidente da Conatel, Andrés Eloy Méndez, dizendo que os canais "atacaram a Venezuela", acrescentou BBC Mundo.
A ação ocorre poucos dias depois que o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, ofereceu asilo ao procurador-geral venezuelano, Luisa Ortega Díaz, fugido do país depois de ser demitida no dia 4 de agosto e ter um mandado de prisão emitido para o marido, um deputado do partido do governo, segundo o Miami Herald. Ortega disse que tem provas que implicam o presidente Nicolás Maduro em corrupção.
Além disso, “Maduro recentemente denunciou uma "terrível campanha" contra seu governo e acusou diretamente a mídia colombiana, como a Caracol e os jornais El Tiempo e El Espectador”, informou a Notícias Caracol e a AFP.
Em relação à decisão que a tirou do ar, a Caracol disse que "sempre realizou seu trabalho jornalístico de forma objetiva e verdadeira, seguindo os princípios considerados fundamentais: oferecer jornalismo com contexto e ouvir todos os pontos de vista".
O canal disse que esperava voltar em breve.
Oficiais colombianos e organizações regionais também condenaram a decisão.
"Tenho que me arrepender do que aconteceu, é outra demonstração de um regime que não gosta de liberdades, um regime que restringe as liberdades de seus cidadãos", disse o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, sobre a remoção da Caracol, de acordo com o jornal colombiano El Espectador.
Ao retirar a rede do ar, a Venezuela "afastou-se do sistema democrático e atua cada vez mais como uma ditadura", disse o líder colombiano, conforme relatado pelo jornal.
Luis Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), disse no Twitter: "A ditadura teme a verdade e atinge a mídia". Ele acrescentou que tirar a Caracol e a RCN do ar "é um passo [a mais] na sistemática violação da liberdade de imprensa".
RCN Televisión, Notícias RCN e o Sistema de Notícias Internacionais da RCN lançaram um comunicado em 24 de agosto denunciando o "ato administrativo de censura" contra a Caracol Televisión.
Os canais comunicaram que a decisão da Conatel "confirma o padrão sistemático de censura que infunde a tomada de decisão no Palacio de Miraflores, o que não só confirma o humor autoritário da administração de Nicolás Maduro, mas também prejudica seriamente os direitos da sociedade civil e dos meios de comunicação consagrados em padrões nacionais, regionais e internacionais que protegem a liberdade de imprensa e de expressão".
A Caracol Televisión e a RCN Televisión são os casos mais recentes, mas não os únicos veículos internacionais a serem alvo do governo venezuelano neste ano.
Em 22 de agosto, jornalistas da agência de notícias britânica Reuters foram expulsos de uma coletiva de imprensa realizada pelo presidente Maduro, de acordo com o Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa da Venezuela.
Vários correspondentes estrangeiros foram impedidos de entrar no país ou até expulsos, muitas vezes antes dos grandes protestos convocados pela oposição.
Também este ano, a CNN en Español foi retirada do ar na Venezuela em fevereiro. O canal colombiano El Tiempo e o canal argentino Todo Noticias também foram tirados no ar, meses depois.
Em uma coletiva de imprensa em 23 de agosto, o presidente Maduro criticou vários veículos internacionais, dizendo que era "difícil neutralizar o poder mentiroso da CNN, da Fox News e da BBC", de acordo com a BBC World. Ele também disse que a BBC "tornou-se o maior aparelho de propaganda para a intervenção militar" em seu país.
Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.