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Vinte anos de jornalismo online na Ibero-América são contados em livro pela primeira vez

A história do jornalismo on-line, ou jornalismo digital, na América Latina tem cerca de 20 anos. No entanto, pouca literatura investigativa sobre este tema poderia ser encontrada na época.

A fim de preencher este espaço, o livro Ciberperiodismo en Iberoamerica, do pesquisador e jornalista espanhol Ramon Salaverría, foi publicado recentemente em Madri (Espanha). A obra conta o nascimento e a evolução do jornalismo e dos meios digitais nos 22 países da Ibero-América de 1995 até 2014.

Salaverría - pesquisador, professor de jornalismo e diretor do Centro de Estudos de Internet e Vida Digital da Escola de Comunicação da Universidade de Navarra, na Espanha - é autor da obra de 481 páginas, que detalha em capítulos separados o desenvolvimento do jornalismo digital em cada país de língua espanhola e portuguesa. O livro teve a participação de 30 pesquisadores de toda a Ibero-América.

Em uma entrevista ao Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, Salaverría disse que o principal objetivo do livro é contar com referências precisas a história do jornalismo on-line para testemunhar seu nascimento e seus primeiros passos na comunidade Ibero-americana.

No prefácio, o jornalista brasileiro Rosental Alves, fundador e diretor do Centro Knight, afirma que Ciberperiodismo en Iberoamérica é uma contribuição sólida para a limitada literatura que existe nesta área de pesquisa em comunicação na Ibero-América. "Vinte anos depois, há uma centena de vezes mais usuários de Internet no mundo, cerca de 3 bilhões de pessoas", observou Alves.

O livro contém 22 capítulos que respeitam a mesma estrutura, permitindo uma análise comparativa dos mercados jornalísticos nacionais na região. Cada capítulo tem quatro partes: contexto tecnológico; história do jornalismo on-line no país; perfil profissional, formação e enquadramento jurídico; e futuro.

Entre as principais dificuldades encontradas durante os três anos de pesquisa para o livro, estava a disparidade das fontes consultadas, disse Salaverría. Um problema particularmente importante por causa da estrutura necessária para estabelecer capítulos comparativos.

"Encontramos dados estatísticos muito distorcidos e muito pouca transparência na informação, por isso decidimos usar fontes confiáveis como o Banco Mundial e a União Internacional de Telecomunicações, principalmente", disse o autor ao Centro Knight.

Um dos dados importantes que revela o livro é que, apesar das possibilidades ilimitadas que dá o ciberespaço, os países ibero-americanos sempre procuraram atrair usuários nacionais.

Isso se deve, de acordo com a pesquisa realizada por Salaverría, ao "desenvolvimento lento" e desigual da sociedade da informação. Por exemplo, em países da América Central e em áreas montanhosas e de selva da América do Sul tem existido um avanço lento, ao contrário do que aconteceu nos grandes centros urbanos de alguns países onde o acesso à conectividade tem sempre sido maior. No livro, o autor cita a este respeito que Brasil, Espanha, México, Argentina e Colômbia concentraram desde o início a maioria dos usuários da Internet na região.

Nesse sentido, são recentes os esforços de uma estratégia Ibero-americana de atrair usuários, relata o texto, como dos jornais espanhóis El PaisEl MundoMarca; a empresa de notícias venezuelana teleSUR; e o portal chileno de jornalismo investigativo e de dados Poderopedia, que desde 2014 também atua na Colômbia e Venezuela.

Quanto à evolução do perfil do jornalista digital nestes primeiros 20 anos de jornalismo online, o pesquisador espanhol respondeu ao Centro Knight que, embora inicialmente este tipo de perfil era muito explorado, os jornalistas graduados desde então [1994- 1995] mostram uma consolidação e maturidade profissional como jornalistas digitais.

"Tudo indica que a diversificação do perfil de cyber-jornalista vai se tornar ainda mais acentuada nos próximos anos e continuar a mudar. Um aspecto que irá gerar uma maior diversificação está relacionada com dispositivos móveis", disse Salaverría. Ele acrescentou que, embora existam perfis que 10 ou 15 anos atrás não existiam, como editores de mídia social, responsáveis ​​por visualização, entre outros, ainda não há jornalistas especializados na criação de informação para dispositivos móveis.

A respeito do jornalismo digital e sua relação com a liberdade de expressão, Salaverría disse que os meios digitais - por seu formato e seu baixo custo - tem aberto espaços no jornalismo alternativo, enriquecendo no geral a paisagem da informação na América Latina, que anteriormente estava nas mãos de empresas de mídia de oligopólios. Ele citou como exemplo dessa transcendência e impacto nacional e internacional o blog da jornalista Yoani Sanchez em Cuba, o Geração Y.

Também em seu livro, ele destaca o papel da "mídia on-line" como contrapeso à censura em muitos países Ibero-americanos, chamando a internet de "melhor aliada da liberdade de expressão".

Sobre se a mídia tradicional vai desaparecer no futuro próximo, Salaverría respondeu: "Eu vou morrer sem ver o jornal impresso desaparecer, mas não vou morrer em breve."

Os jornais impressos e mídia tradicional, especialmente na América Latina, continuarão a ter hegemonia publicitária e editorial, como criadores de opinião pública, para cerca de mais cinco anos, acrescentou.

No entanto, a mídia tradicional, o autor conclui, "vai seguir o caminho dos meios de comunicação dos países ocidentais desenvolvidos, que nesse sentido estão em declínio, pois a criação de opinião nesses países já passou para o domínio do ciberespaço."

É possível baixar gratuitamente a versão digital do livro Ciberperiodismo en Iberoamérica, Salaverría, R. (ed) (2016), a Editorial Ariel e Fundación Telefónica, clicando aqui.

Nota da redação: Rosental Calmon Alves, diretor e fundador do Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, escreveu o prólogo do livro.

Nota do editor: Essa história foi publicada originalmente no blog de jornalismo nas Américas do Centro Knight, o predecessor do LatAm Journalism Review.

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