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Diversidade racial e étnica no jornalismo: maior representatividade atrai mais leitores, dizem palestrantes em conferência do Centro Knight

A criação da editoria de diversidade do jornal brasileiro Folha de S.Paulo, se deu por uma decisão de negócio: preocupada com a queda no índice de leitoras, a direção decidiu criar o cargo na redação para incluir uma perspectiva mais diversa nas suas páginas.

“Havia uma diminuição do percentual de mulheres entre seus leitores então se entendeu que a busca por um público mais diversificado era urgente,” disse a jornalista brasileira Paula Cesarino Costa, primeira editora de diversidade da Folha, durante aPrimeira Conferência Latino-americana sobre Diversidade no Jornalismo.

A conferência, organizada pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas com apoio do Google News Initiative, ocorreu virtualmente nos dias 26 e 27 de março de 2021.

Apesar da motivação inicial da criação da função, ela passou a cuidar de diversidade de forma ampla no jornal, incluindo raça. Num censo interno, o jornal identificou 13% de jornalistas que se declaram negros ou pardos e adotou medidas para alcançar um índice mais próximo da realidade demográfica do país. Cesarino disse que para isso, o jornal vem discutindo internamente os processos de contratação e lançou um programa de trainees exclusivamente para jornalistas negros.

“Quase dois anos depois, pode-se dizer que houve um aumento das vozes negras no jornal, seja como colunistas, como fontes, como entrevistados e como personagens de reportagens. Mas os índices ainda são muito, muito, muito, muito, muito pequenos,” disse a jornalista, que participou do painel sobre questões étnicas e raciais.

Painel sobre diversidade racial e étnica reuniu os jornalistas Paula Cesarino Costa (Brasil), María Teresa Juárez (México) e Pedro Cayuqueo (Chile), com mediação de Marco Avilés (Peru).

Painel sobre diversidade racial e étnica reuniu os jornalistas Paula Cesarino Costa (Brasil), María Teresa Juárez (México) e Pedro Cayuqueo (Chile), com mediação de Marco Avilés (Peru).

 

A representação no jornalismo é um dos principais temas que aparece quando o assunto é diversidade racial, segundo o jornalista e escritor peruano Marco Avilés, que mediou o painel. Ele é colaborador do Washington Post e Ojo Público e ministrou ocurso Diversidade nas notícias e redações na plataforma Journalism Courses do Centro Knight.

“Quando você liga a televisão para assistir ao noticiário de países como o Peru, por exemplo, você vê os apresentadores de televisão e se pergunta o que está acontecendo aqui." disse Avilés. “Porque quando você desliga a televisão e vai para as ruas, o Peru é um país superdiverso e não multiétnico e de repente você liga a televisão para ouvir o noticiário e a maioria é branca."

Para contornar a falta de representação nos meios tradicionais, veículos digitais novos voltados para a temática racial e étnica se multiplicam na América Latina. No entanto, para o jornalista mapuche Pedro Cayuqueo, embora válidas essas alternativas estão presas numa armadilha que é falar para um público restrito, normalmente pertencente às minorias ora retratadas.

“Percebemos que não podemos apenas fazer a comunicação para nós mesmos. Temos que fazer comunicação para toda a sociedade,” disse ele durante o painel. Os mapuche são um povo que vive no Cone Sul, presentes também na Argentina, além do Chile.

Cayuqueo criou o jornal Mapuche Times, que circulou no Chile e na Argentina na primeira metade da última década, voltado “para toda a população que não era indígena também pudesse nos ler. (…) Este jornal atendeu a todos os requisitos de qualquer mídia tradicional. Um jornal com editorias de notícias atuais, esportes, mas de uma perspectiva indígena,” disse o jornalista.

Já a jornalista mexicana María Teresa Juárez, criadora e chefe da área de formação e inovação de Periodistas de a Pie, acredita que o jornalismo atual está num momento ideal para impulsionar a transformação das sociedades latino-americanas em direção a uma maior representatividade racial e étnica.

“O jornalismo do século 21, além de se aproximar de todas as ferramentas de visualização de bancos de dados para buscar algumas novas, também encontra um momento ideal para rever suas próprias práticas as narrativas que reproduziu," disse a jornalista durante o painel.

"O jornalismo tem um papel muito importante, que é dizer. O jornalismo e a comunicação trabalham com a matéria-prima da linguagem, que é a palavra, a voz, as imagens,” disse Juárez “À medida que nos aproximamos da configuração das linguagens, também as estamos obtendo, temos a possibilidade de transformá-las.”